24.12.08

Haiku drogatito

Drogaditas quando fumam, se esparralham pelo chão.
A carlinha quando fuma pira logo o cabeção.
Eu sou drogadita fumo logo um morrão,
Carrego um "ê" no bolso, e uma sálvia em cada mão.

By Mauricio Lombreira
Biografia: Nascido em Nova Deli, de pai filandês e mãe norueguesa, Lombreira se erradicou na Bahia, onde teve a oportunidade de abrir a sua mente. Com a cabeça feita passou a estudar química e botânica. Atualmente anda em uma fase mais religiosa, pregando as palavras de Jah e praticando o xamanismo para encontrar a luz (azul, vermelha, verde...) e se comunicar com o mundo extraterreno (duendes, gnomos...)

Gloomy sunday

(Tradução e adaptação de Sam Lewis sobre a canção húngara escrita por László Jávor e musicada pelo compositor Reszó Seress em 1933. Essa versão foi gravada por Billie Holiday em 1941)



Sunday is gloomy, my hours are slumberless
Dearest the shadows I live with are numberless
Little white flowers will never awaken you
Not where the black coach of sorrow has taken you
Angels have no thought of ever returning you
Would they be angry if I thought of joining you?

Gloomy is Sunday, with shadows I spend it all
My heart and I have decided to end it all
Soon there'll be candles and prayers that are sad I know
Let them not weep let them know that I'm glad to go
Death is no dream for in death
I'm caressing you
With the last breath of my soul
I'll be blessing you

Dreaming, I was only dreaming
I wake and I find you asleep in the deep of my heart, here
Darling, I hope that my dream never haunted you
My heart is telling you how much I wanted you

23.12.08

Alguns dos melhores livros de 2008

Inspirado por um artigo do site Cronópios resolvi preparar também a minha lista dos melhores livros de 2008. Pra mim, pelo menos:

Curso de Literatura Inglesa, Jorge Luis Borges (Editora Martins Fontes)
Passei os últimos quinze dias conversando com Borges. A sala de aula era o metrô de Nova York. Falamos sobre Coleridge, Blake, sagas vikings, guerras medievais, traições, a formação do inglês moderno. Depois de tanto tempo, já me parece que Borges é um velho companheiro, um professor brilhante. Este curso é ouro puro. Ensina sobre alguns dos autores e textos essenciais da literatura inglesa, sem se deter no peso de Shakespeare, ao sabor das preferências pessoais de Borges, durante 25 aulas ministradas em 1966 na Universidade de Buenos Aires. Os camaradas tiveram trabalho para checar todas as referências do bibliotecário de Babel. Surpreendentemente, no que cita, Borges nunca erra. No máximo emprega subterfúgios naturais, mas nunca se entrega. Se a literatura de língua inglesa de 800 a 1900 te interessa, va à caça. Comprei na velha Civilização Brasileira do Shopping Iguatemi, em Salvador

The Fifties, de Douglas T. Miller e Marion Novak (Doubleday & Company, New York, 1977) Agora mesmo vai estrear no cinema o novo filme de Sam Mendes, "Revolutionary Road", uma denúncia ao conformismo suburbano dos EUA. Este livro de 1977 critica a relativa nostalgia com os anos 50 vigente na época, e cria uma historiografia de uma década fundamental na formação da cultura americana contemporânea. E, sob certa medida, de acontecimentos que interferiram na vida de muita gente, como a histeria anti-comunista. Mais ou menos como um "textbook" escolar de esquerda. As informações são riquíssimas para o estudioso da verborragia ianque. O tom revisionista pode amolar um pouco, especialmente quando se cria o retrato da dona de casa oprimida na estéril vida suburbana e se ignora que sempre há saída, ainda mais numa sociedade afluente, embora ainda separada. A segregação racial nos EUA começava a rachar, seja pela penetração da música negra no gosto popular, ou pelos conflitos constitucionais das leis que mantinham as raças "separadas mais iguais". E, finalmente, uma crítica decente de "Apanhador no Campo de Centeio", livro que causou uma sensação na época. Miller e Novak consideram o existencialismo de J.D. Salinger alienado, e o comparam a outro livro dos anos 50, "Homem Invisível", de Ralph Ellison. "A hibernação é uma preparação secreta para a ação aberta", diz o protagonista negro, após sua odisséia pelo racismo. De fato, nos anos 60 a revolta explodiu, acelerando a transferência dos brancos para os subúrbios, de volta para a segregação, enquanto os centros das cidades eram ocupados pelos negros e decaíam financeiramente. Dá pano pra manga. Nesse livro descobri que "rock and roll" era gíria do gueto e significa "dançar e transar". E "Invisible Man" é muito mais porradão que os "phonies" de Salinger.

