30.6.05

Hoje estreou a coluna "Ficções", no Caderno Dez! de A Tarde. Considerado pela ANDI o melhor suplemento juvenil do Brasil, o Dez! publicará um texto de Patrick Brock todas as quintas-feiras. Os textos serão postados aqui no palavrascruzadas.blogspot.com

CADERNO DEZ/JORNAL A TARDE/30/06/2005

Muito prazer, o prazer é meu

“A verdade é que vivemos a adiar tudo o que é adiável; talvez todos saibamos profundamente que somos imortais e que mais tarde ou mais cedo todo homem será todas as coisas e saberá tudo” [ “Funes o Memorioso”, Ficções, Jorge Luís Borges]

Patrick Brock

Mesmo que escrever para vocês seja totalmente importante para mim, deixei para a última hora, em busca daquele sopro repentino. E veja: acho que agora está funcionando. Gal Costa Old School ajuda, conhecem? O nome da coluna é inspirado num livro que acabei de comprar, com capa de couro e acentos antiquados nos lugares errados. Pensei em fazer disto um tratado de intenções ou uma carta de apresentação, e quis colocar logo de cara uma história louca que pesquei. Os gatilhos se encontram onde menos espero, um fórum na internet sobre uso de meth, notícias loucas.

Gostaria de focalizar mais os meus olhos na boa terra, olhar pra ela diferente e contar algo sobre Salvador. Digamos que neste ramo você tem que aprender muita coisa sozinho. Mas, lendo, dá pra você sacar mais ou menos o que é que você quer. Por enquanto, só sei que quero me afastar daquilo que é desconectado com a minha geração. Sem universalismos, afinal, isso aqui é arte ou não é? Universalidade tem pouco a ver com a coisa. Mas vou ter que exercitar bastante essa sutileza enquanto estiver por aqui. Que Borges seja meu pastor e nada me faltará.

Estou em busca de uma sutileza que não é muito diferente da leveza, um dos aspectos ressaltados por Italo Calvino nas palestras inacabadas de “Seis propostas para o próximo milênio”. É hora de pesar os valores, lapidar as pedras; muito prazer, o prazer é meu.

Patrick Brock, 26, publicou Velhas Fezes (Edições K, 2004) e Textorama (2005).
Email: brock@atarde.com.br
Chora argentinha, chora... todo o tango do mundo será pouco, seus pernas de pau!

28.6.05

104


104 degraus, conto um a menos, pouco importa. Me lembro Porto Alegre, a cidade fria onde brasileiros são quase argentinos, bebem muito e admiram seu próprio sotaque. Lá as pessoas conversam, e o taxista ouve Mozart. Recordo coisas estranhas, feitas na distância. Tanto mar Porto Alegre, agreste ou a cidade onde nunca estive. Caminho estrangeiro em meu bairro. Cidade é apenas um nome.

André Setti

24.6.05

RECEBI POR EMAIL. CURTI. VAI NA LINHA DO QUE ANDRÉ 7, HÁ POUCO, PUBLICOU:
Era a terceira vez que aquele substantivo e aquele artigo se encontravam no elevador. Um substantivo masculino, com um aspecto plural, com alguns anos bem vividos pelas preposições da vida. E o artigo era bem definido, feminino, singular: era ainda novinha, mas com um maravilhoso
predicado nominal. Era ingênua, silábica, um pouco átona, até ao contrário dele: um sujeito oculto, com todos os vícios de linguagem, fanáticos por
leituras e filmes ortográficos. O substantivo gostou dessa situação: os dois sozinhos, num lugar sem ninguém ver e ouvir. E sem perder essa oportunidade, começou a se insinuar, a perguntar, a conversar. O artigo feminino deixou as reticências de lado, e permitiu esse pequeno índice.

De repente, o elevador pára, só com os dois lá dentro: ótimo, pensou o substantivo, mais um bom motivo para provocar alguns sinônimos.
Pouco tempo depois, já estavam bem entre parênteses, quando o elevador recomeça a se movimentar: só que em vez de descer, sobe e pára justamente no andar do substantivo. Ele usou de toda a sua flexão verbal, e entrou com ela em seu aposto. Ligou o fonema, e ficaram alguns instantes em silêncio, ouvindo uma fonética clássica, bem suave e gostosa. Prepararam uma sintaxe dupla para ele e um hiato com gelo para ela. Ficaram conversando, sentados num vocativo, quando ele começou outra vez a se insinuar. Ela foi deixando, ele foi usando seu forte adjunto adverbial, e rapidamente chegaram a um imperativo, todos os vocábulos diziam que iriam terminar num transitivo direto.

Começaram a se aproximar, ela tremendo de vocabulário, e ele sentindo seu ditongo crescente: se abraçaram, numa pontuação tão minúscula, que nem um período simples passaria entre os dois. Estavam nessa ênclise quando ela confessou que ainda era vírgula ele não perdeu o ritmo e sugeriu uma ou outra soletrada em seu apóstrofo.

É claro que ela se deixou levar por essas palavras, estava totalmente oxítona às vontades dele, e foram para o comum de dois gêneros. Ela
totalmente voz passiva, ele voz ativa. Entre beijos, carícias, parônimos e substantivos, ele foi avançando cada vez mais: ficaram uns minutos
nessa próclise, e ele, com todo o seu predicativo do objeto, ia tomando conta.Estavam na posição de primeira e segunda pessoas do singular, ela
era um perfeito agente da passiva, ele todo paroxítono, sentindo o pronome do seu grande travessão forçando aquele hífen ainda singular. Nisso a
porta abriu repentinamente. Era o verbo auxiliar do edifício. Ele tinha percebido tudo, e entrou dando conjunções e adjetivos nos dois, que se encolheram gramaticalmente, cheios de preposições, locuções e exclamativas. Mas ao ver aquele corpo jovem, numa acentuação tônica, ou melhor, subtônica, o verbo auxiliar diminuiu seus advérbios e declarou o seu particípio na história.

