24.12.08

Haiku drogatito

Drogaditas quando fumam, se esparralham pelo chão.
A carlinha quando fuma pira logo o cabeção.
Eu sou drogadita fumo logo um morrão,
Carrego um "ê" no bolso, e uma sálvia em cada mão.

By Mauricio Lombreira
Biografia: Nascido em Nova Deli, de pai filandês e mãe norueguesa, Lombreira se erradicou na Bahia, onde teve a oportunidade de abrir a sua mente. Com a cabeça feita passou a estudar química e botânica. Atualmente anda em uma fase mais religiosa, pregando as palavras de Jah e praticando o xamanismo para encontrar a luz (azul, vermelha, verde...) e se comunicar com o mundo extraterreno (duendes, gnomos...)

Gloomy sunday

(Tradução e adaptação de Sam Lewis sobre a canção húngara escrita por László Jávor e musicada pelo compositor Reszó Seress em 1933. Essa versão foi gravada por Billie Holiday em 1941)



Sunday is gloomy, my hours are slumberless
Dearest the shadows I live with are numberless
Little white flowers will never awaken you
Not where the black coach of sorrow has taken you
Angels have no thought of ever returning you
Would they be angry if I thought of joining you?

Gloomy is Sunday, with shadows I spend it all
My heart and I have decided to end it all
Soon there'll be candles and prayers that are sad I know
Let them not weep let them know that I'm glad to go
Death is no dream for in death
I'm caressing you
With the last breath of my soul
I'll be blessing you

Dreaming, I was only dreaming
I wake and I find you asleep in the deep of my heart, here
Darling, I hope that my dream never haunted you
My heart is telling you how much I wanted you

23.12.08

Alguns dos melhores livros de 2008

Inspirado por um artigo do site Cronópios resolvi preparar também a minha lista dos melhores livros de 2008. Pra mim, pelo menos:

Curso de Literatura Inglesa, Jorge Luis Borges (Editora Martins Fontes)
Passei os últimos quinze dias conversando com Borges. A sala de aula era o metrô de Nova York. Falamos sobre Coleridge, Blake, sagas vikings, guerras medievais, traições, a formação do inglês moderno. Depois de tanto tempo, já me parece que Borges é um velho companheiro, um professor brilhante. Este curso é ouro puro. Ensina sobre alguns dos autores e textos essenciais da literatura inglesa, sem se deter no peso de Shakespeare, ao sabor das preferências pessoais de Borges, durante 25 aulas ministradas em 1966 na Universidade de Buenos Aires. Os camaradas tiveram trabalho para checar todas as referências do bibliotecário de Babel. Surpreendentemente, no que cita, Borges nunca erra. No máximo emprega subterfúgios naturais, mas nunca se entrega. Se a literatura de língua inglesa de 800 a 1900 te interessa, va à caça. Comprei na velha Civilização Brasileira do Shopping Iguatemi, em Salvador

The Fifties, de Douglas T. Miller e Marion Novak (Doubleday & Company, New York, 1977) Agora mesmo vai estrear no cinema o novo filme de Sam Mendes, "Revolutionary Road", uma denúncia ao conformismo suburbano dos EUA. Este livro de 1977 critica a relativa nostalgia com os anos 50 vigente na época, e cria uma historiografia de uma década fundamental na formação da cultura americana contemporânea. E, sob certa medida, de acontecimentos que interferiram na vida de muita gente, como a histeria anti-comunista. Mais ou menos como um "textbook" escolar de esquerda. As informações são riquíssimas para o estudioso da verborragia ianque. O tom revisionista pode amolar um pouco, especialmente quando se cria o retrato da dona de casa oprimida na estéril vida suburbana e se ignora que sempre há saída, ainda mais numa sociedade afluente, embora ainda separada. A segregação racial nos EUA começava a rachar, seja pela penetração da música negra no gosto popular, ou pelos conflitos constitucionais das leis que mantinham as raças "separadas mais iguais". E, finalmente, uma crítica decente de "Apanhador no Campo de Centeio", livro que causou uma sensação na época. Miller e Novak consideram o existencialismo de J.D. Salinger alienado, e o comparam a outro livro dos anos 50, "Homem Invisível", de Ralph Ellison. "A hibernação é uma preparação secreta para a ação aberta", diz o protagonista negro, após sua odisséia pelo racismo. De fato, nos anos 60 a revolta explodiu, acelerando a transferência dos brancos para os subúrbios, de volta para a segregação, enquanto os centros das cidades eram ocupados pelos negros e decaíam financeiramente. Dá pano pra manga. Nesse livro descobri que "rock and roll" era gíria do gueto e significa "dançar e transar". E "Invisible Man" é muito mais porradão que os "phonies" de Salinger.

