30.3.04

BUCÉFALO



Olhei para aquela Homem. Queria rasgar suas entranha.s Olhei para aquela mulher Queria beijar suas coxas. Meu dia começou muito mal. Virava o rosto de um lado pro outro, sentia falta de ar, dores no corpo. Tentei dormir feliz e não consegui. Então entrei nas brumas do sonho. Corria nu por uma rua de pedra portuguesa, até que uma voz familiar me acordou.

O telefone tocara para mim. Atendi, com a voz rouca. O Chefe me queria, já, urgentemente! Fiquei pensando se ele refletia sobre o poder que detinha, enquanto o sol no ônibus esquentava meu rosto.
Quando cheguei, fiz o caminho familiar até sua sala.

Foi tudo muito rápido, como da outra vez (2003), quando em menos de cinco minutos eu me tornara um trabalhador daquela instituição. Foi rápido demais, foi um daqueles momentos difíceis de entender na vida da gente. Sentei na cadeira, cumprimentei os amistosos. A vida é louca mesmo, pensei, quando Mídia me dava um abraço.

Al Nite Lang

29.3.04

Foi lido com atraso o recado desesperado do Lebowski de Campinas (brevemente estreando em livro, com Ladrões de violino):

De: Delfin
Para: palavrascruzadas2003@yahoo.com.br
Data: Fri, 26 Mar 2004 18:56:53

Hoje!
Funhouse!

Hoje!
Estou sem o fone novo do Bullar!
Avise!

Hoje!
Hoje!
Hoje!
ESPETÁCULO

Dezembro é o melhor mês. Em sete dias, já é o quarto prédio. Esse é alto. Ela tá no décimo. A rua não é muito própria.
Apenas oito pessoas em volta. Na casa dos 40, a moça. Relutante... parece pouco desesperada, ou lindamente dissimula.
O cara diz que ela tá em dúvida, provavelmente quer fazer um charme. Discordo. Não tenho presa; o problema são os bombeiros. Nada é perfeito nessa vida.
Analiso as gotas de suor de seus pés, fotografo o furacão em seus olhos. Mulher especial, esta. Dá de dez na da semana passada.
Mergulho excelente. Vôo... razoável (falhas de execução técnica). Bonito o Picasso de suas tripas nesse asfalto impróprio, a plasticidade de seu exercício de solo.
Valeu a pena, mas o de ontem foi muito melhor.

André Setti
O MACHO



As mulheres da minha vida sempre me fuderam. A começar pela babá, que era sádica e enfiava um consolo de plástico no meu cu, quando eu tinha um ano. Depois, a primeira namorada. Gostava de fuder. Me dominou e me largou. Fiquei igual a uma besta, correndo atrás dela. Ela se divertia com meu sofrimento, tentava botar ciúme em mim. Passei o resto da adolescência sozinho, sofrendo. Aos vinte, a primeira namorada séria. Ia pra casa dela, a gente ficava conversando, dando beijo na boca, pegava no peitinho dela. Um dia ela me deixou pegar na buceta. Era uma buceta linda, de pelos claros, rosada.

Casamos. Eu me formara em engenharia e tinha um bom emprego, obras públicas. Tivemos um filho, Róbson. Um ano depois, uma filha, Marina. O casamento virou um inferno. Minha esposa engordou, ficou com a auto estima baixa. Dizia que eu não comia ela. Ela é que não sentia tesão. Arranjou um amante. Quando completamos cinco anos de casados, ela fodia todo dia com os amantes. Deixava as crianças sozinhas. Eu trabalhava. Até que um dia, cheguei em casa e encontrei o Róbson morto. Marina chorando, estavam brincando de empurrar um ao outro, ele caiu com a cabeça na quina da mesa. Meu filho, primogênito, lá, encravado na mesa de vidro que minha esposa tinha comprado numa loja de decoração caríssima. Não tinha mais clima pra continuar, nos separamos.

Fiquei solteiro sete anos. Fodia algumas empregadinhas do prédio, colegas de escritório, mas não me ligava a ninguém. Até que apareceu a Dulce. Ela tinha uma padaria, era rica. Eu já tinha passado dos trinta e cinco. Estava no mesmo cargo há cinco anos. Olhava o escritório e sabia que não ia pra lugar nenhum: eu não era genial, não ia ficar rico. Ia trabalhar até os sessenta anos de idade e me aposentar, viver mais uns vinte, no máximo, morrer, ser esquecido.

