24.3.08

Hillary Clinton vira o jogo e Obama tropeça



--------------------------------------------------------------------------------
Salvador, Bahia
Domingo , 23/03/2008
1º Caderno

PATRICK BROCK | ESPECIAL PARA A TARDE, DE NOVA IORQUE

Texas, 3 de março. Barack Hussein Obama deixa bruscamente a sala onde presidia uma coletiva de imprensa. Ele acabara de ser bombardeado com perguntas incisivas. “Puxa, eu já respondi, tipo, oito perguntas. Estamos atrasados”, disse, apressadamente, enquanto deixava a sala sob os berros dos repórteres, na primeira briga de seu longo namoro com a mídia americana.

Dois dias depois, Hillary Rodham Clinton, sua adversária, obteve importantes vitórias nos Estados do Texas e de Ohio. Renascia das cinzas mais uma vez para alimentar a fogueira da disputa pela indicação do Partido Democrata à presidência dos Estados Unidos, demorado processo que ganhou a complicação adicional de uma disputa intrapartidária entre os candidatos democratas.

A campanha de Hillary Clinton, senadora pelo Estado de Nova Iorque e casada com o ex-presidente Bill Clinton, mostrou seus músculos. Depois de errar a mão ao utilizar o marido para desacreditar Obama, e diante das primeiras pressões para abandonar a corrida – especialmente após a seqüência de derrotas e de John McCain ter assegurado votos suficientes para disputar a presidência pelo Partido Republicano – Hillary trocou alguns assessores de campanha e partiu para o ataque. Ao mesmo tempo, a mídia americana passou a focar mais nos defeitos de Obama do que no fenômeno da sua rápida ascensão ao centro da política nacional.


PARÓDIA – Um sinal desse olhar mais crítico surgiu no programa de televisão “Saturday Night Live”. Numa paródia da cobertura da CNN de um debate presidencial, os jornalistas bajulavam Obama e cortavam Hillary. Esta, por sua vez, captou a mensagem e passou a reclamar da branda cobertura que seu adversário vinha recebendo. Tom Edsall, ex-repórter do Washington Post e professor de jornalismo da Universidade Columbia, disse ao jornal canadense Globe & Mail que “alguns repórteres se envolveram demais com o entusiasmo ao redor” de Obama.

“O que Obama deve fazer – e o que não é capaz de fazer – é articular uma visão concreta que vá além da retórica inspiradora”, disse em entrevista à rede americana NBC Karl Rove, ex-assessor presidencial conhecido em alguns círculos nos EUA como “ o cérebro de Bush”.

Rove, que comandou as duas campanhas do atual presidente americano George W. Bush, acha que o belo discurso de Obama está ficando anêmico. “Tem muito pouco conteúdo. Está passando de inspirador a insípido”. Para ele, Obama tem duas opções: atacar Hillary ou tentar mostrar que realmente tem planos sólidos para comandar o país.


--------------------------------------------------------------------------------
Salvador, Bahia
Domingo , 23/03/2008
1º Caderno

Delegados do partido vão definir escolha

Embora Hillary tenha ganho estados importantes, Obama conquistou vários estados rurais, o que lhe dá uma vantagem no número de delegados mas não no de "superdelegados" – os cerca de 849 líderes regionais dos democratas com peso maior na escolha do indicado, e que favorecem a Hillary. A próxima etapa são as primárias da Pensilvânia em 22 de abril, com 188 delegados em jogo.

Dois meses depois do início das primárias, e ainda faltando seis meses para a sua conclusão, o Partido Democrata luta para resolver a disputa com os Estados de Michigan e Flórida.

Eles foram expulsos da convenção nacional do partido em agosto porque quiseram realizar as suas primárias antes da "superterça" de 5 de fevereiro, contra determinação do diretório nacional.

Com seus 366 delegados, os dois importantes estados podem ajudar a decidir quem será o candidato democrata à presidência.

A dúvida é como será feita a partilha e se haverá novo voto.

O presidente do partido, Howard Dean, propôs a divisão igualitária dos delegados na Flórida e há um plano de votar novamente em Michigan, mas o processo de negociação para encontrar uma solução tem se arrastado.

Esta semana, os democratas da Flórida recusaram um plano de votar novamente e alguns deles defenderam uma penalização no número de delegados, em troca da participação na convenção (PB).

Salvador, Bahia
Domingo , 23/03/2008
1º Caderno Mídia investiga a vida de Obama

As últimas semanas têm sido difíceis para Barack Hussein Obama, de 46 anos, nascido em Honolulu, Havaí, a 4 de agosto. Apesar das vitórias nas últimas primárias, do Mississippi e Wyoming, e da vantagem no voto popular, ele teve de apagar vários incêndios de campanha e explicar a amizade com um lobbista acusado de corrupção e com um pastor negro radical. Os resultados das pesquisas de bocade-urna no Texas e em Ohio também revelaram um eleitorado claramente dividido em relação a ele, não apenas em termos de raça, mas também em faixa etária e nível educacional.