Story of O, Pauline Réage (Ballantine Books, translation by Sabine d'Estrée) O mérito da História de O é muito mais do que te deixar com uma ereção constante durante uma semana (tempo que demorou para ler o fino volume). A própria história convoluta da publicação é mais uma camada de sentido deste clássico do erotismo, um sucesso de vendas mundial. Escrito por uma tímida editora literária de Paris (que só se revelou pouco antes de sua morte no início do milênio) para seu amante, um galã das letras francesas, é uma declaração de submissão total ao amor. A heroína enfrenta luxuriantes torturas e humilhações do namorado e seus amigos mas sente secreto prazer em sua condição. O argumento é o amor pelo namorado René, que depois é transferido para o sádico Sir Stephen numa masmorra nos arredores de Paris, o O (simplesmente) é possuída por vários homens, às vezes violentamente. Algumas feministas ficam horrorizadas, mas eu prefiro interpretar o livro mais subjetivamente, como uma denúncia do romantismo e uma apologia do sadomasoquismo, do prazer na dor. O livro chegou a ser proibido na França. Bom para ler com alguém.

15.12.08

Breathe thy name

She wept with pity and delight,
She blushed with love, and virgin-shame ;
And like the murmur of a dream,
I heard her breathe my name.

Love, by Samuel Taylor Coleridge (21 October 1772 – 25 July 1834)

14.12.08

Poetas mortos

Coleridge, Wordsworth, Boswell, Johnson
Poetas mortos ganham vida na memória de Borges
Transmitida a mim
Humildemente
Num livro da Martins Fontes.
Obrigado.

10.12.08

Uivando pra lua

Imerso no escuro útero
Da minha incubadora de angústias
Percebi a cegueira
Desse povo narcotizado
Com o brilho do sistema
Enquanto as mentes
Mais brilhantes
Da nova geração
Labutam na repartição

Olha a fedentina brutal
Desse carnaval
De espetacularização inócua
Sem o verdadeiro perigo
Uma arte falsa e confortável

Avisem às mentes luminares
E sua necessidade de competir
Que esqueceram das nossas chagas
Avisem que estou atento,
Mesmo que temeroso
Desse sonho tão ardoroso
De "veludo e pimenta"
De que tudo é possível

"I saw the best minds of my generation destroyed by
madness, starving hysterical naked,
dragging themselves through the negro streets at dawn
looking for an angry fix"
Allen Ginsberg

Windows, viagens, minha rua

Sou cliente da Microsoft há 12 anos e eles ainda não conseguiram consertar o Windows. Tinha um negócio chamado XP que até funcionava direitinho, mas fuderam tudo com o Vista. Será que alguém pode me explicar por que o IExplorer sempre dá uma travadinha? Tudo bem, os caras evoluíram um pouco. Raramente tenho que reiniciar o computador.

A partir do dia 26 de dezembro começa o mesmo trajeto imigratório reverso, em busca de oceanos mais quentes e luz tropical. Dessa vez seguiremos pelo famigerado Newark Liberty, em New Jersey. O vivente pode tentar pegar um ônibus ou torrar uma baba indo de táxi, mas o bom mesmo é seguir até a estação 34 Penn Station do metrô e pegar um trem da estatal NJ Transit que passa no aeroporto. Coisa de uns vinte minutos no máximo. Eu mesmo fiz muito esse trajeto, vindo de Jersey, nas primeiras semanas em que morei aqui no Tri-State - NJ, NY e Connecticut. O sistema até que funcionava bem, o problema era o preço. Eu tinha de pegar o ônibus gratuito do hotel até o aeroporto, comprar a passagem que custava uns 7 dólares e ir até a Penn Station de Newark (de confundir a cabeça de qualquer vivente). Descontada a falta de criatividade para nomear estações, ainda sobrava um tempinho no metrô de Jersey, o PATH.