A Dulce ia me sustentar. Fomos morar juntos, uma cobertura. Ela me deu um carro importado. Minha filha, a Marina, já estava crescida. Era uma coisa linda, parecia minha esposa quando a conheci. Ela levava a garota pra passar um fim de semana comigo, todo o mês. Ela era ótima, inteligente. Aí, um dia, a Dulce tinha saído, a menina apareceu de calcinha, sem camisa. Perguntou se eu podia ensaboar as costas dela. Fomos pro banheiro, ela tirou a calcinha. Cabelos castanhos clarinhos, bundinha firme, seios apontando. Uma penugem na buceta. Passei o sabonete nas costas dela, esfreguei, mas foi uma coisa paternal, mesmo. Fiquei excitado, um pouco, mas porra, ela era minha filha, e eu era humano. Uma coisa descontava a outra. Acabou o banho, ela foi pra casa. A Dulce chegou. Transamos gostoso, depois eu preparei um jantar pra ela, tinha aprendido a cozinhar na época que fiquei solteiro. Dormimos abraçados, felizes. No outro dia, a polícia veio me buscar. Minha ex-esposa estava com eles. Ela gritava "você abusou dela, você abusou dela". Fui preso. Como tinha diploma universitário, fiquei em cela especial. Dulce não veio me visitar, só os seus advogados caros. Ela estava me processando por danos morais. Olhei para o anel de um deles. Devia custar uns cinco mil doláres.

Fui condenado a sete anos. Na carceragem, quem prepara as refeições é uma equipe do presídio feminino, várias mulheres se revezam. A comida é horrível. Outro dia achei um pentelho. Pentelho mesmo, não aqueles cabelos do braço. Continuei comendo e fiquei pensando se a minha ex-esposa tinha mandado Marina agir daquele jeito. Espero que no julgamento da Dulce seja um juiz. Até por que eu não tenho dinheiro pra pagar um advogado, minha chefe me demitiu. A defensoria pública mandou uma estagiária. Olhos azuis, sétimo semestre de direito, uma idealista, quer direito criminal. Sou seu primeiro caso. Fudemos nos cantos escuros da prisão e vejo minha condenação sucumbir ao poder da buceta.

Patrick Brock, 00:05 19/09/01
WASABI.
.::..:.Bem legal. Mais um fantástico. Latino Americano.

28.3.04

BULLAR STYLE



1. O furacão se aproxima do litoral. Os postos de controle e centrais de processamento estão prontos para receber minhas informações. Dedilho meus cabelos, sinto o cheiro do meu próprio corpo e do terminal amassado, sujo, que uso para minhas funções. Olho pela janela: nuvens descascam pela noite.

2. Meu barco está voando pelos céus de Florianópolis. Estou sozinho, sem peixe, faca ou rádio de pilha. A noite é fria mas logo vai terminar. Tudo voa neste ambiente de ar dinâmico. Meu coração está longe, a vaca voa e se divide em pedaços econômicos.

3. O Atlântico Sul. As cidades amarelas e vermelhas do país tropical. Oceanos; Luzes; Radiação não ionizante.

Al Nite Lang

26.3.04

fantoche de papel gatinho

o carro passou por cima do cachorro

24.3.04

DIAGONAL

Agora estou sozinho. Lendo a menina laranja do maior escritor do mundo, destilando a vida em pequenas doses enquanto a marcha diagonal evita cacos sobre meu ânimo em suspenso.

André Setti

LOVE CANAL




Sou um jóquei de informações obeso. Minha paixão por computadores surgiu depois que fui abandonado por minha primeira mulher, Ana Lúcia, há dois anos. Hoje, com 34, possuo um Pentium 4, 512 MB de memória RAM, placa de vídeo 3D e drive combo. Navego a Internet fácilmente, graças a um serviço de conexão ADSL. Para operar essa aparelhagem, tenho uma cadeira macia e confortável. Ela possui manchas dos lugares onde derramei comida rápida e fácil (cachorro quente, etc). No começo me masturbava muito, com saudade da Ana. A pornografia me manteve vivo depois disso. Tornei-me obcecado por máquinas e agora estou sentado, olhando a mancha de mostarda na minha roupa. Descobri, entre uma pesquisa do Google e um artigo pensante, a Verdade da Vida. E é mentira.