Os dois se olharam, e viram que isso era melhor do que uma metáfora por todo o edifício. O verbo auxiliar se entusiasmou, e mostrou o seu adjunto
adnominal. Que loucura, minha gente. Aquilo não era nem comparativo: era um superlativo absoluto. Foi se aproximando dos dois, com aquela coisa
maiúscula, com aquele predicativo do sujeito apontado para seus objetos.
Foi chegando cada vez mais perto, comparando o ditongo do substantivo ao seu tritongo, propondo claramente uma mesóclise-a-trois. Só que as
condições eram estas: enquanto abusava de um ditongo nasal, penetraria ao gerúndio do substantivo, e culminaria com um complemento verbal no artigo feminino. O substantivo, vendo que poderia se transformar num artigo indefinido depois dessa, pensando em seu infinitivo, resolveu colocar um ponto final na história: agarrou o verbo auxiliar pelo seu conectivo, jogou-o pela janela e voltou ao seu trema, cada vez mais fiel à língua portuguesa, com o artigo feminino colocado em conjunção coordenativa conclusiva.

23.6.05

- quem é essa mina aí no Jô?
- essa mina é santiago nazarian.
- puta, pensei que era giulia gam.

22.6.05

disse meu nobre colega em plenário:

"Parece que os ex-terroristas estão andando por trincheiras tortuosas..."

deputado de tocantins. (cadê o meu, pô?)

21.6.05

FEIRA

Olha aí! Olha aí Freguesia! O cacho de vírgulas é 5 reais, 4 reais pra você, olhaí, a dúzia de tremas, 3 reais, 3 reais, dura até 2008, freguesa, pra acabar, o acento agudo pro seu marido, dois reais, dois reais, e um centavo o poema.

André Setti

10.6.05

on the way home

difícil descrever a sensação de voltar para casa, as coisas familiares, a mesma poeira sob a mesa e os porta-retratos. os hábitos persistentes se repetem em todos os lugares, ouvir radiouol, ver tevê à noite antes de dormir.



sinto olhares, será só a minha cabeça? pediram que escrevesse uma coluna, colunas de luz brilhante quando penso nisso. as dúvidas me assaltam, mas tenho certeza do amor à coisa. sim. foram tantas cidades e rodoviárias, aeroportos, avenidas brasil e benjamin constant se repetindo em paisagens diferentes. as pessoas são o tesouro maior, como se revelam em atitudes sutis e permitem que sejam percebidas seus recônditos. as órbitas chega queimam de tantas imagens guardadas.



sandrini sorridente em curitiba, essa figura extraordinária nas ruas amplas, ar frio e cafés. curitiba é um território oculto em projetos urbanísticos e cemitérios editoras e bebedeiras animadas, todos os lugares são cafés impulsivos.

em porto alegre, meu deus, tanta bebedeira, como um crescendo, tenho pequenos momentos de reflexão durante música alta. lugares assim não me pertencem mais. vejo um pequeno jogo se formar entre pessoas variadas, xadrez de música dançante e cerveja quente. como da primeira vez em que fui ao ocidente, algo de ruim tem que acontecer: levaram meu casaco. coisa de baiano de criação, perdido nas mudanças de temperatura.

passamos uma longa tarde de carro no interior do rio grande do sul, por estradas perigosas, indo e voltando, ganhando altitude, escada de cidades no topo da serra. conheci a cidade em que nasci, caxias do sul, uma ilha estranha de indústrias e movimento entre morros.



nunca esqueço as idéias de acidentes aéreos. fogo e destruição quando o boeing sacode entre uma pequena refeição e outra. aham. desculpe a secura. mas é sobre isso mesmo que eu queria falar, a secura do texto. sempre há momentos; tantas emoções. aham. as memórias sumiram momentâneamente. o importante é que cheguei em casa, alguns móveis mudaram de lugar, guardo a lembrança de todos vocês por essa estrada longa e divertida e eu nunca esquecerei.

kcirtap kcrob (para bolla, que sabe das coisas)

9.6.05

tributo a Al nite lang 3

6.6.05

Wlad, essa é pra você!!!!!!!!!


PEDALA, ROBINHO

Foi um gol de anjo um verdadeiro gol de placa
Que a magnética agradecida assim cantava
Pedala, Robinho, nós gostamos de você
Pedala, Robinho, faz mais um pra gente ver
E novamente ele chegou com inspiração
Com muito amor, com emoção, com explosão e gol
Sacudindo a torcida aos 33 minutos do segundo tempo
Depois de fazer uma jogada celestial em gol
Pedalou, driblou dois zagueiros, deu um toque, driblou o goleiro
Só não entrou com bola e tudo porque teve humildade em gol
Foi um gol de classe onde ele mostrou sua malícia e sua raça
Foi um gol de anjo um verdadeiro gol de placa
Que a magnética agradecida assim cantava
Pedala, Robinho, nós gostamos de você
Pedala, Robinho, faz mais um pra gente ver...

adaptação: André Setti

2.6.05

o demencionismo, esta equação polifônica dialógica dialética surreal, se baseia no erro ou no acaso como possível fonte de novos caminhos
vejam isso:
http://photos1.blogger.com/img/52/2382/640/orkut

1.6.05

"Quero lutar, mas sem este fardo".

Frase escrita na USP e bem emblemática do dilema da minha geração. Acho que nós até sabemos um pouco o que é o fardo, por isso evitamos a luta.

Um cubano riria de nós.... e com muita razão.

André Setti