Não consegui me livrar do PATH. Eu moro em Nova York, no Queens, e trabalho em outro estado, New Jersey. Existe todo um sistema de transporte coletivo que facilita consideravelmente o cotidiano de uma galera. Mas todo esse deslocamento é cansativo pra burro. Estou há dois anos nessa vida. Pra relaxar, portanto, vou passar em Salvador pra tomar uns drinques, graças às últimas milhas antes da Grande Recessão.




















Meu caminho de casa num dia normal.

Minha rua se chama Steinway por causa do célebre fabricante de pianos. Se caminhares uns dois km mais ou menos até o fim dela encontrará a fábrica. A região ao redor dela foi uma das primeiras vilas do Queens, juntamente com Astoria, nomeada assim em homenagem ao milionário John Jacob Astor, sujeito que nunca pisou por estas bandas mas reza a lenda podia enxergar a vila de sua mansão na Ilha de Manhattan. Hoje em dia a Steinway Street é um centro de comércio importante em Astoria.


Estação do metrô da Rua Steinway.

Naturalmente que a associação de comerciantes locais está preocupada com a crise de confiança do consumidor e resolveu adotar uma medida extraordinária para tentar movimentar as vendas: instalaram um alto-falante na esquina que toca Frank Sinatra e outros sons gordurosos de mafioso durante a maior parte do dia, logo em frente aos empresários dos espetinhos e sua fauna parasítica de pombos famintos.


Repare na quantidade de lojas no meu quarteirão.
Se gostasse de fazer compras, estaria no paraíso.


Alguns imóveis da minha rua já está em crise há um tempão, a despeito da pujança registrada cima pelo New York Times no início de 2007. Um exemplo dessa urbe decaída de braços dados com grandes redes varejistas é o Hibachi Grill do outro da rua, fechado desde que mudei, em fevereiro de 2007. Agora outras lojas mais fudidas fecharam ou "pegaram fogo".

Eu moro num prédio de dois andares em que funciona uma loja de roupas femininas chamada ENA. Quatro apartamentos, cada um de um tamanho diferente, dois virados para a Steinway e dois para o fundo, com uma quadra de basquete, um pequeno parque e as torres da cidade distante no horizonte. Dizem que a minha quadra se tornou uma espécie de shopping ao céu aberto mas eu não vejo nada disso, só escuto mesmo as sirenes dos bombeiros ou da polícia. Quando o papa Bento XVI veio a Nova York o helicóptero da polícia ficava voando em cima do meu prédio todo o dia às duas da manhã, a vigiar os árabes duas quadras ao norte.

O movimento na Steinway é intenso mas, como moro do outro lado, além da trilha sonora cotidiana dos serviços de emergência só ouço mesmo o barulho da gurizada xingando nas partidas de basquete. Ou então criança chorando, etc. Posso ver os fundos de outro prédio, cheio de carrinhos de comida abandonados. Uma família asiática mora no último andar. Durante o verão, eles se espremem numa pequena plataforma externa para jantar ao relento. Quando o clima começa a esfriar passamos a ouvir gritos abafados pelo gorgulhar do aquecedor, a mulher se enfureceu com alguma coisa. Tentei imaginar se eles também nos viam de vez em quando, se prestavam atenção quando gritamos casualmente nos dias de limpeza, se também fornecemos um cineminha pra quebrar o tédio. Quem sabe se abrirmos as cortinas na hora da transa o casal do outro lado pare de brigar e decida copular também.

O dono do meu prédio é um grego de uns 50 anos, mau hálito, calvo e de temperamento explosivo. Nos respeitamos e esta semana ele assinou uma carta para as autoridades americanas de imigração declarando que eu e minha mulher somos mesmo casados. Ultimamente ele parece estar feliz apenas em receber o aluguel. Como não há infestações no prédio, eu deixo passar o aspecto escabroso da escada.

Tem um bom amigo meu que gosta de chamar meu apartamento de bunker, porque não temos janelas para fora na sala, apenas para a saída de ar. Durante o inverno a sala vira um útero com wireless e ventilador bom pra ler, escrever, tomar café e pensar na vida. Ainda não cheguei a nenhuma conclusão.

