De: "Lorde Byron"
Data: Tue, 9 Jul 2002 17:48:22 -0300 (ART)
Assunto: [kolunistas] acordei de um pesadelo
IRRADIAÇÃO
Pareceu um flash. Depois um fedor em toda a cidade, como veneno de matar baratas, mas eu estava semi-bêbado na ultra-matinê e só quando cheguei no prédio é que o meu carro morreu. Encontrei o pai com os olhos esbugalhados, a mexer no rádio do meu quarto.
- Que foi?
- Não sei, acordei com o barulho, tentei ligar a televisão e não consegui.
O rádio estava mudo. Ele saiu resmungando efoi tomar café. Tentei ouvir um CD do The Meters, sem sucesso, então decidi tomar um banho. A água do chuveiro estava quente e fedida. Saí do banho, o pai já tinha ido trabalhar, eu já estava na cozinha tomando café quando a porta abriu-se e ele entrou, suado.
- O carro não funciona, nem o elevador.
- Você está sentindo esse fedor?
- Que fedor?
- De baygon.
- Não. Vou chamar um táxi.
Tentou telefonar. A linha estava muda. O celular também não funcionava. Fomos para a janela. Um carro com alto falantes, puxado por uma parelha de bois, descia a rua vazia. "Dirijam-se imediatamente ao posto de saúde mais próximo para tomar suas pílulas de iodo". Saímos para a rua. Em todo o lugar havia pessoas desmaiadas. Nada que fosse elétrico funcionava. Os faróis piscavam sem parar. No posto de saúde tinha uma fila enorme. Estávamos cansados, a gente não tinha o costume de caminhar, sentamos na calçada e fiquei pensando num conto de Vidas Cegas, em que todo mundo começa a dormir, até lembrar de um episódio de Night Visions, quando um cara é internado no hospício ao dizer que controla a ordem das coisas em nossa dimensão. O psiquiatra acha que ele é maluco e dá uma dose de Dormonid. O mundo entra no caos, o psiquiatra tenta acordar o maluco, ele acorda sorrindo, aperta a mão do psiquiatra e diz: "o contrato agora é seu, doutor".
Chega a nossa vez. Me dão duas pílulas. Pergunto pra que servem. A enfermeira começa a rir da minha cara. As pessoas gritam no final da fila. Guardo as pílulas no bolso. Eu e o pai nos separamos. Ele volta pra casa, eu caminho pela rua, o cheiro de baygon dissipado e todas as plantas queimadas. Pássaros caem mortos do céu. Os cachorros coçam a barriga e perdem pêlos aos tufos. O céu parece vermelho. Tomo as pílulas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário