5.3.07

Um novo Vietnã



"Querido Deus, por favor acabe com a dor em meu braço e minha perna. Eu o peço isso em nome do Senhor"

Quase inteiramente paralisado, Roberto Reyes, de 25 anos, tenta segurar com dois dedos o cartaz com seu pedido de fé na capela do hospital militar James J. Peters, no Bronx, em Nova Iorque. Reyes integrava a Cavalaria dos EUA quando foi ferido por uma bomba enquanto dirigia seu jipe Humvee no Iraque. Enviado para o hospital Walter Reed, em Washington, antes considerado o melhor hospital militar dos EUA, Reyes sofreu queimaduras de terceiro grau quando uma enfermeira o esqueceu embaixo de um chuveiro escaldante. Mesmo paralisado, Reyes ainda está consciente. Ele adora quando sua mãe ou sua irmã aproximam o rosto de sua mão e ele pode tocá-lo com seus dedos.

Reyes é apenas um de milhares de veteranos da guerra do Iraque que enfrentaram atendimento médico precário no retorno para casa, escândalo revelado em série de reportagens do "Washington Post" e que agora vem sendo investigado por uma comissão parlamentar do Congresso americano.

O escândalo já derrubou generais de duas estrelas e outros caciques da retaguarda do Exército dos EUA, exibindo uma ferida fétida que lembra um filme B sobre a Guerra do Vietnã e suas mazelas. Durante meses de investigação, repórteres do "Post" compilaram centenas de relatos horripilantes sobre maus-tratos e condições precárias não apenas no Walter Reed, mas em dezenas de outros hospitais em todo o país: burocracia e tratamento desumano de pacientes incapacitados; quartos mofados, sujos ou com amianto, um material cancerígeno; pacientes feridos mas ordenados a formar fileira em meio a neve e temperaturas congelantes; denúncias de soldados abafadas na base da intimidação. "Muitos de nós tiveram de assinar uma declaração isentando o governo de responsabilidade e admitindo que nossos alojamentos eram abaixo do padrão", relatou ao "Post" um soldado da base Fort Irwin, na Califórnia.

Dos cerca de 184 mil veteranos do Iraque que buscaram atendimento no sistema de hospitais militares, 64 mil foram diagnosticados com possíveis sintomas de stress pós-traumático, abuso de drogas ou outras doenças mentais, segundo o último relatório da Administração de Saúde dos Veteranos dos EUA, atualmente 24,3 milhões, dos quais 1,5 milhão lutaram no Iraque e Afeganistão.

Como pode-se julgar um país militarista que trata seus veteranos de guerra como refugos sociais?