5.12.08

Arenavírus

A Organização Mundial de Saúde está de olho:

On September 12 2008, Cecilia van Deventer, a safari booking agent living in Zambia, was flown to South Africa in critical condition. She died just two days later. By October 6 2008, three more people had died: the paramedic who accompanied Cecilia to South Africa, the nurse who cared for her in Intensive Care, and the cleaner who cleaned her hospital room after her death. A fifth patient, a nurse who cared for the infected paramedic, is receiving anti-viral treatment. In all cases, people infected were exposed to infected blood and/or body fluids.

A história é a seguinte. A cidadã acima, Cecilia, pegou a doença no Zâmbia e teve de ser transportada para a África do Sul em 12 de setembro (onde existem os melhores hospitais da área). Tratada numa clínica particular, morreu dois dias depois e contaminou cinco enfermeiros, dos quais três morreram. Os grandes laboratórios nacionais analisaram amostras e identificaram mais uma nada agradável criação de Deus. Seu parente mais próximo é o famigerado vírus sabiá, que andou tocando terror no Brasil. O vulgo do fascínora é febre hemorrágica.

A questão é que esses vírus são tão letais que não têm tempo de se espalhar. Quando soube da notícia fiz um muxoxo de "que pânico" mas o negócio é sério. Pergunte ao Darwin. Ou leia o que este cientista da Columbia University tem a dizer.

27.11.08

Praga de baiano

Vamos bater os tambores
Balançar as cadeiras
Sacudir nossos pandeiros
Que os dedos jamais foram feitos
Pra contar dinheiro
Pra apertar gatilho

(Vamos nós...)

Juntos,juntos
Joguemos juntos
Uma praga de baiano

Juntos,juntos
Joguemos juntos
Uma praga de baiano

Para que tudo de novo
Vire tudo ao contrário
O pobre compre fiado
E o rico pague adiantado

(Novos Baianos, 1977)

25.11.08

O jardim dos suplícios

You're obliged to pretend respect for people and institutions you think absurd. You live attached in a cowardly fashion to moral and social conventions you despise, condemn, and know lack all foundation. It is that permanent contradiction between your ideas and desires and all the dead formalities and vain pretenses of your civilization which makes you sad, troubled and unbalanced. In that intolerable conflict you lose all joy of life and all feeling of personality, because at every moment they suppress and restrain and check the free play of your powers. That's the poisoned and mortal wound of the civilized world.
Octave Mirbeau, "The Torture Garden"

Considerações finais

O ano foi bom. Emagreci, li mais, apaguei os jogos do pc. Comprei a mesma gordura de sonho, combustível perfeito para decifrar a História de O.

24.11.08

Violência americana

O repórter do Chicago Tribune (a matéria também saiu no LA Times) conta que aumentaram os ataques racistas nos EUA depois da eleição de Obama para presidente.

In the small Louisiana town of Angie, 58-year-old Judy Robinson put an Obama sign outside her home a few weeks before the Nov. 4 presidential election. The morning after Halloween, she awoke to find the words "KKK" and "white power" spray-painted around her yard.

"I thought all that KKK stuff was in the past," said Robinson, who is black. "But now I look at people and think, 'Could he be Klan?' Suddenly I'm feeling like my town is hostile territory."


O Southern Poverty Law Center, ONG criada nos anos 60 para monitorar grupos racistas, já apontava crescimento do número de incidentes desde antes da eleição, e agora conta dos grupos militaristas mandando ver na máquina do ódio e do medo. Tem um site que vende por módicos (?!) 1.300 dólares um kit com comida ENLATADA para um adulto sobreviver durante um ano. Segundo o xerife aposentado Jim R. Schwiesow, do singelo site da ultra-direita americana NewsWithViews.com (bizarro mesmo), "Vultures will roost in the remains of its cities and putrefaction will embrace its once fertile lands".

23.11.08

Funny games

O diáfano mundo das celebridades foi acossado recentemente por alguns incidentes que podem parecer insignificantes mas que se ligam a outros e formam uma corrente aterradora. Sem se ater à água, o detergente e o tanque, digamos que representantes do Olimpo social vêm se digladiando com a mesma ferocidade com que revezam consortes entre si. Ou então alguém é espancado na saída da boate, como vejo às vezes no'Globo, a propagar o espanto da violência entre a elite do Rio de Janeiro. Óbvio que nos bastidores, longe do Leblon, continua a guerra urbana do tráfico.

