20.1.09

A posse, diretamente da minha sala de estar

Passei a maior parte do discurso inaugural de Obama no metrô, com vontade de ir ao banheiro, na companhia de uns poucos nova-iorquinos mal humorados. Depois sentei no colombiano pra comer empanadas, a tempo de ver que Obama terminava de discursar.

Continuei assistindo de casa. No almoço presidencial, um acontecimento ominoso: o colapso do senador democrata Ted Kennedy e de um senador republicano. Ted é o último dos três irmãos que entraram na política, junto com os já falecidos John F. e Robert "Bobby".

Nos degraus do Congresso, chega a hora da parada militar. Tropas em uniformes
do século 18, tocando flauta e tambor, desfilam num anacronismo simbólico de que o presidente é também o comandante das Forças Armadas - tradição desde o general George Washington. Apenas um presidente quebrou a regra implícita de apenas dois termos, criada pelo próprio Washington. No entusiasmo da revolução contra os ingleses, chegaram a sugerir coroá-lo rei da América. Humilde, não quis. Durante a Grande Depressão e a Segunda Guerra, contudo, Franklin Delano Roosevelt se elegeu quatro vezes e morreu no poder, em 1945, após 12 anos de governo. George W. Bush se despediu da equipe de governo numa festa melancólica no domingo (?!) de noite. O repórter da Slate conta como foi. Adianto que estava frio, a comida era churrasco texano e tinha cerveja da Anheuser-Busch Inbev (aka Budweiser). Os caras da slate fizeram um especial humorístico de despedida do Bush (em inglês).

Depois da parada militar, o presidente aperta a mão do oficial de cerimonial que
liderara a apresentação das tropas. Quebra de protocolo; deve bater continência. E assim o faz, depois de ser lembrado pelo próprio oficial. A tv exibe um plano aberto da limonise presidencial, um Cadillac blindado negro, produzido pela quase falida General Motors. Na frente do carro há dois agentes secretos de óculos escuros e terno preto. A cena adquire um tom fúnebre. Me lembro de JFK, assassinato presidencial que completou 45 anos ainda muito mal resolvido. A limunise presidencial parte para a parada. Gritos histéricos. A esplanada em Washington está lotada com 2 milhões de pessoas. A temperatura começa a cair. Zero grau.

Entusiasmados jornalistas entrevistam crianças comoventes, mais gritos histéricos, bandeirolas na rua. A última posse de Bush, em 2004, atraiu 900.000, mas a multidão de Obama já ultrapassa os dois milhões. Desisto de assistir, mas fica na boca um gosto de rito. Enquanto o novo presidente segue para a parada oficial, para os gritos enlouquecidos, Bush e sua mulher deixam a Casa Branca de helicóptero, à moda de Nixon. Vacilante, Bush dá um aceno rápido antes de entrar no helicóptero. Evita o ar triunfante e fatalista de Nixon em 1973, ao renunciar por causa de tanto jogo sujo. Bush não olha para trás; as portas do helicóptero se fecham rapidamente, a nave decola, as câmeras voltam a sugar a luz das celebridades do momento.

http://www.slate.com/id/2209137/
http://www.slate.com/id/2208448/

2 comentários:

Anônimo disse...

necessario verificar:)

Anônimo disse...

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