9.10.08

Agridoce

A vida no exílio é agridoce, como toda vida deve ser. Quando a saudade amarga demais se começa a cavoucar entre os grãos para produzir banquetes de feijão gorduroso; São dias de trabalho e reviravoltas, de grandes oportunidades efêmeras que se dissolvem em questão de horas. E a atmosfera de pânico, incruada nas torres que admiro entre um cigarro ou outro, do outro lado do rio. Wall Street anda vazia esses dias. Todos parecem satisfeitos demais em criticar a própria queda, quando poderiam enxergar a luz de toda essa loucura. Assisti satisfeito ao circo pegar fogo desde o ano passado mas esse prazer amargou nos últimos dias. O governo americano está se debatendo desesperadamente para conter o colapso do sistema financeiro mundial: descobriram que aquele dinheiro todo não existia. Há uns quinze dias, começava a esfriar e a televisão não parava de chiar com falências astronômicas de baluartes do sistema. Desliguei o aparelho, sentamos à mesa. O Natal será difícil em 2008, disse minha mulher, esfregando os olhos.

A Média Industrial Dow Jones já retrocedeu para onde se encontrava antes de Bush assumir a presidência. Os americanos reclamam que suas contas de aposentadoria, cujo rendimento arriscado foi achatado pela crise, perderam US$ 2 trilhões nos últimos quinze dias. Ninguém sabe onde vai parar esse buraco. A nacionalização mundial dos bancos pode ser um golpe de humildade importante para a megalomania dos materialistas, mas também ameaça causar uns cinco anos de estagnação dolorida. Os brasileiros pelo menos já estão acostumados.

Benjamin Graham, famoso professor de economia, foi um dos principais proponentes do investimento de longo prazo, em que se busca dividendo e o acionistas realmente
acompanham o desempenho da empresa. Warren Buffett, o segundo homem mais rico do mundo, famoso pela modéstia e frugalidade, é um de seus discípulos. Graham dizia que o "Mr. Market" é um cara estranho, volúvel, que todo dia aparece na sua porta oferecendo um preço diferente para compra e venda, e o melhor a fazer é não se atazanar com tanta amolação.

Lula está vivendo no país dos sonhos e por isso mesmo mente gostoso. A crise bancária não afetou as grandes instituições brasileiras, recheadas de depósitos, mas dificultou pra muito banco médio e pequeno refinanciar suas operações de crédito. E crédito, porra, foi o que disparou o Brasil esse ano. O Globo chegou a dizer que os grandes bancos estavam tentanto forçar as piabas a vender carteiras de crédito na bacia das almas, a.k.a. fucking cheap. Pra frente, Brasil.

Já faz quinze dias que o formulário de registro para votar nas eleições presidenciais está juntando poeira na mesa. Tenho assistido aos debates avidamente mas evito defender qualquer candidato. Eu gosto mesmo é de atacar Sarah Pailin. Eu respeito McCain e já senti admiração por seu passado heróico, mas não acho que ele tenha a capacidade de compreender os frenéticos desafios da era. Obama é muito mais confortável na manta de reformista. Caso vença as eleições, como prevêem as pesquisas, Obama representaria um notável marco na evolução das relações raciais nos Estados Unidos e no futuro da nação como um todo, há apenas 50 anos do movimento dos direitos civis e Martin Luther King Jr. Mas Obama pode ser uma merda. Faz um ano que acompanho essa eleição e Obama me parece muito mais um cara conciliador, centrista, do que esse bicho perigoso que os republicanos andam pintando por aí. Oremos para que o destino não depósite no julgamento de Sarah Palin, a caçadora de alce do Alasca, a decisão final de vaporizar ou não o Irã.

ANL, o vampiro da lâmpada fluorescente.

2 comentários:

Anônimo disse...

it's the end of the world as we know it.And i feel fine.

Anônimo disse...

massa você voltar pras crônicas, patrick.
beijo,
Bel.