Essa (ou aquela, lá longe) guerra e o alarde míope com a violência retroalimentam um medo coletivo que pode muito bem motivar essa reação. Esperemos pelos sociólogos e antropólogos que decifrem essa tendência, apontem as causas e não as conseqüências. Sempre existiu a cultura do valentão, nos EUA usa-se o termo "bully": uma dona de casa do Colorado está em julgamento por se fingir de menino e atormentar uma problemática adolescente vizinha ao suicídio. No caso, gente louca dos subúrbios estadounidenses. Mas no caso dos famosos brasileiros, é difícil entender tanta raiva se não for fruto do medo disseminado. São todos belíssimos, estão no topo da sociedade, desfrutam de todos os rapapés que o dinheiro pode comprar em nosso mundo materialista.

Os amigos me falam de nova cracolândias no Rio Vermelho, um familiar próximo foi assaltado sob a mira de uma arma. Você lembra quando foi a última vez em que saiu para a rua sem temer um delito? Da última vez que fui ao Brasil, quis andar da Rubem Berta até a avenida ACM, uns 500 mestros, e meu amigo Uchôa advertiu: que é isso man? Tá louco? Sempre circulei desafiador pelas ruas supostamente seguras e ao mesmo tempo perigosa do bairro em que morava em Salvador, considerado por muitos um dos melhores da cidade. Andava com a carteira vazia, sem cartões de crédito ou débito. Mas o lugar me parecia familiar, portanto seguro. Será que eu deveria me esconder?

Essa cultura da violência. Talvez tenham entendido mal "Tropa de Elite", não conseguiram ultrapassar a refinada estética de um retrato da pobreza e corrupção para refletir sobre a doença daquilo tudo. Aí reside um exemplo do perigo da arte de massa diante de um entendimento ralo numa comunidade em transe, porque é preciso urgentemente ultrapassar a pele das coisas. Não é à toa que ensinam semiótica em algumas faculdades.

19.11.08

Grande depressão

O mínimo que eu posso fazer para mitigar esses assuntos espinhosos: vai rolar um
repeat da Grande Depressão dos anos 30? Gostaria de perguntar isso ao velho Moniz Bandeira, o Barão Vermelho, hoje aposentado em Heidelberg, Alemanha. Mas segundo este outro cara aqui, não precisa se preocupar tanto. A previsão em 2007 era que os EUA iam sair dessa sem recessão. Agora os analistas já têm certeza de que vai durar até o meio de 2009. Acho que é tudo muito incerto. Pouco antes de os bancos quebrarem, a economia mundial estava superaquecida, o aço subia fácil 78% por ano. Deixa pra lá. Vamos ler sobre os anos 50, o nascimento do rock'n'roll (dançar e trepar, segundo a gíria dos guetos negros da américa).

Como a casa caiu

Precisa um pouco de paciência, mas vale a pena ler este artigo da Portfolio:

“As we sat there, we were weirdly calm,” Moses says. “We felt insulated
from the whole market reality. It was an out-of-body experience. We just sat and
watched the people pass and talked about what might happen next. How many of
these people were going to lose their jobs. Who was going to rent these
buildings after all the Wall Street firms collapsed.” Eisman was appalled.
“Look,” he said. “I’m short. I don’t want the country to go into a depression. I
just want it to fucking deleverage.” He had tried a thousand times in a thousand
ways to explain how screwed up the business was, and no one wanted to hear it.
“That Wall Street has gone down because of this is justice,” he says. “They
fucked people. They built a castle to rip people off. Not once in all these
years have I come across a person inside a big Wall Street firm who was having a
crisis of conscience.”

11.11.08

O autor e o anonimato, por Foucalt

Even within our civilization, the same types of texts have not always required authors; there was a time when those texts which we now call "literary" (stories, folk tales, epics and tragedies) were accepted, circulated and valorized without any questions about the identity of their author. Their anonymity was ignored because their real or supposed age was a sufficient guarantee of their authenticity. Text, however, that we now call "scientific" (...) were only considered truthful during the Middle Ages if the name of the author was indicated. (...) In the seventeenth and eighteenth centuries, a totally new conception was developed when scientific texts were accepted on their own merits and positioned within an anonymous and coherent conceptual system of established truths and methods of verification.