Story of O, Pauline Réage (Ballantine Books, translation by Sabine d'Estrée) O mérito da História de O é muito mais do que te deixar com uma ereção constante durante uma semana (tempo que demorou para ler o fino volume). A própria história convoluta da publicação é mais uma camada de sentido deste clássico do erotismo, um sucesso de vendas mundial. Escrito por uma tímida editora literária de Paris (que só se revelou pouco antes de sua morte no início do milênio) para seu amante, um galã das letras francesas, é uma declaração de submissão total ao amor. A heroína enfrenta luxuriantes torturas e humilhações do namorado e seus amigos mas sente secreto prazer em sua condição. O argumento é o amor pelo namorado René, que depois é transferido para o sádico Sir Stephen numa masmorra nos arredores de Paris, o O (simplesmente) é possuída por vários homens, às vezes violentamente. Algumas feministas ficam horrorizadas, mas eu prefiro interpretar o livro mais subjetivamente, como uma denúncia do romantismo e uma apologia do sadomasoquismo, do prazer na dor. O livro chegou a ser proibido na França. Bom para ler com alguém.

15.12.08

Breathe thy name

She wept with pity and delight,
She blushed with love, and virgin-shame ;
And like the murmur of a dream,
I heard her breathe my name.

Love, by Samuel Taylor Coleridge (21 October 1772 – 25 July 1834)

14.12.08

Poetas mortos

Coleridge, Wordsworth, Boswell, Johnson
Poetas mortos ganham vida na memória de Borges
Transmitida a mim
Humildemente
Num livro da Martins Fontes.
Obrigado.

10.12.08

Uivando pra lua

Imerso no escuro útero
Da minha incubadora de angústias
Percebi a cegueira
Desse povo narcotizado
Com o brilho do sistema
Enquanto as mentes
Mais brilhantes
Da nova geração
Labutam na repartição

Olha a fedentina brutal
Desse carnaval
De espetacularização inócua
Sem o verdadeiro perigo
Uma arte falsa e confortável

Avisem às mentes luminares
E sua necessidade de competir
Que esqueceram das nossas chagas
Avisem que estou atento,
Mesmo que temeroso
Desse sonho tão ardoroso
De "veludo e pimenta"
De que tudo é possível

"I saw the best minds of my generation destroyed by
madness, starving hysterical naked,
dragging themselves through the negro streets at dawn
looking for an angry fix"
Allen Ginsberg

Windows, viagens, minha rua

Sou cliente da Microsoft há 12 anos e eles ainda não conseguiram consertar o Windows. Tinha um negócio chamado XP que até funcionava direitinho, mas fuderam tudo com o Vista. Será que alguém pode me explicar por que o IExplorer sempre dá uma travadinha? Tudo bem, os caras evoluíram um pouco. Raramente tenho que reiniciar o computador.

A partir do dia 26 de dezembro começa o mesmo trajeto imigratório reverso, em busca de oceanos mais quentes e luz tropical. Dessa vez seguiremos pelo famigerado Newark Liberty, em New Jersey. O vivente pode tentar pegar um ônibus ou torrar uma baba indo de táxi, mas o bom mesmo é seguir até a estação 34 Penn Station do metrô e pegar um trem da estatal NJ Transit que passa no aeroporto. Coisa de uns vinte minutos no máximo. Eu mesmo fiz muito esse trajeto, vindo de Jersey, nas primeiras semanas em que morei aqui no Tri-State - NJ, NY e Connecticut. O sistema até que funcionava bem, o problema era o preço. Eu tinha de pegar o ônibus gratuito do hotel até o aeroporto, comprar a passagem que custava uns 7 dólares e ir até a Penn Station de Newark (de confundir a cabeça de qualquer vivente). Descontada a falta de criatividade para nomear estações, ainda sobrava um tempinho no metrô de Jersey, o PATH.

Não consegui me livrar do PATH. Eu moro em Nova York, no Queens, e trabalho em outro estado, New Jersey. Existe todo um sistema de transporte coletivo que facilita consideravelmente o cotidiano de uma galera. Mas todo esse deslocamento é cansativo pra burro. Estou há dois anos nessa vida. Pra relaxar, portanto, vou passar em Salvador pra tomar uns drinques, graças às últimas milhas antes da Grande Recessão.




















Meu caminho de casa num dia normal.

Minha rua se chama Steinway por causa do célebre fabricante de pianos. Se caminhares uns dois km mais ou menos até o fim dela encontrará a fábrica. A região ao redor dela foi uma das primeiras vilas do Queens, juntamente com Astoria, nomeada assim em homenagem ao milionário John Jacob Astor, sujeito que nunca pisou por estas bandas mas reza a lenda podia enxergar a vila de sua mansão na Ilha de Manhattan. Hoje em dia a Steinway Street é um centro de comércio importante em Astoria.