Brock

23.3.04



*Los resultados no pueden ser extrapolables a toda la población, ya que el estudio se realizó únicamente con los datos disponibles en hospitales del IMSS y no toda la población recurre a estos servicios; además, sólo se analizaron las consultas de urgencias como un evento centinela, pues probablemente son representantes de los casos más graves

Açougue 2

Os imbecis que vêm aqui todo dia não sabem a origem do que compram. Me lembro o conselho de meu pai: “Quem não caça, caça é.” Velho esperto. Morreu sem nunca me explicar o que queria dizer, mas o tempo me fez entender. Fiz faculdade, estudei filosofia. Muitas noites andei pelas ruas imundas deste bairro de imigrantes, sem dinheiro, tentando sobreviver à triste herança que paralisava as horas. Os livros só me deram pistas falsas, faziam as coisas girar em círculos. Fui arrastado por uma teia de erros durante anos, acreditando que pertencia a uma elite. Minha mãe, absorta, vendo tv. Morta e não sabia. Fui ligando os fios aos poucos; no raio-x da mente enxergando vísceras, ossos. Minhas mãos serviam para quê? Diplomado e sem emprego, procurei resposta. O país desnorteado, exaurido. No parque, conheci a balzaca. Me arranjei com ela; sexo, comida e bebida de graça. Foi bom por uns meses; sentia o corpo ganhar peso, endurecer, funcionar como uma máquina. Mas máquina bruta, trabalhando sem vida própria. Isso foi me dando idéias. Idéias mesmo, não besteiras de aula. Dopei a balzaca com tarja preta e serrei-lhe a carne madura na altura do quadril; cortei umas pelancas e fiz dois pacotes massudos. Precisava grana. Meu roteiro agora é do esgoto onde durmo pro açougue; do açougue pro parque, à noite, catando presa.

Wladimir Cazé

22.3.04

30 SEGUNDOS

Rato morto no asfalto de casa. Pau duro, sexo gostoso, vírus feito leite materno.

A 7
bicudos...
até agora tudo calmo no treinamento do homem-gabiru no balcão de informações. só passageiros perguntando por chegadas domésticas e onde ficam varig, anvisa, serac 4. como em qualquer dia-de-feira, o formigar humano ocupa os corredores do terminal, coalhado de poder aquisitivo.

"onde fica a farmácia?"
"no piso mezanino, senhor."

os funcionários terceirizados demonstraram sua influência política aderindo massivamente ao concurso do próximo domingo. gabiru e outros miseráveis da comunicação social virão substituí-los na manhã da prova, desobservando ao dia santo. este é um dos motivos por que condeno a terceirização dos serviços públicos.

"onde fica o check-in da Gol?"
"no final do corredor."

penso no material atômico que o terror pode estar transportando para o território norte-americano, frame por frame a hecatombe monta seu espetáculo, uma enorme onda roxa, rosa e vermelha prestes a quebrar. os pedaços da bomba podem mesmo estar na bagagem de um dos estrangeiros que atendemos todos os dias no aeroporto.

"where do i take a bus to avenida paulista?"
"just outside the building, sir."

verifico a validade dos extintores. pisco o olho para a passageira loira de pernas de fora. vejo um cara apalpando com fúria o peito da namorada de camisa colada, ela negaceia. sinto cheiro de cerveja e lembro da geração Copan, enquanto redijo um post ao estilo de Brock.

(wc)
Frase do dia:

"O processador é a parte mais importante de um micro." (Robocop dos teclados)

20.3.04

LABAREDA

Inspecionando
a configuração do fogo,
resplandecem-me vultos sonoros,
prolongam-me alturas
que não domino,
paralelas aos transes do vento.

André Setti

19.3.04

..sexta feira. o3:32 am.::..
chove na pista de dança.|
no visor eletrônico, recebo a mensagem: GATO PRETO, CAÇA NÍQUEIS.
Não se preocupe, estou aqui. Minhas mãos apertam seu pescoço. Por quê? Não sei. Talvez.
Raiva: ria e grite com si mesmo; dica do DJ.

18.3.04

Há uma urgência subversiva
entre 1:12 e 3:37
da madrugada urbana.

Carros, todos, de ré.
Nenhum acidente.

Pontes, agora,
encolhem a barriga,
submersas.

3:38
Duas mortes inteiras
em meio a todas as outras.

URBE

André Setti

16.3.04

O RANCHO




781b em pessoa.

Trabalho todos os dias nesta obra imunda dos homens. Dois galpões gigantescos abrigam uma cidade animalesca. Através de estações elevadoras, entram rios de forragem, milho e antibióticos. Pelos canos abertos, escapam rios de merda e mijo. A ooteca gigante se mexe com a vida de inúmeros bois e vacas, reses sadias, de olhos vermelhos. Aqui, no Centro Operacional de Alimentação Confinada, moram 36 mil animais. Eles vem de outras fazendas, onde crescem junto a suas mães, com bastante grama. Eu amo cada um deles, até mesmo quando misturo a neomicina e o hormônio em sua comida, para evitar que seus rins explodam com a ácida dieta de milho. A maioria das pessoas não imagina os efeitos que o milho tem nestes animais, herbívoros por evolução biológica. Ele afeta o rúmen, líquido digestivo que abunda em seus estômagos. Graças a ele, e às bacterias que nele proliferam, a celulose, o sumo e o caldo do mato viram nutrientes. E os ossos sempre voltam para nós, são triturados, viram farelo nutritivo e canibalizamos o ciclo alimentar.

Hoje senti um remorso muito grande de tudo. Estava sentado, sobre uma das plataformas elevadas que nos permitem vigiar o rebanho de cima. O galpão oprimia as vacas, forçadas por superlotação a cheirar o cu dos outros animais o tempo todo. Cansadas e obesas, elas mastigam e cagam sem parar, lacrimejam irritadas, tudo por causa da fuligem e da merda que seus cascos mantém em suspensão no ar. Amanhã trarei meu rifle e será uma coisa bela, olhar os animais caindo, livres de tudo, os rios vão parar de fluir e eu terei um verdadeiro e libertador objetivo de vida.

Coloco minhas botas especiais e vou até as vacas. Perto do chão, o ar tem cheiro de mijo e morte. Encontro a minha preferida, 781b. Ela me olha absorta, mastigando sem parar. Tento a penetrar, ela escapa de minha mão, meu pau duro busca seu cu. Continuo tentando até gozar, tirando um mugido da 781b. Volto para a plataforma, estou só, é o turno da noite e meus olhos também estão vermelhos, cheiro a mijo e milho.

Patrick Brock

14.3.04

A vida nos trilhos

1
Um teto de zinco. Oito plataformas gigantescas. Trilhos entre elas. É fundo.

2
Hoje eu acordei de ressaca, e os engenheiros continuam em greve. Na parede de meu quarto, uma fenda se alarga, sem tinta, e o concreto se esfarela. O ritual de locomoção até o trabalho é doloroso, principalmente na hora de entrar no trem: devido à erosão provocada pelo vento gerado pelos trens em movimento, a distância entre a plataforma e o veículo aumenta a cada dia, dificultando o embarque. Um conhecido meu, certa vez, caiu na distância e até hoje está por lá, com os ratos; sempre que um trem passa, o cara se estira, tenso, baixando a cabeça, a fim de evitar ser triturado pela engrenagem enferrujada da maquinaria. A vida nos trilhos não deve ser fácil. E os engenheiros não se decidem.

3
Quando caí aqui, entrei logo em desespero. Ver as pessoas em cima andando, pegando trem. A solidão. Não conseguir subir. E os ratos. Horas, dias, meses. Estou aqui há tempo demais, isso é certo. É escuro. Os passageiros esperam fumando, e jogam as bitucas por aqui. Às vezes, consigo pegar uma ainda acesa. Ontem, vi uma menina deitada ao longe. Toda ralada, tinha caído. Seus olhos eram grandes. Estava morta.


Bullar

12.3.04

fudeu maria preá!



"pocotó, pocotó, pocotó!"
COMO DIZIA IRMÃ DULCE, FUDEU A BAHIA!

fui ao evento prata da casa, no sesc pompéia, nos 2 primeiros dias, está legal.
tudo começa com baldeação na sé e desembarque na barra funda. depois de espera com cigarro acendido no isqueiro de um mano e apreciação de suburbanas, trem até a estação água branca e caminhada por uma zona mezzo industrial, com chaminés soltando fumacinha pestilente e som dos próprios passos em rua deserta e silente.
pouca gente nas duas platéias; como o palco fica no meio do público, os músicos - troço incomum - se apresentam de frente uns pros outros.
na quarta, tocaram los pirata. o deboche deles é meio posado demais e as letra besta, mas as música - algumas de 15 segundo - empolgam, com levadas surf, barulheira, coraizinhos, citação de "seven nation army" e versão de "black bird" (beatles).
ontem, foram os pernambucopaulistanos monjolo e os cearenses soulzé.
o monjolo vai na linha pós-mangue, com criatividade, bons instrumentistas, arranjos de vários climas na mesma música - uma até fundindo frevo e d+b. sai-se bastante bem na disputa com as mileuma bandas que caíram na onda mistura-pop-regional desde dez anos atrás (principalmente as baianas, que, com exceção da zambotronic, são frouxas).
no intervalo, o operador de áudio lembrou o imbativel "pump up the jam", house bagaça com que o technotronic levou muitos desta geração a sacudir a ossada pela primeira vez e que gerou o termo "poperô" ("Pump up the jam/Pump it up/Pump it up a little more/Get the party going on the dance floor/Seek us that's where the party's at/And you'll find out if you're too bad"). pausa para uma latinha de breja a R$2,50.
o soulzé trouxe um som parecido com da monjolo, mas fundado mais no baticum "esquenta-muié" de bandas de pífano. tocaram acompanhados de um vídeo inexpressivo, projetado nas laterais do palco. depois de uma versão criativa para "Pagode Russo" ("ontem eu sonhei que estava em moscou"), o lance ficou chato e caí fora, pegando o Passa-Rápido que vem de Pirituba até a República, onde ainda dei uma volta pelas ruas assombradas do centrão.
hoje acho que irei ao prata da casa de novo, bem como amanhã e domingo.

