26.12.10
Ferrovia Transnordestina
No total, a Transnordestina custará R$ 5,42 bilhões - quase R$ 1 bilhão a mais que o previsto no orçamento inicial. Da mesma forma, a data de término da obra também foi revista. Era para estar totalmente concluída este ano, mas o primeiro trecho - entre Eliseu Martins (PI) e Suape (PE) - só ficará pronto em outubro de 2012 e a parte do Ceará, em 2013. Segundo o presidente da Transnordestina, Tufi Daher, a lentidão da obra nos primeiros quatro anos foi decorrente de uma série de contratempos, como a dificuldade na desapropriação das áreas e no financiamento.
Boa parte dos entraves já foi solucionada. Mas, no trecho do Ceará, 64% das áreas ainda precisam ser desapropriadas - a expropriação é feita pelo Estado com dinheiro do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). No caso da estruturação financeira, a obra tem empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Banco do Nordeste, Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) e Fundo de Desenvolvimento do Nordeste (Finor). Até agora, a empresa já gastou R$ 1,6 bilhão, volume que deve crescer no início do ano, com a entrada em operação de outros canteiros, sendo um em janeiro e três em março.
Nesse estágio do empreendimento, o número de empregos - diretos e indiretos - deverá beneficiar 20 mil trabalhadores. Hoje, 11 mil pessoas trabalham com carteira assinada na construção. Como no resto do País, a questão da mão de obra especializada virou um gargalo para o desenvolvimento do projeto. Cerca de três mil funcionários tiveram de ser recrutados em outros Estados para atender a demanda. De acordo com Falcão, da Odebrecht, as maiores carências são os operadores de máquinas e equipamentos, cujo manuseio está cada vez mais sofisticado. "Mas falta de tudo: carpinteiro, pedreiro e armadores de estruturas de aço", diz ele.
Fotos do blog "Olhar sobre o mundo"
18.12.10
14.12.10
Richard Holbrooke, WikiLeaks and Afghanistan
Mr. Holbrooke experienced health problems in August, when he underwent treatment for heart problems and canceled one of his frequent trips to Afghanistan and Pakistan.
On Friday morning, he was taken to George Washington University Hospital after he became flushed and suffered chest pains during a meeting with Clinton.
He underwent a 21-hour operation that ended on Saturday to repair his aorta.
As Mr. Holbrooke was sedated for surgery, family members said, his final words were to his Pakistani surgeon: "You've got to stop this war in Afghanistan.
On Friday morning, he was taken to George Washington University Hospital after he became flushed and suffered chest pains during a meeting with Clinton.
He underwent a 21-hour operation that ended on Saturday to repair his aorta.
As Mr. Holbrooke was sedated for surgery, family members said, his final words were to his Pakistani surgeon: "You've got to stop this war in Afghanistan.
18.11.10
Journalism's slow, sad death
The democratization of the media -- really its fragmentation -- has encouraged ideological polarization. Princeton University professor Paul Starr traced this process recently in the Columbia Journalism Review. After the captive audience for network news was released by cable, many Americans did not turn to other sources of news. They turned to entertainment. The viewers who remained were more political and more partisan. "As Walter Cronkite prospered in the old environment," says Starr, "Bill O'Reilly and Keith Olbermann thrive in the new one. As the diminished public for journalism becomes more partisan, journalism itself is likely to shift further in that direction."
Michael Gerson (op-ed for the WP)
5.11.10
Literatura brasileira contemporânea
Do digestivo cultural:
A literatura brasileira está movimentatíssima. Embora alguns nomes apareçam mais que outros, há muita gente se movendo e se editando. 2005 foi um ano de mais quietude, mas não se deixou de planejar o retorno aos palcos de vários escritores. Assim como nas novelas de tevê, certas celebridades instantâneas foram ao pico e arrefeceram logo. Outros tantos personagens se mantiveram em velocidade uniforme, embora jamais retilínea. Alguns mais espertos cumpriram ritmo de formiguinhas, trabalhando miúdo e incessantemente pela projeção. Surgiram revistas, cadernos, jornais. O que era encontro virou festa e badalação. Mas valeu.
Não posso deixar de mencionar a ferramenta mais comentada do século (pelo menos enquanto ele começa): o blog. Foi essa interface simples e gratuita que alavancou a produção, mais do que de contos, de contistas. Ao menos uma meia dúzia de nomes apareceu por conta dos espaços digitais em que escreviam seus textos, muita vez alicerçados na vida privada e no umbigo próprio. E deu certo. Houve quem quisesse dizer que estava ali uma geração autocentrada. E não é que é? Mas fazer o quê? Quem puder que se salve e trate de escrever bem.
Em alguns casos, funcionou. A Internet e as editoras portáteis para fins particulares foram parceiras. A convergência resultou em apropriação dos meios para fazer o que se desejasse. Se no cinema havia a história da câmera na mão e da idéia na cabeça, a virada do século dependeu de pouco mais. Era juntar os textos, ter um computador e saber tratar com uma gráfica. Pronto. Mas e depois? Quem iria distribuir? Problema que a Internet também resolveu, embora parcialmente.
Olhem só. Não é que deu resultado? Galgamos, alguns, os degraus das editoras conhecidas. As almas não eram, de fato, pequenas. Se a literatura será, só mesmo o tempo para dizer.
Poema do Fabrício Marques
"Mini litania da política editorial"
Ana Elisa Ribeiro
Belo Horizonte, 24/5/2006
A literatura brasileira está movimentatíssima. Embora alguns nomes apareçam mais que outros, há muita gente se movendo e se editando. 2005 foi um ano de mais quietude, mas não se deixou de planejar o retorno aos palcos de vários escritores. Assim como nas novelas de tevê, certas celebridades instantâneas foram ao pico e arrefeceram logo. Outros tantos personagens se mantiveram em velocidade uniforme, embora jamais retilínea. Alguns mais espertos cumpriram ritmo de formiguinhas, trabalhando miúdo e incessantemente pela projeção. Surgiram revistas, cadernos, jornais. O que era encontro virou festa e badalação. Mas valeu.
Não posso deixar de mencionar a ferramenta mais comentada do século (pelo menos enquanto ele começa): o blog. Foi essa interface simples e gratuita que alavancou a produção, mais do que de contos, de contistas. Ao menos uma meia dúzia de nomes apareceu por conta dos espaços digitais em que escreviam seus textos, muita vez alicerçados na vida privada e no umbigo próprio. E deu certo. Houve quem quisesse dizer que estava ali uma geração autocentrada. E não é que é? Mas fazer o quê? Quem puder que se salve e trate de escrever bem.
Em alguns casos, funcionou. A Internet e as editoras portáteis para fins particulares foram parceiras. A convergência resultou em apropriação dos meios para fazer o que se desejasse. Se no cinema havia a história da câmera na mão e da idéia na cabeça, a virada do século dependeu de pouco mais. Era juntar os textos, ter um computador e saber tratar com uma gráfica. Pronto. Mas e depois? Quem iria distribuir? Problema que a Internet também resolveu, embora parcialmente.
Olhem só. Não é que deu resultado? Galgamos, alguns, os degraus das editoras conhecidas. As almas não eram, de fato, pequenas. Se a literatura será, só mesmo o tempo para dizer.
Poema do Fabrício Marques
"Mini litania da política editorial"
Me suplica que eu te publico
Me resenha que eu te critico
Me ensaia que eu te edito
Me critica que eu te suplico
Me edita que eu te cito
Me analisa que eu te critico
Me cita que eu te publico
Me publica
Ana Elisa Ribeiro
Belo Horizonte, 24/5/2006
17.10.10
HIGHWAY TO HELL
(J.P. MORGAN CHASE - A.K.A. HOUSE OF MORGAN - RESULTS CONFERENCE CALL, 3Q 2010)
Chris Kotowski
Okay. And then on a separate issue, can you comment with how comfortable you are about the robustness of the MERS [electronic registry designed to track servicing rights and ownership of mortgage loans in the United States] system. People have raised issues about MERS being both principal and agent and the separation of -
Jamie Dimon
We stopped a while back using them for that purpose. And so I don't think it's as relevant to us as to other people. And we're not going to comment on all the other underlying things. I think one of the things you've got to remember - you know there are, we've known, there are issues in the mortgage business. But for the most part by the time you get to the end of the process we're not evicting people who deserve to stay in their house.
