8.11.08

Obama e as platitudes

A mídia brasileira se empolgou mesmo com Obama pelo que tenho visto, e também li muitas críticas às eleições, como "mais do mesmo". Esse estranhamento é absolutamente natural diante das diferenças entre os dois países e do radicalismo da era Bush. Transformaram mesmo o homem no salvador da pátria. É muito cedo ainda para sacar como será a política para a América Latina. Mas também é iluminador descortinar o oba-oba que sempre costuma enfeitar esses momentos importantes na história.

Se seguir o padrão que vinha pregando na campanha, será mais protecionista e portanto desfavorável para a balança comercial brasileira; manterá o apoio a subsídios agrícolas americanos como a tarifa de 54 centávos de dólar por 3,8 litros de álcool brasileiro importado, sobre a justificativa de "dumping". Um agrado aí de uns 15 bilhões de dólares por ano para o setor agrícola do seu país.

A política inflacionária do Federal Reserve é realmente o mais preocupante se analisarmos as oscilações no mercado mundial nos últimos meses. Depois de um período de forte alta as commodities começam a cair, a exemplo do petróleo, que chegou a 145 dólares o barril no início do ano mas agora caiu pra 65. A irresponsabilidade do governo americano, que manteve os juros baixos em 2000 e incentivou uma bolha mundial de crédito, acaba custando caro para o resto do mundo. Acéfala, a ONU deveria estar mais atenta à crise alimentícia que enfrentamos este ano, mas o Conselho de Segurança virou uma farsa depois da invasão do Iraque, como atestam também as inúmeras guerras africanas. No Congo, há um senhor chamado Laurent Nkunda no qual devemos ficar de olho. Nkunda lutou na Frente Patriótica Ruandesa, inimiga do exército genocida do governo de etnia Hutu em Ruanda durante 1994. Sua facção guerrilheira controla a área do Parque Kivu, patrimônio da Unesco onde vivem os poucos gorilas remanescentes no mundo. Recentemente, Laurent enfrentou as tropas da República Democrática do Congo e das Nações Unidas na Batalha de Goma.

Historicamente, nenhum império conseguiu se manter em guerra e com déficit nas contas; o dos EUA é calculado em US$ 5 trilhões. O plano de Obama é investir 150 bilhões de dólares em pesquisa e desenvolvimento de fontes alternativas de energia, o que é bom pra todo mundo no planeta, não só para os americanos, que produzem 22% da energia mundial mas consomem 25%, principalmente petróleo e carvão. Tudo indica que a economia americana vai contrair sensivelmente nos próximos meses por causa da espiral recessionária. Os preços das commodities devem continuar estáveis, até porque dois a demanda chinesa deve desaquecer - o furor dos jogos Olímpicos foi muito mais do que belas cerimônias totalitaristas nos modernos estádios de Pequim. Após os jogos, a economia chinesa sentiu o impacto das ordens de fechar o parque industrial da capital para melhorar a qualidade do ar na região. Em paralelo, depois de o governo americano se manter fiel à ortodoxia neoliberal até o último instante, a casa caiu em Wall Street. Os dois países estão conectados pelo comércio mundial e o investimento chinês em títulos do Tesouro dos EUA, se um sofre o outro também sofre.

É sobre isso que é mais importante discutir quando se trata de pensar um caminho viável para a raça humana, uma alternativa a essa cassino de Wall Street, à essa sociedade do desperdício materialista. A não ser que chova sapos no Times Square depois de amanhã eu duvido que os EUA abandonem sua sua índola messiânica no curto prazo. O Sol sempre brilhava no império britânico, se dizia no início do século XX. Hoje a realidade é bem diferente. Eu pessoalmente prefiro Henry David Thoreau a Thomas Jefferson, e Billie Holiday a Ella Fitzgerald. Se democrata fuma maconha e republicano tem arma em casa é só uma mera curiosidade, uma platitude.

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