Estação do metrô da Rua Steinway.

Naturalmente que a associação de comerciantes locais está preocupada com a crise de confiança do consumidor e resolveu adotar uma medida extraordinária para tentar movimentar as vendas: instalaram um alto-falante na esquina que toca Frank Sinatra e outros sons gordurosos de mafioso durante a maior parte do dia, logo em frente aos empresários dos espetinhos e sua fauna parasítica de pombos famintos.


Repare na quantidade de lojas no meu quarteirão.
Se gostasse de fazer compras, estaria no paraíso.


Alguns imóveis da minha rua já está em crise há um tempão, a despeito da pujança registrada cima pelo New York Times no início de 2007. Um exemplo dessa urbe decaída de braços dados com grandes redes varejistas é o Hibachi Grill do outro da rua, fechado desde que mudei, em fevereiro de 2007. Agora outras lojas mais fudidas fecharam ou "pegaram fogo".

Eu moro num prédio de dois andares em que funciona uma loja de roupas femininas chamada ENA. Quatro apartamentos, cada um de um tamanho diferente, dois virados para a Steinway e dois para o fundo, com uma quadra de basquete, um pequeno parque e as torres da cidade distante no horizonte. Dizem que a minha quadra se tornou uma espécie de shopping ao céu aberto mas eu não vejo nada disso, só escuto mesmo as sirenes dos bombeiros ou da polícia. Quando o papa Bento XVI veio a Nova York o helicóptero da polícia ficava voando em cima do meu prédio todo o dia às duas da manhã, a vigiar os árabes duas quadras ao norte.

O movimento na Steinway é intenso mas, como moro do outro lado, além da trilha sonora cotidiana dos serviços de emergência só ouço mesmo o barulho da gurizada xingando nas partidas de basquete. Ou então criança chorando, etc. Posso ver os fundos de outro prédio, cheio de carrinhos de comida abandonados. Uma família asiática mora no último andar. Durante o verão, eles se espremem numa pequena plataforma externa para jantar ao relento. Quando o clima começa a esfriar passamos a ouvir gritos abafados pelo gorgulhar do aquecedor, a mulher se enfureceu com alguma coisa. Tentei imaginar se eles também nos viam de vez em quando, se prestavam atenção quando gritamos casualmente nos dias de limpeza, se também fornecemos um cineminha pra quebrar o tédio. Quem sabe se abrirmos as cortinas na hora da transa o casal do outro lado pare de brigar e decida copular também.

O dono do meu prédio é um grego de uns 50 anos, mau hálito, calvo e de temperamento explosivo. Nos respeitamos e esta semana ele assinou uma carta para as autoridades americanas de imigração declarando que eu e minha mulher somos mesmo casados. Ultimamente ele parece estar feliz apenas em receber o aluguel. Como não há infestações no prédio, eu deixo passar o aspecto escabroso da escada.

Tem um bom amigo meu que gosta de chamar meu apartamento de bunker, porque não temos janelas para fora na sala, apenas para a saída de ar. Durante o inverno a sala vira um útero com wireless e ventilador bom pra ler, escrever, tomar café e pensar na vida. Ainda não cheguei a nenhuma conclusão.

5.12.08

Arenavírus

A Organização Mundial de Saúde está de olho:

On September 12 2008, Cecilia van Deventer, a safari booking agent living in Zambia, was flown to South Africa in critical condition. She died just two days later. By October 6 2008, three more people had died: the paramedic who accompanied Cecilia to South Africa, the nurse who cared for her in Intensive Care, and the cleaner who cleaned her hospital room after her death. A fifth patient, a nurse who cared for the infected paramedic, is receiving anti-viral treatment. In all cases, people infected were exposed to infected blood and/or body fluids.

A história é a seguinte. A cidadã acima, Cecilia, pegou a doença no Zâmbia e teve de ser transportada para a África do Sul em 12 de setembro (onde existem os melhores hospitais da área). Tratada numa clínica particular, morreu dois dias depois e contaminou cinco enfermeiros, dos quais três morreram. Os grandes laboratórios nacionais analisaram amostras e identificaram mais uma nada agradável criação de Deus. Seu parente mais próximo é o famigerado vírus sabiá, que andou tocando terror no Brasil. O vulgo do fascínora é febre hemorrágica.

A questão é que esses vírus são tão letais que não têm tempo de se espalhar. Quando soube da notícia fiz um muxoxo de "que pânico" mas o negócio é sério. Pergunte ao Darwin. Ou leia o que este cientista da Columbia University tem a dizer.