Chris Kotowski
Okay. And then on a separate issue, can you comment with how comfortable you are about the robustness of the MERS [electronic registry designed to track servicing rights and ownership of mortgage loans in the United States] system. People have raised issues about MERS being both principal and agent and the separation of -
Jamie Dimon
We stopped a while back using them for that purpose. And so I don't think it's as relevant to us as to other people. And we're not going to comment on all the other underlying things. I think one of the things you've got to remember - you know there are, we've known, there are issues in the mortgage business. But for the most part by the time you get to the end of the process we're not evicting people who deserve to stay in their house.
15.10.10
João Guedes / tudo na mesma ordem se repete
DOMINGO, 16 DE MAIO DE 2010
tudo na mesma ordem se repete
Pedregulho lamaceiro ribanceira
avalanche enxurrada terremoto
recessão represália carestia
atentado ultimato sabotagem
profissão passatempo moradia
contrabando emboscada cabotagem
propaganda internet consumismo
artepop tropicália woodstock
vaticano casabranca redeglobo
zelimeira chicoscience bobdylan
balaquente entrevero guerrafria
ditadura liberdade anistia
hepatites diabetes bulimia
clonagem erotismo vilania
política história economia
cada espécie nesse limbo se reverte
à mesma ordem que sempre se repete.
[j. guedes]
tudo na mesma ordem se repete
Pedregulho lamaceiro ribanceira
avalanche enxurrada terremoto
recessão represália carestia
atentado ultimato sabotagem
profissão passatempo moradia
contrabando emboscada cabotagem
propaganda internet consumismo
artepop tropicália woodstock
vaticano casabranca redeglobo
zelimeira chicoscience bobdylan
balaquente entrevero guerrafria
ditadura liberdade anistia
hepatites diabetes bulimia
clonagem erotismo vilania
política história economia
cada espécie nesse limbo se reverte
à mesma ordem que sempre se repete.
[j. guedes]
11.9.10
Generation Gaga
By Camile Paglia, in the Sunday Times Magazine.
Generation Gaga doesn’t identify with powerful vocal styles because their own voices have atrophied: they communicate mutely via a constant stream of atomised, telegraphic text messages. Gaga’s flat affect doesn’t bother them because they’re not attuned to facial expressions.
Gaga's fans are marooned in a global technocracy of fancy gadgets but emotional poverty. Borderlines have been blurred between public and private: reality TV shows multiply, cell phone conversations blare everywhere; secrets are heedlessly blabbed on Facebook and Twitter. Hence, Gaga gratuitously natters on about her vagina…
Generation Gaga doesn’t identify with powerful vocal styles because their own voices have atrophied: they communicate mutely via a constant stream of atomised, telegraphic text messages. Gaga’s flat affect doesn’t bother them because they’re not attuned to facial expressions.
Gaga's fans are marooned in a global technocracy of fancy gadgets but emotional poverty. Borderlines have been blurred between public and private: reality TV shows multiply, cell phone conversations blare everywhere; secrets are heedlessly blabbed on Facebook and Twitter. Hence, Gaga gratuitously natters on about her vagina…
26.8.10
Mesquita polêmica
Polêmica revela preconceito contra o Islã nos EUA
Patrick Brock
Imersos numa crise em que ainda não se vê o fim, os Estados Unidos protagonizam um episódio lamentável para o ideal de liberdade e tolerância delineado por Thomas Jefferson durante a Revolução Americana. Trata-se da polêmica da mesquita no "Ground Zero", ou marco zero, termo usado inicialmente para descrever o local de impacto das bombas atômicas mas que agora é empregado para nomear a área das antigas Torres Gêmeas, em Nova York.
A história começou quando um líder muçulmano moderado, conhecido por defender o diálogo e a aproximação entre as culturas oriental e ocidental, propôs construir um centro cultural islâmico a poucos quarteirões do local onde atualmente está sendo erigida a Torre da Liberdade, o arranha-céu de 540 metros que substituirá as antigas torres do World Trade Center. O centro islâmico, uma obra de US$ 100 milhões a que seu deu o nome Park51, terá capacidade para cerca de 1.500 pessoas, espaço para preces, cursos e atividades físicas, e um memorial para as vítimas dos atentados de 11 de setembro de 2001.
