28.2.06

Preciso Me Encontrar

Deixe-me ir, preciso andar
Vou por aí a procurar
Rir pra não chorar

Quero assistir o sol nascer
Ver as águas dos rios correr
Ouvir os pássaros cantar
Eu quero nascer, quero viver
Deixe-me ir preciso andar
Vou por aí a procurar
Rir pra não chorar

Se alguém por mim perguntar
Diga que eu só vou voltar
Quando eu me encontrar

Quero assistir o sol nascer
Ver as águas do rio correr
Ouvir os pássaros cantar
Eu quero nascer, quero viver
Deixe-me ir preciso andar
Vou por aí a procurar
Rir pra não chorar

27.2.06

Os erês do Pelourinho

por LORDE BYRON

Há uma energia ancestral nas pedras do calçamento no Pelourinho, e para renová-la, centenas de pés infantis correm pelas vielas, como Erês, apagando o sofrimento dos escravos. Achamos a vaga no vasto estacionamento e logo estamos cercados por famílias inteiras; há sangue e sonho; cabeleireiros preparam penteados afro e turistas caminham assustados no início da noite de marchinhas hipnóticas, de sopro e tambor. Sinto um gosto de cravinho. Tiro os sapatos e piso no chão, com os olhos voltados para o céu e a iluminação fraca das lâmpadas de tungstênio.

A jovem família está fantasiada de Os Incríveis e reclama com o filho inquieto. Tomam cerveja. Comem amendoim. Assistem às bandas de marchinhas. A banda 171 logo se aproxima, com camisa de presidiário listrada. Mais à frente, uma mulher solitária assiste ao show do marido - sax e um teclado com programação de bateria, em meio ao restaurante de luxo onde turistas engolem vorazmente frutos do mar e carne do sol. O mesmo show, há 12 anos, “Yesterday”.

Numa esquina, surge um bloco de orientais – tailandeses de pele morena; chineses de rosto achatado; japoneses muito brancos; coreanos de faces redondas. Eles tocam fora do compasso e arrastam uma multidão, como um pelotão de dançarinas exóticas e vendedores de tênis falsificados. Hippies de miçangas, encostados no muro da Faculdade de Medicina, vêm pedir cigarros, ávidos. Robson Andrade tem 31 anos e veio de Olinda. Despreza o carnaval do Pelourinho.
- Aqui não é carnaval. Acaba às 2 horas da manhã! – diz. Aí reclama da violência na Barra e pede mais um cigarro, puxando os “d” e os “t”.

Em outra esquina, Edna e Natan tentam vender uma fantasia do bloco Filhos de Gandhy, a R$ 220. Ela está grávida. Natan está entediado. Ao seu lado, pelo quarto ano seguido, Solange ajusta os turbantes dos Gandhys a R$ 5 ou 7. Depende do cliente, como tudo por aqui. As lojas de artesanato estão todas abertas. Com paciência bovina, a vendedora nem pisca os olhos enquanto assiste ao movimento noturno. É noite. Durante o dia, as ruas estavam mais sufocadas. Mostra-me as fotos da artesã com estrangeiros, que parecem admirados com seus tapetes de piaçava – troféus instantâneos para referenciar sua arte.

Na mesa de mogno, o capitão Edílson Santana assina o livro de ocorrências com calma, desenhando as letras, enquanto sorri e responde às minhas perguntas. Nada está acontecendo e tudo está tranqüilo. O tempo segue numa velocidade transitória de festejos carnavalescos - o movimento não parece que chegou ao auge e já vai diminuindo. São 10h30 da noite. Na entrada do estacionamento, um cortejo de baianas cibernéticas prepara-se para sair.
- É o bloco da Eterna Juventude - explica Edivete Góes Bonfim, 63 anos, bordadeira.
- Não, é o bloco do Lixo ao Luxo, de Joaquim Assis - corrige Joselita Patrocínio, que faz 70 anos no mês e usa um feito com embalagens de Nescau, bem colado no corpo. “Aqui somos todos iguais. Tem quem pega no lápis, tem quem pega na roupa para lavar. Profissão aqui não importa”. Depois dessa declaração, qualquer coisa parece mais humana do que registrar os fatos com precisão objetiva. Voltando pela Baixa dos Sapateiros, sinto o gosto do sangue.

26.2.06

Sex Pistols esnobam Hall da Fama do Rock nos EUA


Banda diz que instituição americana é como 'urina no vinho'
A banda britânica de punk rock Sex Pistols rejeitaram uma proposta para que seja incluída no Hall da Hama do Rock and Roll nos Estados Unidos.
Numa nota escrita à mão e publicada no website do grupo, eles afirmam que o Hall da Fama americano é como "urina no vinho".

"Não somos seus macacos, não viremos (na festa de adesão). Vocês não estão prestando atenção", afirma o comunicado.

Os responsáveis pelo Hall da Fama pretendiam introduzir o Sex Pistols aos listados no museu numa cerimônia em Nova York no dia 13 de março.

"Eles estão sendo os punks ultrajantes que são, e isso é rock'n'roll", disse a diretora-executiva da fundação que administra o Hall da Fama, Susan Evans.

O vocalista dos Pistols Johnny Rotten já definiu no passado a instituição do Hall da Fama como "um lugar onde velhos roqueiros vão para morrer", apelidando o local de "Rock and Roll Hall of Shame" (o Hall da Vergonha do Rock).

BBC

21.2.06

direto de 1998

Na flor da juventude e pregando a desconstrução da gramática. Al nite Lang.

Os novos totens de elétrons

A cada instante que passava, eu ficava cansado. Era como se nos obrigassem
a ver tanto quanto nossas mentes absorvessem. Naturalmente isso até levava
alguns indivíduos a loucura.

