Um dos filmes assistidos nos EUA ultimamente se chama “Atividade Paranormal”. Produzido em 2007, conta a história de um casal que se muda para uma casa nos subúrbios de San Diego, na Califórnia, um dos estados que mais simbolizou o sonho americano de prosperidade material. A esposa se diz perseguida desde pequena por uma entidade e logo depois da mudança coisas estranham começam a acontecer. O marido faz pouco do terror dela, mas os dois acabam chamando um especialista em demônios para estudar a casa. Há um espírito maligno que se alimenta de energia negativa na casa, diz o homem. No estilo falso-documentário de “A Bruxa de Blair”, o filme custou apenas US$ 15.000 e já rendeu mais de US$ 60 milhões à Paramount, subsidiária do conglomerado americano Viacom, também dono da rede de televisão CBS.
Além da conveniente proximidade com o Halloween, festival de origem pagã em que os americanos tentam exorcizar seus inúmeros medos, o sucesso do filme parece ecoar também o trauma nacional da recente crise imobiliária. Estimulado por incentivos tributários para os interessados na compra da primeira casa própria, e também pela magnitude do declínio no próprio valor dos imóveis, o mercado imobiliário voltou a dar sinais de vida, com leve alta no valor médio das residências. Em vez de enfrentarem o terror em suas próprias casas, os americanos podem se dar ao luxo de ver seus medos refletidos metaforicamente no casal cujo sonho de prosperidade é transformado em pesadelo. Enquanto isso, já se avizinha uma nova crise, desta vez com os imóveis comerciais, muitos deles vitimados pelas falências de empresas e surgimento de shoppings fantasmagoricamente vazios.
Desde a Grande Depressão, nos anos 30, os americanos viveram um grande período de expansão econômica irregular, mas impressionante. Mesmo com as esporádicas recessões, o padrão de vida da população continua refletindo sua renda per capita de US$ 40.000, a sexta maior do mundo. Homens como Warren Buffett, o presidente do conglomerado Berkshire Hathaway, fizeram fortunas durante esse período. Para o americano médio, essa pujança se traduziu em fácil acesso a crédito, carros e casas espantosamente grandes e baixo desemprego.
Mas agora a situação mudou e o desemprego está perto de 10%. Se estudarem os efeitos negativos da globalização na economia americana, talvez os manifestantes que costumam inundar as ruas contra o imperialismo ianque aplaudissem seus efeitos niveladores sobre a economia mundial. Cada vez menos industrializados, os EUA cedem à China o papel de fábrica do mundo e se transformam numa economia predominantemente de serviços; nesse meio tempo, os salários foram pressionados pela concorrência em nível mundial, tornando difícil sobreviver com os empregos que antes permitiam um padrão de vida confortável. Os pais estão assistindo ao mundo em que cresceram desmoronar com o desemprego dos filhos recém-formados nas faculdades, que cobram preços exorbitantes mas não servem mais para garantir o emprego. Antes forte, a moeda nacional é corroída cada vez mais pela inflação.
Sessenta e quatro anos atrás, os EUA emergiram vitoriosos do maior conflito militar da humanidade. Na cidadezinha de Bretton Woods, no Estado de New Hampshire, ditaram o modelo econômico do pós-guerra. Desde então, o combalido dólar ainda reina absoluto. É a moeda número um dos mercados de câmbio de Mogadisu a Londres. O governo americano sabe disso e tem aproveitado o peso das verdinhas para operar em US$ 1,3 trilhão no vermelho e sem qualquer lastro físico desde os anos 70, quando Richard Nixon acabou com o padrão ouro. Diferentemente do império britânico, a “paz americana” usou o poder do capital, das ideias, das armas e principalmente da moeda para ficar por cima da carne seca.
No fim do século 19, se popularizavam no Reino Unido os romances de invasão, como Drácula (1897), do irlandês Bram Stoker, em que uma estrangeiro sinistro se dirige a Londres para sugar na fonte o sangue da civilização mais próspera de então. Esse e outros livros refletiam o temor dos britânicos de que se avizinhava a decadência de sua dominância. Cinquenta anos depois, com o império dissolvido e o país devastado pela Segunda Guerra, o Reino Unido teve que pedir um empréstimo camarada de US$ 45 bilhões da ex-colônia para se reconstruir. Só terminou de pagá-lo em 2006. Hoje em dia a China é que assumiu o papel dos EUA nessa equação – segundo o Departamento do Tesouro dos EUA, a República Popular da China é maior detentora de títulos do Tesouro, com US$ 800 bilhões em agosto. Até o Brasil está nessa brincadeira: é o sexto maior detentor de Treasuries no mundo, com US$ 137 bilhões.
Continuam as reuniões, mas diferentemente de Bretton Woods, não surgem soluções; no máximo algum líder mundial pede a fundação de uma nova ordem. Mas essa ordem ainda não apareceu em definitivo; o sistema de bancos centrais iniciado após a Grande Depressão parece ter freado o ímpeto devastador da crise. Talvez a solução surja de um camponês da China que abandona a fome do povoado e, tal qual retirante, vai buscar um emprego nas fábricas do litoral. Ou talvez de uma vila africana, como Wangari Maathai, queniana ganhadora do Nobel da Paz de 2004 que inspirou um movimento responsável por plantar mais de 20 milhões de árvores.
O total de reservas chinesas em Treasuries aumentou quase US$ 230 bilhões desde agosto do ano passado. Até agora no ano, a China já cresceu 7,7%. Na nota de 100 iuanes, Mao até parece sorrir.
Links em inglês:
Reino Unido quita dívida da Segunda Guerra com os EUA:
http://www.independent.co.uk/news/business/news/britain-pays-off-final-instalment-of-us-loan--after-61-years-430118.html
Maiores detentores de títulos do Tesouro, segundo dados do governo americano:
http://www.treas.gov/tic/mfh.txt
China ultrapassa o Japão em investimento nos Treasuries:
http://www.washingtonpost.com/wp-dyn/content/article/2008/11/18/AR2008111803558.html
Biografia de Wangari Maathai, no site do Prêmio Nobel:
http://nobelprize.org/nobel_prizes/peace/laureates/2004/maathai-bio.html
30.10.09
28.10.09
Como a Goldman Sachs faturou com a quebra da AIG
Among the proximate causes of AIG’s failure were previous calls for collateral made by its credit default swap trading counterparties, including Goldman Sachs. They were entitled to pressure AIG on its prices and demand more collateral; I had publicly challenged AIG’s prices myself more than a year earlier. These actions gave a major push to AIG’s subsequent credit downgrade, which tripped contract triggers that AIG had unwisely permitted its more clever counterparties to insert. (The credit default swap market is not standardized.) This meant AIG had to come up with collateral equal to the entire remaining amount of the credit default swap contract. Unfortunately, AIG was essentially bankrupt at this point and it couldn’t meet its obligations. The government could have stepped in and renegotiated its contracts. [Goldman’s “hedges” might have disputed whether a reduced payment triggered a restructuring event, if applicable, in their contracts.] But that isn’t what happened.
via ZeroHedge
via ZeroHedge