A proposta causou furor nos EUA, especialmente das famílias das vítimas dos atentados, que consideram a proposta uma afronta ao seu sofrimento. Protestos acalorados na porta do prédio que seria demolido para dar lugar ao centro mostram o estado de divisão e exaltação em que os americanos se encontram em meio à pior crise desde a Grande Depressão, na década de 1930.
Críticos do projeto reclamam que os muçulmanos não demonstram a mesma tolerância que os americanos, citando o estado de opressão em que muitos cristãos se encontram nos países de fé islâmica. Os mais preconceituosos dizem se tratar de uma "mesquita da vitória", numa referência ao lendário hábito dos conquistadores muçulmanos de construir templos de sua fé nos lugares que dominavam.
A polêmica sobre o centro é um tapa na cara de todos que acreditam na tolerância como um meio de resolver as diferenças culturais e religiosas. E, ao contrário do que dizem, impedir sua construção é uma vitória para os terroristas, porque Nova York representa tudo que eles gostariam de destruir: é um lugar de tolerância e diversidade, onde pessoas de 180 países diferentes tentam conviver em harmonia numa das cidades mais densas do mundo.
O resultado de tanta animosidade repentina? Michael Enright, 21 anos, morador de uma cidade dos arredores de Nova York pegou um táxi na 23th Street com a Second Avenue terça-feira à noite. Bêbado, perguntou ao taxista se era islâmico. Ao constatar que ele era mesmo seguidor de Maomé, esfaqueou o taxista várias vezes. O homem foi preso, mas o ódio fica: "Nunca tive tanto medo", disse ao New York Times o motorista, Ahmed H. Sharif, 43 anos, que mora há 25 anos em Nova York e é pai de quatro filhos, todos nascidos nos EUA.
Patrick Brock
Imersos numa crise em que ainda não se vê o fim, os Estados Unidos protagonizam um episódio lamentável para o ideal de liberdade e tolerância delineado por Thomas Jefferson durante a Revolução Americana. Trata-se da polêmica da mesquita no "Ground Zero", ou marco zero, termo usado inicialmente para descrever o local de impacto das bombas atômicas mas que agora é empregado para nomear a área das antigas Torres Gêmeas, em Nova York.
A história começou quando um líder muçulmano moderado, conhecido por defender o diálogo e a aproximação entre as culturas oriental e ocidental, propôs construir um centro cultural islâmico a poucos quarteirões do local onde atualmente está sendo erigida a Torre da Liberdade, o arranha-céu de 540 metros que substituirá as antigas torres do World Trade Center. O centro islâmico, uma obra de US$ 100 milhões a que seu deu o nome Park51, terá capacidade para cerca de 1.500 pessoas, espaço para preces, cursos e atividades físicas, e um memorial para as vítimas dos atentados de 11 de setembro de 2001.
A proposta causou furor nos EUA, especialmente das famílias das vítimas dos atentados, que consideram a proposta uma afronta ao seu sofrimento. Protestos acalorados na porta do prédio que seria demolido para dar lugar ao centro mostram o estado de divisão e exaltação em que os americanos se encontram em meio à pior crise desde a Grande Depressão, na década de 1930.
Críticos do projeto reclamam que os muçulmanos não demonstram a mesma tolerância que os americanos, citando o estado de opressão em que muitos cristãos se encontram nos países de fé islâmica. Os mais preconceituosos dizem se tratar de uma "mesquita da vitória", numa referência ao lendário hábito dos conquistadores muçulmanos de construir templos de sua fé nos lugares que dominavam.
A polêmica sobre o centro é um tapa na cara de todos que acreditam na tolerância como um meio de resolver as diferenças culturais e religiosas. E, ao contrário do que dizem, impedir sua construção é uma vitória para os terroristas, porque Nova York representa tudo que eles gostariam de destruir: é um lugar de tolerância e diversidade, onde pessoas de 180 países diferentes tentam conviver em harmonia numa das cidades mais densas do mundo.
O resultado de tanta animosidade repentina? Michael Enright, 21 anos, morador de uma cidade dos arredores de Nova York pegou um táxi na 23th Street com a Second Avenue terça-feira à noite. Bêbado, perguntou ao taxista se era islâmico. Ao constatar que ele era mesmo seguidor de Maomé, esfaqueou o taxista várias vezes. O homem foi preso, mas o ódio fica: "Nunca tive tanto medo", disse ao New York Times o motorista, Ahmed H. Sharif, 43 anos, que mora há 25 anos em Nova York e é pai de quatro filhos, todos nascidos nos EUA.