(wc)
DIÁLOGO

Que lindo sorriso têm seus olhos, disse ela. Que lindos cílios têm seus lábios, disse ele, lambendo suas pupilas com paixão.

André Setti
ELA NÃO CONSEGUIA


Ela detesta seu homem, amestrador de lagartos. Queria era a foto da foto do dremnem. Foto branca e verde do tremnem, que um dia fora abandonada, em um local abandonado, por alguém que nunca existiu. Mas ela também sempre nunca existiu e jamais tocou naquela foto do mofo do tremlem. Ela tinha peixe fora da piscina, ela tinha um rio onde ela morria, onde ela ia a um outro rio onde ela morria melhor. Quando morria, via, mas não tocava o poço do treblem. Quando morria bem, acariciava (mas não tocava) o osso da trimblem.

Ela não conseguia morrer.

André Setti
INOCÊNCIA

Queres chocolate, menina,
ou preferes cocaína?

André Setti

11.3.04

Eu Também




Ao tempo de romance que já tínhamos completado permitia
que um dormisse na casa do outro, mesmo com a nossa
pouca idade, eu com 17 e ela com 14. No entanto, nunca
houve uma relação mais profunda. Meus testículos só não
explodiam porque sempre quando estávamos sozinhos no
quarto gozava com aquelas fricções doloridas. E
gozantes. Beijo é o que não faltava. Beijávamos até
perder a saliva.

Decidi então, numa tarde fria típica da cidade de
Vitória da Conquista, acabar com o puritanismo daquela
mocinha cheia de proibições e chantagens. Estávamos na
sala da casa dela assistindo a um filme insosso com
Gerônimo, o seu irmão mais velho e, de súbito, volvi
minha cabeça para os ouvidos dela e murmurei:

- Vai pro quarto, 'mô.

Ela obedeceu, ainda que deixando transparecer em si um
ar de desentendimento e curiosidade por ter recebido
tal ordem. Quando entrei naquele recinto fui logo
exibindo o meu pau pra fora da calça e dei início a uma
vagarosa bronha que a levou a esbugalhar os seus
grandes olhos verdes e rotundos.

Exclamei com toda macheza que aquela vara incandescente
era dela e era melhor aproveitar. Ela soltava
alguns "ai meu deus do céu" o tempo todo. Ainda
solando, fui caminhando para perto dela e pedi que
chupasse bem gostoso. A minha atitude estava a calhar
com minhas expectativas. Ela pegou calmamente tentando
sentir a textura das veias salientes . Observava
dedicadamente a rijeza maravilhosa do órgão em
incessante pulsação e que até então lhe era estranho.

- Quer tomar leitinho, quer? - perguntei com a minha
voz de dengo que ela tanto gostava e que sempre fazia-
na condescender aos meus pedidos ardilosos.

Deu a primeira lambida com muito capricho; deu a
segunda e, no terceiro encontro do pau com a boca
começou a chupar com intimidade. Dava sucessivas
tragadas demasiado deliciosas que, em menos de um
minuto o leite esguichou grossamente, fazendo encher
sua boca com minha gala. Peguei o cabelo dela e puxei
de modo que a cabeça dela ficasse na posição que a
fizesse engolir meus filhos abortados. Tão linda era
ela se engasgando com a minha prole que se azedava na
sua boca.

Devolvi para a cueca o meu pau já fanado e deitei
ofegante na cama, Ambos deitados, sentia a mão dela
alisar levemente a superfície de meu peito forrado de
pelugens nascentes. Ela não parecia ter mais 14 anos.
Ali comigo estava uma menina com ares de 16. Sexo não
envelhece, amadurece. Eu me sentia realizado, excelso.

Ela então decidiu dizer pra mim com o brilho de paixão
nos olhos:
- Eu te amo!
- Eu também - balbuciei.
- Também o quê? - Sabrina insistiu.
- Eu também me amo - conclui.

