O diáfano mundo das celebridades foi acossado recentemente por alguns incidentes que podem parecer insignificantes mas que se ligam a outros e formam uma corrente aterradora. Sem se ater à água, o detergente e o tanque, digamos que representantes do Olimpo social vêm se digladiando com a mesma ferocidade com que revezam consortes entre si. Ou então alguém é espancado na saída da boate, como vejo às vezes no'Globo, a propagar o espanto da violência entre a elite do Rio de Janeiro. Óbvio que nos bastidores, longe do Leblon, continua a guerra urbana do tráfico.
Essa (ou aquela, lá longe) guerra e o alarde míope com a violência retroalimentam um medo coletivo que pode muito bem motivar essa reação. Esperemos pelos sociólogos e antropólogos que decifrem essa tendência, apontem as causas e não as conseqüências. Sempre existiu a cultura do valentão, nos EUA usa-se o termo "bully": uma dona de casa do Colorado está em julgamento por se fingir de menino e atormentar uma problemática adolescente vizinha ao suicídio. No caso, gente louca dos subúrbios estadounidenses. Mas no caso dos famosos brasileiros, é difícil entender tanta raiva se não for fruto do medo disseminado. São todos belíssimos, estão no topo da sociedade, desfrutam de todos os rapapés que o dinheiro pode comprar em nosso mundo materialista.
Os amigos me falam de nova cracolândias no Rio Vermelho, um familiar próximo foi assaltado sob a mira de uma arma. Você lembra quando foi a última vez em que saiu para a rua sem temer um delito? Da última vez que fui ao Brasil, quis andar da Rubem Berta até a avenida ACM, uns 500 mestros, e meu amigo Uchôa advertiu: que é isso man? Tá louco? Sempre circulei desafiador pelas ruas supostamente seguras e ao mesmo tempo perigosa do bairro em que morava em Salvador, considerado por muitos um dos melhores da cidade. Andava com a carteira vazia, sem cartões de crédito ou débito. Mas o lugar me parecia familiar, portanto seguro. Será que eu deveria me esconder?
Essa cultura da violência. Talvez tenham entendido mal "Tropa de Elite", não conseguiram ultrapassar a refinada estética de um retrato da pobreza e corrupção para refletir sobre a doença daquilo tudo. Aí reside um exemplo do perigo da arte de massa diante de um entendimento ralo numa comunidade em transe, porque é preciso urgentemente ultrapassar a pele das coisas. Não é à toa que ensinam semiótica em algumas faculdades.
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