19.5.10
30.4.10
Revista Machado
Conheça a revista Machado.
Projeto de Delfin, um dos fundadores das Edições K e da Mojo Books.
Delfin abriu a venda e você pode achá-lo em www.studiodelrey.com.br.
Literatura e design é com ele mesmo.
29.4.10
The New Colossus
*Emma Lazarus
Not like the brazen giant of Greek fame,
With conquering limbs astride from land to land;
Here at our sea-washed, sunset gates shall stand
A mighty woman with a torch, whose flame
Is the imprisoned lightning, and her name
Mother of Exiles. From her beacon-hand
Glows world-wide welcome; her mild eyes command
The air-bridged harbor that twin cities frame.
"Keep ancient lands, your storied pomp!" cries she
With silent lips. "Give me your tired, your poor,
Your huddled masses yearning to breathe free,
The wretched refuse of your teeming shore.
Send these, the homeless, tempest-tost to me,
I lift my lamp beside the golden door!"
Not like the brazen giant of Greek fame,
With conquering limbs astride from land to land;
Here at our sea-washed, sunset gates shall stand
A mighty woman with a torch, whose flame
Is the imprisoned lightning, and her name
Mother of Exiles. From her beacon-hand
Glows world-wide welcome; her mild eyes command
The air-bridged harbor that twin cities frame.
"Keep ancient lands, your storied pomp!" cries she
With silent lips. "Give me your tired, your poor,
Your huddled masses yearning to breathe free,
The wretched refuse of your teeming shore.
Send these, the homeless, tempest-tost to me,
I lift my lamp beside the golden door!"
17.4.10
Jolivaldo Freitas
Da Tribuna da Bahia
As meninas lá de Itapuã
Publicada: 14/04/2010
Jolivaldo Freitas
Houve um tempo que para chegar a Itapuã era um suplício. Isso lá pelos idos dos anos 50 e eu ia no colo da minha mãe, portanto não tenho queixas do percurso. Mas era assim, já que morávamos na Cidade Baixa: pegava um lotação na Boa Viagem, saltava na Praça Cayru, atravessava a rua, subia o Elevador Lacerda.
No ponto final da Praça da Sé demorava, mas chegava um ônibus (não lembro se era o Trolebus – ônibus elétrico – ou se era comum) e ia pinga-pinga pingando até o Rio Vermelho. Descia, vinha um outro até a Pituba e daí era um deus-nos-acuda até conseguir transporte para Itapuã.
O que iríamos fazer lá? Veranear é claro. Itapuã era terra de veraneio e pescadores. Tão longe que os moradores achavam péssimo ter de vir para a cidade ou para Salvador, pois era assim que tratava a capital: como algo distante e á qual eles não pertenciam psicologicamente, embora parte geograficamente.
Não havia nenhuma casa de alvenaria. A nossa mesmo fora comprada na mão de uma família de um pescador que desaparecera no mar (conto a história mais adiante) e que terminou mudando para a Praia do Forte – bem mais longe ainda, coisa de mais de um dia de viagem.
Mas era algo que até hoje o povo lá de casa comenta – os mais velhos, lógico – com saudade matadeira. Diziam, e eu não acredito, que pela Boca do Rio ainda tinha índios remanescentes dos tupinambás e que tudo era dunas e Mata Atlântica. Alguns garantem que tinha raposa pelo caminho e em cada lagoa os jacarés ficavam crocodilando ao sol.
Era ar puro, salitre e quando em se chegando a Itapuã, à beira-mar, aquela maresia, que vem a ser uma preguiça danada. E se desse para escutar as ondas batendo nas pedras (todo mundo sabe que Itapuã significa “Pedra que ronca”, na língua Tupy-Guarany), aí é que se entregar ao tempo.
O povo lá de casa garante que tinha um tio, já encantado, que tinha espírito (sem trocadilho) aventureiro. Ele gostava de sair para caçar pombas-rolas, jacarés e anuns e também saía com os pescadores para alto-mar em busca de sororoca e atum; e foi num dos barcos que ele costumava ir com os amigos que aconteceu o inesperado. O dia estava claro, e logo ao alvorecer colocaram o saveiro na água e partiram na direção Norte, lá pelas partes de Arembepe.