(crotalo)

ENLARGE YOUR PENIS!


9.3.04

Que jogo é esse, que assisto de vertiginosa e arriscada altura, abismado com a movimentação em polvorosa dos dois grupos oponentes na pedreira, quarenta pessoas em cada um?

(wc)

8.3.04

AUTOBAHN



"If everything's under control, you're going too slow."
Mario Andretti


Ela dirige rápido. O carro é brilhante. Potente. Perolado. Acolchoado. Mão na buceta, ritmado e gostoso. Gasolina é bombeada através de tubos de plástico. Circuitos calculam a quantidade exata de combustível entrando nas câmaras de combustão. Os pistões sobem e descem. Ritmados. Rápidos. Expelem gases quentes. BRRRRRRRRR. Ela toca e toca, gostosa, morena, boca farta, redonda, entreaberta, a língua brincando com lábios e dentes. Tudo a excita, ela passa um dedinho pelo lábio superior, morde de leve, aperta o mamilo do seio maior, o esquerdo. A buceta está molhada. Saia até a cintura. Uma saia preta, brilhante e que estava atrapalhando. A calcinha é amarela e repousa amarrotada no chão do carro. Tudo aconteceu rápido. Quando ela saiu do trabalho. O zumbido. BRRRRRR. Encostou a coxa no câmbio e tirou da quarta para a terceira. BRRRRRRRRRRRR. Vibrou. Os neuro transmissores na coxa ativaram o cérebro, que ativou o clitóris, que começou a encher de sangue. Devagar, instigada, ela começou a se masturbar. Agora ela vai gozar, vai gozar, morde a língua e vê o mundo girar quando capota sete vezes na avenida Otávio Mangabeira, batendo no muro do Clube do Bahia e espirrando algum sangue no asfalto.

Al Nite Lang

5.3.04

O filho pródigo




Então estou de volta. Aspiro o ar puro, com cheiro de mar e morte. Na minha velha casa, pouca coisa mudou, exceto pelos novos apetrechos tecnológicos instalados pela Viúva. Com o auxílio de multicâmeras e multiprocessadores, posso conversar com o mundo todo sem sair da minha cadeira velha e malcheirosa. E de que adianta isso? We suck young blood, milhares de imagens passando pela minha frente num clique do maravilhoso mouse.

Aqui, no litoral, as coisas parecem mais dignas e imutáveis. Aqui, tenho uma vida fixa e não muito alegre, feita de corações sangrando e artérias partidas. O telefone tocou, era uma voz familiar, sinto falta de quem não está mais ao meu lado. Lembro de Bolla vivendo pacíficamente, agarrado com sua médica particular, o olhar doce e tenro que os dois trocam quando estão juntos e se beijam, apaixonados. Ela passa seus dedos medicinais e precisos em seu cabelo, com a força curativa de alguém que ama.

Ou então lembro do valente Homem-Gabiru, labutando eternamente entre paulistas competentes. O Terminal cardíaco é seu local de trabalho, uma conurbação de mísseis velozes e leucócitos apressados. Quando nos vimos pela última vez, um ônibus soltava fumaça oleosa sobre nós, eu quase sufocado, ele atarefado. A palavra de ordem hoje é Azitromicina.

Al Nite Lang


"O que acontece verdadeiramente, o que nós vivemos, o resto, onde está? O que acontece todos os dias, o que volta todos os dias, o banal, o cotidiano, o evidente, o comum, o ordinário, o infra-ordinário, o barulho de fundo, o habitual, como dar conta disso, como o interrogar, como o descrever?"

"Como falar das 'coisas comuns', como perseguí-las melhor, como tirá-las de seus esconderijos, arrancá-las da gangue na qual elas estão enganchadas, como lhes dar um sentido, uma língua: que elas falem enfim daquilo que são, daquilo que somos."

"Interrogar aquilo que de tanto parecer andar sozinho nós esquecemos sua origem. Reencontrar alguma coisa da surpresa que podiam experimentar Julio Verne ou seus leitores ao se deparar com um aparelho capaz de reproduzir ou transportar os sons. Pois ela existiu, essa surpresa, e milhares de outras, e foram elas que nos modelaram."