At the same time, however, "literary" discourse was acceptable only if it carried an author's name; every text of poetry or fiction was obliged to state its author and the date, place, and circumstance of its writing. The meaning and value attributed to the text depended upon this information. If by accident or design a text was presented anonymously, every effort was made to locate its author. Literary anonymity was of interest only as a puzzle to be solved as, in our day, literary works are totally dominated by the sovereignty of the author.

From Foucault, Michel "What is an Author?", translation Donald F. Bouchard and Sherry Simon, In Language, Counter-Memory, Practice. Ithaca, New York: Cornell University Press, 1977. pp.124-127.

Direita norte-americana busca novos rumos

Comício de Sarah Palin em 8 de outubro de 2008

Patrick Brock

O luxuoso Hotel Biltmore, em Phoenix, Arizona, onde o candidato republicano John McCain planejava festejar a vitória na corrida à Casa Branca, está cercado de casas em execução judicial. Segundo o jornal Arizona Republic, o número de ordens de despejo na cidade aumentou de 1.070, em 2006, para 16.647 só no primeiro semestre de 2008. Enquanto isso, no comício, oferecia-se gratuitamente massagens faciais com caviar e tratamentos com champanhe para os pés.

O contraste entre a realidade dos Estados Unidos e o fausto dos republicanos pouco antes da derrota histórica nas eleições presidenciais é um sintoma do desligamento do partido após oito anos de problemas provocados por George W. Bush. A irresponsável guerra no Iraque, o fracasso em impedir a tragédia humana após a passagem do furacão Katrina, a crise imobiliária e o quase colapso do sistema financeiro americano são exemplos disso. O dissabor da população com os rumos do partido desde o governo de Ronald Reagan, nos anos 80, traduziu-se na vitória histórica de Barack Obama e ampliação da maioria democrata no Congresso.

Muito popular, Reagan liberalizou a economia, promovendo a ascensão de um sistema financeiro mundial cada vez mais ancorado nas inovações de Wall Street, como os títulos atrelados a empréstimos imobiliários de alto risco, pivô da atual crise. Ele também mobilizou uma base conservadora desiludida pela turbulência econômica e social dos anos 60 e 70. Desse modo, os republicanos conseguiram criar para si uma imagem populista e conservadora que cativou o eleitorado americano em duas vitórias esmagadoras nas duas eleições presidenciais dos anos 80.As políticas liberalistas de Reagan foram continuadas por George H. Bush. Mas George W. Bush, herdeiro dos evangélicos conquistados por Reagan nos anos 80, e também do legado político e financeiro do pai, divergiu dos fundamentos partidários de responsabilidade fiscal e enxugamento da máquina, embarcando em duas guerras caras e no maior corte de impostos da história do país, afirma o historiador americano Alan Lichtman em seu livro White Protestant America: The Rise Of The Modern American Right.

FRACASSO - Reagan defendia que o enriquecimento da elite "gotejaria" para as outras parcelas da população, mas o que se viu foi o inverso, com o aumento da desigualdade econômica, a maior desde os anos 20, já que os ganhos com produtividade e avanços tecnológicos beneficiaram mais os donos dos bens de produção ou os grandes financistas do que o americano médio. Após 20 anos de desregulamentação, também surgiram vários problemas na vigilância sanitária de alimentos e remédios, como a contaminação por bactérias em milhares de toneladas de carne moída vendida para escolas de todo o país, um vexaminoso alarme falso intoxicação por tomates, e efeitos colaterais nefastos em remédios aprovados pela FDA, agência americana de controle de remédios e alimentos, como supostamente seguros. A gota d'água no fracasso dessa corrente política foi a crise em Wall Street e a antipatia do eleitorado a Sarah Palin, uma espécie de Bush de saia que se tornou a vedete da ala ultra-conservadora do partido. O governo informou sexta-feira que o número de desempregados aumentou em outubro para 10,1 milhões, ou 6,5% da população economicamente ativa, devido à queda do consumo.