Quando todos voltavam, no final da tarde, houve uma viração, tudo escureceu como se fosse o fim do mundo. Os raios caiam como chuva e a chuva como se fosse espetos e deu noite alta e ninguém tinha chegado.
Os outros pescadores não podiam sair por causa da arrebentação. Quando o mar acalmou já era madrugada e os companheiros saíram em busca de ajuda. Pelo que se conta nas histórias lá de casa, um mestre-saveirista decidiu, com sua experiência, fazer o trajeto contrário aos outros e foi ele quem conseguiu achar a embarcação quebrada ao meio, sem vela e sem leme com os homens agarrados ao que restou do casco e assustados. Miguel Poiteiro sumiu e nunca mais apareceu. Foi a família dele que vendeu a casa para o pessoal lá de casa.
Lembro, nos anos 60 do século passado, do coqueiral fechado de Itapuã, da Lagoa do Abaeté e das dunas que tomavam toda a geografia, partindo de Piatã até sumir pelas bandas da Praia do Flamengo. E lembro das noites de lua cheia coincidente com o Verão, quando as meninas botavam suas melhores chitas e saiam recendendo a água-de-cheiro, alfazema e naftalina.
Passavam flertando e quando tudo dava certo, os coqueiros eram abrigos e a areia da praia era a alcova. Vez em quando um pai com peixeira na bainha botava para correr. Ou uma baleia se aproximava da costa e nos olhava com seu olhar de peixe morto.
As meninas lá de Itapuã
Publicada: 14/04/2010
Jolivaldo Freitas
Houve um tempo que para chegar a Itapuã era um suplício. Isso lá pelos idos dos anos 50 e eu ia no colo da minha mãe, portanto não tenho queixas do percurso. Mas era assim, já que morávamos na Cidade Baixa: pegava um lotação na Boa Viagem, saltava na Praça Cayru, atravessava a rua, subia o Elevador Lacerda.
No ponto final da Praça da Sé demorava, mas chegava um ônibus (não lembro se era o Trolebus – ônibus elétrico – ou se era comum) e ia pinga-pinga pingando até o Rio Vermelho. Descia, vinha um outro até a Pituba e daí era um deus-nos-acuda até conseguir transporte para Itapuã.
O que iríamos fazer lá? Veranear é claro. Itapuã era terra de veraneio e pescadores. Tão longe que os moradores achavam péssimo ter de vir para a cidade ou para Salvador, pois era assim que tratava a capital: como algo distante e á qual eles não pertenciam psicologicamente, embora parte geograficamente.
Não havia nenhuma casa de alvenaria. A nossa mesmo fora comprada na mão de uma família de um pescador que desaparecera no mar (conto a história mais adiante) e que terminou mudando para a Praia do Forte – bem mais longe ainda, coisa de mais de um dia de viagem.
Mas era algo que até hoje o povo lá de casa comenta – os mais velhos, lógico – com saudade matadeira. Diziam, e eu não acredito, que pela Boca do Rio ainda tinha índios remanescentes dos tupinambás e que tudo era dunas e Mata Atlântica. Alguns garantem que tinha raposa pelo caminho e em cada lagoa os jacarés ficavam crocodilando ao sol.
Era ar puro, salitre e quando em se chegando a Itapuã, à beira-mar, aquela maresia, que vem a ser uma preguiça danada. E se desse para escutar as ondas batendo nas pedras (todo mundo sabe que Itapuã significa “Pedra que ronca”, na língua Tupy-Guarany), aí é que se entregar ao tempo.
O povo lá de casa garante que tinha um tio, já encantado, que tinha espírito (sem trocadilho) aventureiro. Ele gostava de sair para caçar pombas-rolas, jacarés e anuns e também saía com os pescadores para alto-mar em busca de sororoca e atum; e foi num dos barcos que ele costumava ir com os amigos que aconteceu o inesperado. O dia estava claro, e logo ao alvorecer colocaram o saveiro na água e partiram na direção Norte, lá pelas partes de Arembepe.
Quando todos voltavam, no final da tarde, houve uma viração, tudo escureceu como se fosse o fim do mundo. Os raios caiam como chuva e a chuva como se fosse espetos e deu noite alta e ninguém tinha chegado.
Os outros pescadores não podiam sair por causa da arrebentação. Quando o mar acalmou já era madrugada e os companheiros saíram em busca de ajuda. Pelo que se conta nas histórias lá de casa, um mestre-saveirista decidiu, com sua experiência, fazer o trajeto contrário aos outros e foi ele quem conseguiu achar a embarcação quebrada ao meio, sem vela e sem leme com os homens agarrados ao que restou do casco e assustados. Miguel Poiteiro sumiu e nunca mais apareceu. Foi a família dele que vendeu a casa para o pessoal lá de casa.
Lembro, nos anos 60 do século passado, do coqueiral fechado de Itapuã, da Lagoa do Abaeté e das dunas que tomavam toda a geografia, partindo de Piatã até sumir pelas bandas da Praia do Flamengo. E lembro das noites de lua cheia coincidente com o Verão, quando as meninas botavam suas melhores chitas e saiam recendendo a água-de-cheiro, alfazema e naftalina.
Passavam flertando e quando tudo dava certo, os coqueiros eram abrigos e a areia da praia era a alcova. Vez em quando um pai com peixeira na bainha botava para correr. Ou uma baleia se aproximava da costa e nos olhava com seu olhar de peixe morto.
8.4.10
6.4.10
I DON'T WANT TO SET THE WORLD ON FIRE
Words and music by Eddie Seiler, Sol Marcus, Bennie Benjamin and Eddie Durham
I don’t want to set the world on fire
I just want to start
A flame in your heart
In my heart I have but one desire
And that one is you
No other will do
I’ve lost all ambition for worldly acclaim
I just want to be the one you love
And with your admission that you feel the same
I’ll have reached the goal I’m dreaming of
Believe me
I don’t want to set the world on fire
I just want to start
A flame in your heart
[Spoken Word]
I don't wanna set the world on fire, honey
I love ya too much
I just wanna start a great big flame
Down in your heart
You see, way down inside of me
Darlin' I have only one desire
And that one desire is you
And I know nobody else ain't gonna do
[Sung]
I’ve lost all ambition for worldly acclaim
I just want to be the one you love
And with your admission that you feel the same
I’ll have reached the goal I’m dreaming of
Believe me
I don’t want to set the world on fire
I just want to start
A flame in your heart
Dano colateral
Veja como é fácil para alguns pilotos fuzilar crianças.
(atenção: conteúdo chocante)
Veja aqui, sem precisar de login no youtube.
(atenção: conteúdo chocante)
Veja aqui, sem precisar de login no youtube.
5.4.10
Popularidade e consciência coletiva
Gabriel Perissé (1998), pesquisador da FFLCH-USP e fundador da ONG Projeto Literário Mosaico para a formação de escritores, atribui o sucesso de Paulo Coelho ao anseio “pelo retorno ao mundo das tradições, das revelações... [a um] mundo que nos dê uma fé...; ou que nos dê uma vitória sobre o caos.” Ele fala do sucesso do autor em termos de Brasil, mas podemos estender essa conclusão sua ao resto do mundo, uma vez que as razões por ele apontadas para esse sentimento coletivo de volta a um tempo “místico” é o saldo negativo do século XX, em que a humanidade viveu duas guerras mundiais (e aqui eu acrescentaria os conflitos do Oriente Médio), a falência ideológica do comunismo (e da própria democracia, eu diria), a competição selvagem, a radicalização das desigualdades, a violência desenfreada e todo o tipo de desumanidade. Pode-se argumentar que esses problemas não são típicos dos tempos modernos e que a humanidade sempre viveu guerras e crises ideológicas. No entanto, o positivismo do século XIX, que exerceu uma influência notável na filosofia analítica do século XX, nos fez crer no progresso baseado na razão e na ciência. Assim, conviver com as guerras no Oriente Médio, a fome africana, a pandemia da AIDS e o atraso na América Latina e em outras regiões do mundo, por exemplo, parece inadmissível para a humanidade de hoje; não é lógico.