Foi revelado que um de seus assessores para política internacional disse a diplomatas canadenses que a postura crítica de Obama em relação ao Nafta, acordo de livre comércio com o México e o Canadá, era pura encenação e que ele não pretendia renegociá-lo. A gafe repercutiu muito mal, especialmente em estados como Ohio, que vêm sofrendo com a globalização e a fuga das fábricas para o mundo em desenvolvimento.

“Temos uma cultura política doentia, e é desse ambiente que Barack Obama veio”, disse à rede de TV ABC Jay Stewart, o diretor da Better Goverment Association, ONG de fiscalização do governo criada em Chicago em 1923 para combater a máfia de Al Capone. Outra assessora chamou Hillary de “monstro” em entrevista a um jornal holandês.

PASTOR – As redes americanas de TV exibiram gravações de vídeo de Jeremiah Wright Jr., pastor de Obama, que celebrou seu casamento e batizou suas filhas, acusando o governo americano de corrupção e racismo e sugerindo que o país mereceu os ataques do 11 de Setembro de 2001.

“Deus abençoe a América? Deus amaldiçoe a América!”. As imagens foram amplamente divulgadas e repercutiram negativamente, obrigando o candidato a apagar o incêndio.

Na Filadélfia, num brilhante discurso em que falou pela primeira vez da questão da raça, Obama defendeu a sua posição, distanciando-se das declarações de Wright mas sem criticá-lo. “Eu não posso condená-lo, assim como não posso condenar a comunidade negra”, disse Obama.

“Tanto como não posso condenar a minha avó branca, que muitas vezes demonstrou estereótipos racistas que me deixaram com raiva”, disse.

Mais uma vez, Obama demonstrou retórica brilhante, comparável à do reverendo Martin Luther King, Jr. No entanto, ele também abriu uma nova fase da campanha, ao abandonar o discurso de que a cor da pele não deve ser um fator e reconhecer a face racista dos EUA.

A questão racial ficou mais transparente nesta etapa da campanha, com os resultados das primeiras compilações de dados. O resultado é surpreendente: Obama vence nas zonas rurais e nos estados de maioria negra ou branca, mas perde nas zonas urbanas com maior diversidade racial, onde se concentra a população americana.

De todas as complicações que surgiram nos últimos tempos, a mais cabeluda é o julgamento de Tony Rezko, lobbista de Chicago que angariou fundos para as primeiras campanhas do senador mas agora é acusado de corrupção e fraude.

Em 2005, Obama comprou uma casa de US$ 1,7 milhão em Chicago, no bairro South Side, enquanto a esposa de Rezko, no mesmo dia, comprou por US$ 650 mil um terreno baldio adjacente à casa.

Depois, a família Obama comprou uma parte do terreno baldio por US$ 300 mil. Obama admitiu que visitou a casa junto com Rezko e que o negócio, que pode constituir uma violação das regras de ética do Senado dos EUA, foi “burrice”

Antes o elefante branco na sala, a questão racial ficou mais transparente nesta etapa da campanha, com os resultados das primeiras compilações de dados sobre o voto. O resultado é surpreendente: Obama vence nas zonas rurais e nos estados de maioria negra ou branca, mas perde nas zonas urbanas com maior diversidade racial, onde se concentra a população americana.

Em Ohio, essas diferenças ficaram claras: a maioria dos brancos acima de 40 anos, especialmente as mulheres e as pessoas sem nível superior, votou em Hillary. Obama ganhou o voto maciço dos jovens, dos negros, e dos brancos com nível superior, mas 94% dos eleitores disse que Hillary é a candidata com a experiência certa para o cargo, enquanto só 5% disse isso em relação a Obama. Contudo, 68% acham que ele é o candidato com mais chance de realizar mudanças.

Todos os dados correspondem à pesquisa de 5 de março do Edison/Mitofsky National Election Pool (http://www.exit-poll.net), consórcio criado em 2003 pelas maiores organizações de mídia dos EUA para centralizar a realização de pesquisas de boca de urna(PB).

2 comentários:

Anônimo disse...

colé, Patrick!!
muito legal essas matérias. gostei do texto, e gosto também de ver você conseguindo manter sua profissão aí nos eua. brasileiro em nyc que não tá no trabalho braçal.

beijo,
Bel.

Anônimo disse...

Caro Patrick, estudo Letras na UNEB e tenho que apresentar um seminário sobre o seu livro Velhas Fezes. Gostaria de lhe fazer algumas perguntas sobre o livro.
Se puder me ajudar meu e mail é leandro_silvams@hotmail.com