Felizmente, tudo isso era moldado de forma a ser aceitável ao ponto de um
conformismo incondicional. Eu caminho apático, e recebo toda essa carga
avassaladora. É o preço de se morar em um aglomerado onde milhões de outros
humanos se espremem, também. E enquanto caminhava, procurava discernir a
beleza borrada de um entre quinze edifícios. Os rios brilhantes de gás, aço
e plástico são infinitamente mais claros do que qualquer coisa que eu possa
ver, e isso me entristece. Por quê ninguém reclama desses rios, só eu?

Todas as centenas escondidas dentro dos prédios borrados seguem tranqüilas,
por que sempre haverá emprego e estabilidade, e mais ilusões, piores.
Gostaria de assistir a um rio brilhante morrer, apagar-se e não mais ofuscar
o ambiente. Mas ao mesmo tempo eu aprecio e até glorifico aos rios, mesmo
estando ciente da solidão habitando os pequenos receptáculos. Glorifico a
velocidade, a força poderosa das correntes que navegam nesses rios
ofuscantes. A força do dinheiro, da indústria, e da vida doentia de tantos,
assim como a minha.

É tudo assim, igual e veloz. Não existe mais um bucolismo padrão. O
bucolismo se encontra onde ele atacar. Velocidade, os rios, os totens,
todos eles assumem seus papéis na imagem que arde e cola nas minhas retinas,
ficando ali impressa, forjada. Ouço os gritos alegres e infelizes dos
outros caminhando, mas fui ensinado a ignora-los até onde for possível, em
favor de um outdoor brilhante, ou de um anúncio de biquíni. Mas estou tão
acostumado que isso já não faz parte do universo que é só meu, e é tão
único, mesmo quando tentam padroniza-lo, afoga-lo em um mar de bens de
consumismo. Outro dia alguém me disse que partiria em uma busca espiritual.
Dei-lhe minha benção e sacrifiquei uma formiga em sua homenagem. De quê
adianta?

Gostaria de que as pessoas percebessem o quanto estão submersas em uma
galáxia feita de cores, pessoas, dinheiro, produtos e linguagens de
elétrons. Mas se elas descobrissem tal coisa, não seriam elas apenas mais
infelizes?

Os rios brilhantes conduzem muita coisa de um lugar ao outro, especialmente
pessoas. É toda uma gigantesca massa biológica se movimentando ao mesmo
tempo. Todo dia é assim. Mesmo quando as biomassas morrem e tem de ser
descartadas. Mas sempre existirão mais rios e mais pessoas, até o dia em
que só existirão rios, e cartazes publicitários, e pessoas. E as idéias do
homem estarão a tal ponto domesticadas que servirão apenas para concretizar
a servidão de comprar, e comprar mais.

Se uma dessas biomassas sobreviver ao dia, ela chegará ao seu domicílio e
desfrutará de todos os produtos adquiridos com o dinheiro que tanto
esmerou-se para conseguir. Enquanto se alimenta, receberá em sua poltrona
todo o treinamento necessário para seguir rumo a mais um dia, através de um
monitor de elétrons. Tudo acompanhado de imagens belas e narcotizantes,
assim como mensagens tão inocentes quanto subliminares. Chega o fim da
linha: escolher paixão conformista, celas minúsculas de dois quartos
reversíveis para três, quatro paredes brancas e no teto uma lâmpada de 220
watts.

19.2.06

Qeria escrever "REDUCIONISMO". Saiu "REDUCINISMO". Saiu melhor que a encomenda!

17.2.06

DITADOS QUE QUEREM DIZER A MESMA COISA

Igualdade, liberdade e fraternidade.

Tradição, Família e Propriedade.

Sexo, Drogas e Rock'n Roll.


REDUCIONISMO, REDUCINISMO, REDUCIONISMO.

Senador
DE EXTREMA IMPORTÂNCIA

A maior palavra da língua portuguesa não é anticonstitucionalissimamente, como durante muito tempo se falou, mas pneumoultramicroscopicossilico-vulvcanoconiotico, com 46 letras., que significa estado de que é acometido de uma doença rara provocada pela aspiração de cinzas vulcânicas.

16.2.06



"Sem Essa Aranha", de Rogério Sganzerla e montagem de Rogério Sganzerla e Júlio Bressane (1970, 35mm, 102 min, 18 anos)
CCBB São Paulo
16 de fevereiro, às 20h


"Antinaturalista e anti-realista por definição, o seu cinema somente poderia ser povoado por personagens desprovidos de construções psicológicas ou sociológicas. Os personagens sganzerlianos vivem fundamentalmente o instante, o exato e preciso momento de suas articulações, não existindo portanto antecedência ou projeções futuras . O presente é único e é depositado em Sem Essa Aranha na unidade espacial e temporal do plano-seqüência . As ações dos personagens, assim como o seu desenvolvimento dramático, começam e acabam em um único plano e não apresentam continuidade no seguinte. Os planos-seqüência formam blocos narrativos independentes e isolados que não interagem entre si. A não-existência da intriga faz com que os personagens não obedeçam a nenhum senso de progressão psicológica, condensando-se em tipos, em personagens facilmente identificados por seus trejeitos característicos ou por seus bordões. Sabemos que a tipificação de personagens é oriunda de uma longeva tradição teatral. Porém, a tipificação efetivada por Sganzerla está intimamente conectada às histórias em quadrinhos e aos programas humorísticos."

Estevão Garcia, site Contracampo

7.2.06

Só os destros são destros? Qual a destreza de um canhoto?

PS - "Cartola não existe. Foi um sonho que tivemos."

Senador
"When you have eliminated the impossible, whatever remains, however improbable, must be the truth"
sherlock holmes