26.3.10
Masters of War
Masters Of War
Come you masters of war
You that build all the guns
You that build the death planes
You that build the big bombs
You that hide behind walls
You that hide behind desks
I just want you to know
I can see through your masks
You that never done nothin’
But build to destroy
You play with my world
Like it’s your little toy
You put a gun in my hand
And you hide from my eyes
And you turn and run farther
When the fast bullets fly
Like Judas of old
You lie and deceive
A world war can be won
You want me to believe
But I see through your eyes
And I see through your brain
Like I see through the water
That runs down my drain
You fasten the triggers
For the others to fire
Then you set back and watch
When the death count gets higher
You hide in your mansion
As young people’s blood
Flows out of their bodies
And is buried in the mud
You’ve thrown the worst fear
That can ever be hurled
Fear to bring children
Into the world
For threatening my baby
Unborn and unnamed
You ain’t worth the blood
That runs in your veins
How much do I know
To talk out of turn
You might say that I’m young
You might say I’m unlearned
But there’s one thing I know
Though I’m younger than you
Even Jesus would never
Forgive what you do
Let me ask you one question
Is your money that good
Will it buy you forgiveness
Do you think that it could
I think you will find
When your death takes its toll
All the money you made
Will never buy back your soul
And I hope that you die
And your death’ll come soon
I will follow your casket
In the pale afternoon
And I’ll watch while you’re lowered
Down to your deathbed
And I’ll stand o’er your grave
’Til I’m sure that you’re dead
9.3.10
Caipirinha azeda
Escrevi um ano atrás que os EUA e o Brasil estavam em lua-de-mel, mas sem álcool. Agora parece que as núpcias enverederam para o divórcio. Lula serviu uma caipirinha azeda para os EUA: a posição brasileira sobre as sanções contra o Irã e as tarifas de importação impostas em retaliação a subsídios americanos ao algodão se juntam à lista de pequenos incêndios do governo de Barack Obama. E a própria Hillary é um deles. Seu desempenho como secretária de Estado, o cargo mais importante da política exterior de seu país, tem sido pífio. Fica no jogo de cena, emitindo declarações de “decepção” que já não carregam o mesmo peso atualmente.
Lula ignorar Hillary e abraçar Ahmadinejad talvez seja a maior prova de que o Brasil optou por seguir uma política exterior independente, ligeiramente alinhada aos desígnios do eixo de Hugo Chávez – embora venda caças com tecnologia americana para a Colômbia matar esquerdistas da Farc no Equador. E Lula, que foi preso pela ditadura brasileira, abraça um Ahmadinejad que preside um regime homicida e torturador que passou de teocracia islâmica para ditadura militar. São paradoxos demais.
O presidente Lula, sempre cândido, deu duas declarações importantes na terça-feira. Chamou a imprensa de subserviente por perguntar se iria tratar de determinados assuntos com Hillary. Da matéria do Estadão: “Vou recebê-la numa deferência ao Celso Amorim, que me pediu para recebê-la. A conversa é de ministro a ministro. Quando for o Obama eu converso com ele.' Deixa bem claro que o tempo fechou com os americanos, que não cedem na principal questão comercial entre os dois países: o subsídio americano ao álcool de milho e as tarifas de importação do álcool brasileiro. Só o milho já é subsidiado pelo governo americano, como é possível ver no documentário recente “Food, Inc.”.
Na mesma entrevista, durante a terceira visita ao canteiro de obras do caro complexo petroquímico que a Petrobras quer construir para produzir plásticos com o petróleo Marlim, Lula revela também que o interesse do seu projeto político é investir cada vez mais em rodovias. "Aqueles que acham que o pobre vai deixar de usar carro são os que usam carro", disse Lula para os aplausos da plateia. E tome ponte para Itaparica, ponte sobre o Parque de Pituaçu e mais carros, engarrafamentos e poluição. Enquanto isso a China interliga o país com trens de alta velocidade e até nos EUA renasce o interesse no transporte ferroviário. Impossível ignorar que a cadeia de produção dos automóveis gera milhares de empregos. Mas carro é um negócio que soa meio atrasado diante dos desafios futuros da escassez de recursos naturais e do aquecimento global. Sempre astuto, talvez Lula esteja mesmo de olho é na energia do átomo, como seu colega iraniano. Só que a Constituição do Brasil proíbe seu uso para fins bélicos. Será que Lula acredita mesmo que Ahmadinejad não quer a bomba? Essa é uma pergunta que os moradores de Caetité saberão muito bem responder.