27.2.04



Fim de noite sem mulher. Boteco vagabundo, um vira-lata, um mendigo, uma garçonete velha e gorda, dois peitões absurdos. Uísque nacional; cigarro. Por 5 reais, fodo as tetas da vaca e ganho uma chupada. Enquando vejo minha porra em seus cílios postiços e cabelos mal lavados, tento imaginar quem levou a melhor nessa.

Brock e Bullar

Aguardo esclarecimento sobre a página da internet com que me deparei esta manhã: anúncio de venda do CD "Matéria Prima" na loja virtual de um selo fonográfico brasileiro. O disco foi composto e gravado pela patota que, nos idos de 1998, circulava pelo então recém-inaugurado (e, segundo informes recentes, hoje inativo) estúdio da Faculdade de Comunicação da Universidade Federal da Bahia. Aqueles experimentos sonoros - com que procurávamos compreender e praticar alguns dos padrões estéticos acionados na produção musical veiculada pela mídia de massa pré-Napster - deram numa coletânea heterogênea, com protótipos de funk, rock, MPB e pop (além do porventura primeiro trip hop gravado na Bahia, Derange). Lançado em Salvador no ano 2000 (com tiragem de 1.000 cópias), o CD não repercutiu fora do eixo Ondina-Rio Vermelho e foi prontamente esquecido pelo século, emergindo agora do limbo, inesperada e inexplicavelmente. "Matéria Prima" custa R$ 9,90 no site, mas não incentivo compras enquanto não souber para quem está indo o dinheiro dos direitos autorais.

(wc)
Rascunho de samba-enredo para um Carnaval no Rio de Janeiro

Copacabana é azul;
Ipanema, verde;

do Arpoador ao Leme,
do posto 6 ao posto 1,
uma ampla avenida atlântica
da areia se ergue ante-oceânica,

barreira contra as águas levantada,
cidade-balneário de prédios na selva,
simbiontes de morro e mar,
manhattanizados bairro e praia,

provida em inglês por alto-falantes,
tráfego aéreo contínuo,
eterno loop de ondas
e edifício multi-humano
sobre o calçadão preto e branco;

do extremo de Duque Caxias
à oposta Ponta da Igreja,
nome de santa peruana,
trazida aonde fica hoje o Forte,
se alastra pela área em torno,

toda ela "princesinha",
majestosa e mendicante,
paralela à "Nossa Senhora",
transversal a ancestrais,

turistas e travestis,
ao modo de samba-enredo.

Wladimir Cazé

22.2.04

Descemos a serra como ondas de ar poluído, a via dutra salpicada de movimento eterno. Carretas de dois vagões, ônibus e carros de passeio cruzando o altiplano até o nível do mar. Assim que chegamos à rodoviária pobre, carros alegóricos impediram nossa passagem. Não há fuga da folia neste lugar hedonista.

Sobre ruas largas e quentes, com a umidade juntando no pescoço e pingando em grossas ondas de SUOR. Estamos aqui há pouco mais de 24 horas e sentimos que brilhamos como a cidade. Morros ígneos e estrangeiros brancos se misturam, caldo de prédio e praia, creme bronzeador e malandragem. Como na cidade clara onde moro, existe aquela indolência típica do mundo tropical.

Al Nite Lang

20.2.04

VISITE A PIRA
de Al Nite Lang

http://apira.cjb.net

De nome de remédio que o Ministério da Saúde oferece a brasileiros convalescentes, "Pirazidamida" passou a refrão-chiclete expectorado em sessões de lombra-music no apartamento do Acesso Norte que WC ocupava em sua fase mangue-beatnik, revelando-se posteriormente as propriedades derretedoras de cérebro da pseudo-canção, nunca desenvolvida além do limiar do rascunho, mas fenômeno de permanência na memória coletiva, a despeito das indigentes melodia e letra:

- "acordei
no meu aniversário
na ressaca
gastei o meu salário
numa festa
que tinha gente boa-a-a-a
e tinha otá-a-a-a-rio
a-a-a
que ressaaaaca-a-a-a-a...
".

Às vezes, é ouvida nos corredores do aeroporto mais movimentado da metade sul do continente. E forte candidata a sucesso deste Carnaval, nas areias de "Sacopenapã".

Casa das Máquinas
próspero cômodo cortiça
induz a nostalgia
estudante enamorado
de mulher estatural,

carregado por ela a círculos concêntricos, parede curva de vidro, colunas sustendo canteiros de arbustos, fileiras de cedros, mesas de tampo maciço de escuro lenho escavado a lâmina rupestre,

envolto em seu hálito e alimentado pela culinária e animado pelo ritmo, empurrado até o deserto, a serra de aço cromado, as pistas de asfalto,

(wc)

19.2.04

trem


Vastos canais arteriais, hemácias explodem de oxigênio e ferro. A minha mão sua, um corte se abre na magra palma. É um cenário vasto e familiar, com ruas, carros, prédios e pessoas, mas todos são um pouco transparentes. Posso enxergar seus corações batendo, seus pulmões exalando, a linfa porosa. Linfócitos.