(trechos de L'infra-ordinaire, de Georges Perec, em tradução de Hermano Vianna)

A seus pés


Ela bem sabe o fetiche que tenho por seus pés, e claro, se aproveita disso.
Gosta de sair comigo para comprar suas sandálias, ou tamancos. Então veste uma minúscula e sensual langeri, que depois percebo, combina com a cor do calçado que comprará, coloca uma saia de curta a curtíssima e juntos vamos as lojas. Escolhe sempre sem pressa nas vitrines enquanto os atendentes vêm ansiosos oferecer seus préstimos, e quando algo lhe agrada ela escolhe um vendedor e pede para provar, mas não põe as mãos na mercadoria, senta-se na cadeira do provador como que ocupasse um trono e deixa que calce, e descalce seus pés, sem medo de dizer não e sair sem comprar nada, sempre enrubescendo a face do nefasto que mesmo sem querer sente seu perfume íntimo e avista muito mais que eu que estou ao lado.
Com minha presença, ele desconsertado, teme espiar seu meio de pernas que distraidamente por vezes pode revelar algo mais, imediatamente me sobe o tesão que também me enrubesce, sinto minha face esquentar sanguinolenta e me doer pontudo no peito, e na testa, já nem sei se senti primeiro o tesão ou a pontada, mas inflamo, e ela percebe.
Sem temer a extravagância, ela escolhe uma sandália altíssima e de tiras, que o rapaz, ainda que envergonhado, e evitando nossos olhos, sem pressa trança em seu tornozelo e fecha a fivela em sua canela. Faz questão que lhe coloque o par, levanta-se para olhar no espelho e pergunta se gostei com uma piscada safada, fazendo menção de que é para mim.
Enquanto pago no caixa ela retira o pacote e conversa com o atendente ainda extasiado e boquiaberto, enrijeço, do corpo até a alma, - me paga a danada, sinto vontade de com força rachá-la ao meio - e anseio louco por estar na intimidade com ela. Finalmente a sós, vou abraçá-la e ela me repulsa dizendo que sou apressado. Ela abre as pernas expondo para mim sua suculência, seu aconchego, mas não sem antes me fazer seu vassalo, seu capacho, seu cão. - Cadela. "
?!?!? _____||______
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Vale a pena fazer Jornalismo?


02/03/2004

Por Henrique Carlos*

Dia desses fui abordado por um foca nos corredores da faculdade onde me formei em Jornalismo. (Foca significa estudante de Jornalismo). Intrometido, como todo jornalista deve ser, ele foi logo perguntando por que eu não estava assistindo à apresentação da peça de teatro daquela noite. Uma maneira de puxar assunto no momento.

"Estou indo embora, cara", falei, rapidamente, pois não estava a fim de papo, estava com pressa. A resposta deixou bem claro o fracasso de sua tentativa em desenvolver um diálogo. Porém não desistiu, fez outra pergunta: "Você é do curso de Engenharia?". (Que bom seria se eu fosse engenheiro, acho que não sofreria tanto, mas isso é outra historia...) Para não ser indelicado, respondi, pondo fim ao bate-papo que nem ao menos começara: "Não, cara, me formei em Jornalismo aqui, ano passado". Já ia me despedindo quando, aflito e preocupado, ele disparou: "Valeu a pena se formar em Jornalismo? Está difícil entrar no mercado? Você está trabalhando? O que você aconselha? Fale a verdade, por favor".

Meu coração disparou, não soube o que falar. Não tenho tanta experiência para dizer o que um foquinha deve ou não fazer para construir carreira brilhante. Fiz estágio durante quase um ano e meio, e alguns frilas, que ainda faço, e só. Sendo assim, acredito, sou tão foca quanto ele. E de foca para foca, assumi o papel de jornalista experiente que não sou, esclarecendo, portanto, as dúvidas que tiram o sono do colega, fazendo-lhe outras perguntas:

- Por que muitos duvidam de nosso talento e capacidade, ainda que sejam extraordinários, e nos dão as costas no momento em que mais precisamos de apoio, seja para indicação de livros, de estágio ou alguma orientação sobre como sobreviver no meio jornalístico?

- Por que temos de gastar sola de sapato, batendo de porta em porta, à procura de oportunidades dignas de trabalho, e nos exploram, exigindo que trabalhemos de graça?

Por que concorremos com pessoas altamente qualificadas, tanto financeira quanto intelectualmente, ficando, assim, em desvantagem, caso não tenhamos dinheiro para investir em nossa formação?

- Por que, para nos darmos bem na profissão, precisamos ter bons contatos, quando na verdade deveríamos ser analisados apenas pelo nosso talento e capacidade?

- Por que, mesmo depois de meses, ou até anos com jornalista formado, continuamos no mesmo emprego que tínhamos antes de entrar na faculdade? (Isso quando não terminamos a faculdade sem emprego algum)

- Por que temos de nos deparar com imbecis, sem nada na cabeça, cujo único mérito foi ter tirado a roupa em alguma publicação masculina ou participado de reality-show ridículo, ocupando nosso lugar fazendo reportagens em emissoras de televisão? (E o pior, nosso sindicato não faz porra nenhuma para tirar da telinha esses picaretas seguradores de microfone)

- Por que sonhamos em, um dia, exercer o jornalismo em veículo respeitado. E esse dia pode não chegar nunca, mas não por nossa culpa, e sim porque as portas não se abrem?

- Por que passam pelo nosso caminho estudantes de faculdades renomadíssimas, que trabalham em excelentes publicações, mesmo sem, ao menos, saber unir duas frases. Mas que "dormiram" com editores, ou simplesmente foram apradinhados? Será que temos de nos condicionar a ter "casinhos" com editores em vez de ler e estudar? Será que temos de nos humilhar para que alguém nos coloque dentro de alguma redação?

Por que não dá para conseguir um lugar ao sol escrevendo textos como esse, caso eu não ceda meu traseiro a alguém?

Por que péssimos jornalistas assinam crônicas em veículos respeitadíssimos e nós, que nos dedicamos desde o primeiro ano do curso, não temos chance alguma de assinar uma coluna?

Não sei o porquê, mas não consegui fazer as perguntas. Respirei fundo e olhei para o foca. Lembrei da época em que eu estava no primeiro ano do curso, dos sonhos, das ambições, do motivo que me levou a fazer Jornalismo... Me condicionei a dizer, apenas: "Estou com pressa. Me passe seu e-mail para eu enviar alguns textos". Anotei, me despedi e fui embora.

Até hoje não enviei nada, confesso. E para ser honesto, nem sei se enviarei. Mas não tem problema. Ele nunca me verá novamente, a não ser que nos esbarremos em uma redação qualquer no futuro. Ate lá não lembrará mais de mim, e se lembrar, comemoraremos juntos, talvez. E o papo, ainda que muito rápido, ficará na lembrança dos dois, mais na dele do que na minha.



*Henrique Carlos tem 22 anos; é jornalista. Se formou no final do ano passado.

4.3.04

Exemplo de documento interno que instila comicidade repentina num cotidiano aerocrático (trechos comprometedores devidamente omitidos):

DESPACHO Nº __ / 2004

São Paulo, 4 de março de 2004

De: Encarregada de Atividades de Comunicação Social
Para: Gerente de Administração e Financeiro
Assunto: Perda uniforme
Ref.: __
Anexo: __

Informamos a V.Sa. que o empregado Sérgio Wladimir Cazé dos Santos, matrícula 9*.***-4*, teve uma das calças do seu uniforme de trabalho inutilizada, devido a uso de ferro de passar em alta temperatura.

3.3.04

Recebi mensagem com alguma luz a respeito do copyright dos autores do CD "Matéria Prima", citado aqui dias atrás. O Fenomenólogo Pop adverte que, na época do lançamento:

Todo mundo recebeu seu "pagamento" na forma de cds para vender ou distribuir.

Ok. Confesso que não lembrava desse acordo. Resta saber como nosso despretensioso produto chegou a prateleiras virtuais, sob a marca de uma tal T** C** Records.

O Mestre aproveita para informar que conseguiu "remontar o Labsom (com novos e melhores equipamentos)". Mas seus usuários continuam com o problema de não terem "verba nenhuma".

(wc)

2.3.04

Conurbação



Eu trafegava pelas avenidas cancerígenas, nuvens de fog e vida diluída. Dezenas de centenas de milhares de estabelecimentos japoneses espalhados por milhas. Belas mulheres ocupadas com seus afazeres diários, de salto alto, tomando sorvete, fumando cigarro.

No meio do caminho, um podre rio de lama, cercado por novas e limpas grades de metal. Uma favela se revelou ao meu olhar, shanty town hoover ville style, ao lado de um posto de gasolina e da merda exalada pelo excremento dos ralos de concreto armado.

Que sugam, sugam a vida de todas aquelas pessoas, a minha também. Chegou o meu destino: um coração-terminal gigante, pulsando de sangue, veículos e pessoas. Entre rios de sangue e merda, apressados viajantes, como eu, seguem para seus destinos em todo o mundo. Do lado de fora, veículos fósseis de vários tamanhos cruzam em sentidos opostos as vísceras deste organismo fantástico. Um objeto voador zarpou para o céu em alta velocidade, poderia estar me levando, mas me deixou aqui, no meio dos rios de óleo diesel fervente e da pedra fria.

Al Nite Lang