Os prédios também ostentam a mesma propriedade translúcida dos seres vivos. Compartimentos inteiros de pessoas se arrastando em suas vidas sem sentido. Um homem solitário caga encolhido, uma mulher amamenta e diversas pessoas assistem televisão. Do outro lado, um hospital brilhante.

As vigas e paredes reforçadas não impedem que eu enxergue a pureza clara das paredes do hospital. Do necrotério à sala de cirurgia, tudo vejo e meus olhos até se enchem de lágrimas. Penso na curva da natalidade, não sinto mais meus pés, estou deitado no concreto olhando para o céu. Sob as nuvens, o cu de Deus paira imponente.

Al Nite Lang
FUEL FOR LOVE



A QUEDA DE RAIMUNDÃO

Chega ao fim o reinado do traficante mais paloso
de Salvador. De eminência parda a manchete da Globo.




abro os olhos. uma turba me cerca, ávida. tenho pouco tempo: agarro minhas bolas, chacoalho uns pentelhos para fora e levanto. Uma mulher ariana, de olhos claros e pele de seda branca, me encara como se eu fosse um verme inútil e sem valor. Retribuou o olhar com a cara de cão perdido mais doce que já existiu, e assisto a ela baixar os olhos e tentar me ignorar.

Esse é o meu sonho, quando acordo para uma manhã de sangue, paranoia e soft drugs. A Kulshedra perambula pela casa, inquieta, à espera do bote. O Homem-Gabiru labuta no terminal. Tudo parece calmo por alguns minutos, dona Maria fez a barra da minha calça, custou apenas R$ 5, a meio caminho do trolebus e da fumaça nojenta que insiste em grudar nas minhas narinas.

Com um pouco de sorte, não passarei mais uma noite sozinho. Sou um vira lata numa cidade arrogante, cheia de imigrantes tão confusos como eu. Black Flowers Blossom.

Al Nite Lang

De: "Caco Belmonte"
Para: palavrascruzadas2003@yahoo.com.br
Assunto: Pô
Data: Wed, 18 Feb 2004 16:33:55 -0300

Bah!
Não posso interagir lá no Blog.
Voltarei mesmo assim, sem cruzar nada.

18.2.04

bolacha é a senha deste blog.
mandei logo tirar aquele post de maconheiro que botaram aqui


16.2.04

prefácio ao livro de contos ovo escocês, de benvenutti:

_____________----___________----________---__---_--_-----_-------
HORIZONTAIS

PLACAR da Final da Copa de 30, Uruguai x Argentina. (11 letras)

VERTICAIS

SEGUNDO TIME nacional a ser organizado depois da Inglaterra. (7 letras)

13.2.04

Comi uma pimenta bem vermelha, sentado na varanda. Agora vou comer uma feijoada. Os cereais bem cozidos, ensopados pelo sumo das carnes, me lembram dias calmos em qualquer outro lugar.

Al Nite Lang
Sonhos estranhos onde pessoas tentavam me destruir. Uma mulher se insinuou, preciso de uma bermuda, uma calça e preservativos lubrificados.
A vida é um peito de peru. "Talvez em movimento eu entenda a velocidade da minha geração. Ou a minha própria".

By Al Nite Lang
Cedendo ao apelo popular, está revogado o decreto despótico que tinha fechado o acesso dos leitores deste blog à publicação de textos, ficando desde agora franqueada a "livre expressão de colaboradores". Que comece a entropia.

12.2.04

n.u.n.t.i.u.s resenha o movimento:

- "ae meninos e meninas. como vcs estao hoje? | boa noite. boa companhia. james jean + digital thunder tr4shb0x tocando guns? [bullar override system] >>> sequencia :: NOITE FUNK NO FUNHOUSE :: icones indies: bukowski sorri gordo mamado na cana por traz do careca com o rosto tatuado, cartazes vermelhos no jogo do diabo vermelho com mulheres de coxas grandes [cristao d+] | [n.u.n.t.i.u.s to aoristo]> eh isso ou vc aterrissa na terra com o forro da normandia. e como eh mesmo o nome da musica, hermano? | [n.u.n.t.i.u.s to bel]> esses djs de sao paulo nao tem feeling. dancam com suas proprias bundas e esquecem a pista + tudo tem salvacao. outro dia vi uma dj mixando metal na ampgalaxy. demoro... | [backspin time] : ))))))) melhor da noite [ego] [aoristo]> eh q nem esse homossexualismo teorico de paolo... | foi divertido ^_^ brigado a todos pelas presencas. voltei pensando: nao importa o lugar. nos [vcs] somos o underground! [s] e *s h4ck3r !5 n0t d34d [remix brain][logout]"
O encontro do núcleo-duro com o Antropólogo não aconteceu:

a) no maldito BH, o BH Lanches (no eixo estratégico dos cinemas Unibanco e puteiros da Rua Augusta), que reúne de indies, uspianos e cinéfilos a cachaceiros em geral, não tem nada de especial e por algum motivo virou sítio folclórico soteropaulistano. "bh é um lixo, mas, boteco por boteco, bh é o melhor" (a Kulshedra dixit);

b) no Ponto Chic, "do cara que criou o bauru", que tem em vários lugares da cidade;

c) no Frevo (Rua Augusta), lugar tranquilo e com um bom chopp (não tão barato, mas acessível) para bater papo e "ótimas opções de petiscos" (Fadinha);

d) no Sarajevo (Rua Augusta) - "ai, ai, não me matem", Fadinha;

e) no Le Tartine (Consolação), onde "a galera da usp vai muito" (Fadinha);

f) no tradicionalíssimo Bar do Leo;

h) no Balcão (Rua Melo Alves, Jardim Paulista);

mas no:

i) bar fuleiro da Rua da Consolação, quase em frente ao cine Belas Artes, mas do outro lado da pista, ao lado de uma sauna de R$20 e frequentado por tipos submundo.

9.2.04

[Madrugada, a Kulshedra se infiltra no sistema e cospe: -]


like the ragged boy who races with the wind

```______________-_________-______

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[Eita, Kulshedra repulsiva!]
"O menino acordou e saiu de casa. Ainda era madrugada, quatro horas. Muitas estrelas no céu, menino observa. De longe, parecem todas prateadas, mas, subindo no banco da calçada e observando melhor, mais de perto, menino nota que tonalidades divergem: esverdeadas, encarnadas, amarelas e azuis. Menino ri, pega uma das amarelas e segue seu caminho. Amanhece. Menino toma um ônibus e vai pro interior da nação. Estrada, montanhas e fazendas. Quando chega, vai logo na cerca de arame farpado e chama a vaca. Vaca vem, mas devagar. Menino é paciente, espera mascando fumo. Vaca chega e ele vai logo botando a estrela no nariz dela. Vaca feliz. Estrela brilha, amarela, e gira no nariz da vaca."

(Paulo Bullar em nova investigação zoofantástica)

7.2.04

Doravante na sala de jogos, baixando MP3:

“ ‡ ─ ─ ── ── │

│ │

││││ ││││ │ │
││││ │ │

││││!...”,

virada de bateria:

“ ‡ ─ ─ ── ──

││││

││││ │ │...”,

juntos agora cantamos o hino:

- “ ¥ hahaa haha hahaaa... ... ...

── ── ── ── │ │ │ ││ │ │

│ ═


═ ═ ═ ═ ═ ╝
═ ═ ═ ═ ╝ ═ ═ ═ ═ ╝ ═ ═ ── a!...”

6.2.04

Decerto cuidando em não ficar de fora dos festejos de entrudo, Pedro Cazé dos Santos Santana, primogênito de Gina e Alan, antecipou-se em 22 dias ao prazo estipulado pelo obstetra e chegou ao mundo, ótimo de saúde, na terça-feira, 3 de fevereiro. Welcome "to this great stage of fools", garoto. Tivesse aqui comigo o disco, emprestado a uma amiga de Salvador, dedicaria a ti audição em júbilo da fantasia para piano e orquestra "Momoprecoce" (1927), de Villa-Lobos, versão musical do carnaval das crianças brasileiras.

2.2.04

Notas de uma segunda-feira morfética:

1) O Conjugador do Aoristo é o novo acólito de Otakulândia. Instalou-se no Bixiga, de onde cava uma vaga na grande imprensa. E planeja se dedicar com mais afinco à ficção-científica: "Há muito tempo eu observo uma certa dissonância entre os temas e clima dos textos que escrevo e das coisas que leio. Gosto de experimentos formais, comentários sobre o mundo contemporâneo e coisas estranhas em geral. Enquanto isso, escrevo histórias pequenas e coisas íntimas. Nunca tinha me tocado que a FC – na tradição Orwelliana – pode conciliar os dois aspectos", escreveu em 25 de janeiro.

2) Eduf anuncia o fim da revista Radar Interativo, cuja quarta e última edição está nas bancas. Motivo: "a [editora] Escala (...) não dava condições mínimas de trabalho, eu tinha que fazer tudo sozinho", escreveu em 29 de janeiro. É vero: como o orçamento não permitia pagar aos colaboradores, o jiujitsu-ka de Pirituba assinava três em cada cinco textos da publicação e ainda cuidava da parte gráfica. Mantêm-se no ar os projetos Fraude.org (parceria com o Terra) e Gonzo (parceria com a AOL).