CONFLITOS - O ganhador do Nobel de Economia deste ano, Paul Krugman, denunciou o discurso falsamente populista da popular governadora do Alasca, escolhida para concorrer ao lado de McCain como vice-presidente, e a falência das táticas de apelação ao moralismo, as culture wars introduzidas por Richard Nixon e o estrategista Lee Atwater e aperfeiçoadas com Reagan. Segundo o professor de religião, cultura e teoria social da Universidade da Virgínia, James Davison Hunter, essas guerras culturais foram um realinhamento profundo que polarizou a política e cultura americana. Questões como aborto, armas, secularismo e homossexualidade ganharam importância e dividiram o eleitorado em dois grupos ideologicamente antagonísticos.Só que nesta eleição, a preocupação era a economia. Em comícios republicanos, eleitores berravam "Matem-no!" e brandiam macacos de pelúcia decorados com adesivos de Obama. Palin se deliciava em declarar que cidades pequenas e conservadoras é que são a "verdadeira América", embora a maior parte dos americanos viva nas grandes cidades. Palin, com suas tendências fundamentalistas e simplismo que os americanos conhecem bem através de Bush, acabou espantando os eleitores moderados que procuravam um alento para os desastres dos últimos oito anos.Os republicanos começaram a lamber as feridas na Virgínia quinta-feira passada, numa conferência das lideranças para debater como reconstruir o movimento conservador, a ser expandida num encontro entre os governadores do partido esta semana em Miami. Por enquanto, as urnas já ditaram pelo menos alguns anos de ostracismo em Washington.

9.11.08

Sans-culottes da Bahia

”Então viu-se nesta cidade reunir-se uma multidão de negros a fazer depósitos de pedras em alguns lugares muito públicos, como o Largo do Teatro e ruas adjacentes; tomaram suas posições e logo que apareceu uma procissão que era feita por naturais da Europa, atiraram sobre ela uma infinidade de pedradas (...) Chegada a noite, reuniram-se grandes magotes em diferentes sítios e apedrejaram todos os soldados e mais pessoas que viram ser Europeus.”

Madeira de Melo, general ordenado a reprimir o levante baiano contra Portugal em 1821.

8.11.08

cobertura

(O pessoal do LA Times anda especulando que Jackson chorava mesmo é de arrependimento pelas gafes que cometeu durante a campanha de Obama, tipo ser filmado pela Fox News reclamando que Obama estava criticando a comunidade negra. Jackson era, até terça-feira, o candidato negro que tinha ido mais longe nas eleições presidenciais: venceu 11 primárias em 1987 mas perdeu para Michael Dukakis.)
O veterano ativista político Jesse Jackson participou das marchasde negros lideradas em 1965 pelo reverendo Martin Luther King, Jr.no Alabama, em protesto contra as restrições da elite branca ao direito de votar. Em 7 de março daquele ano, mais de 600 manifestantesque tentavam marcharde Selma, epicentro dos abusos,à capital do Estado, Montgomery, para apresentar petição ao governador, foram reprimidos com cassetetes e gás lacrimogênio. Apesar de a segregação racial ter sido proibida pelo Congresso um ano antes, negros que tentavam se integrar em lugares públicos no Alabama ainda eram sumariamente espancados.

Nesta terça-feira Jackson tinhao rosto banhado de lágrimasde felicidade, enquanto esperava, no Grant Park, em Chicago, pelo discurso de Barack Obama, então já considerado o primeiro negro eleito presidente dos Estados Unidos. Em dois longos anos de campanha, Obama, 47 anos, montou formidável máquina política e arrecadou US$ 640 milhões, a maior parte com pequenas doações, usando a internet habilmente para mobilizar milhões devoluntários que energizaram o Partido Democrata e conquistaram novos eleitores. Obama derrotou o arsenal político do casal Hillary e Bill Clinton na épica batalha das primárias, e se beneficiou da crise financeira gestada há mais de um ano e que explodira dois meses antes do pleito.

Obama e as platitudes

A mídia brasileira se empolgou mesmo com Obama pelo que tenho visto, e também li muitas críticas às eleições, como "mais do mesmo". Esse estranhamento é absolutamente natural diante das diferenças entre os dois países e do radicalismo da era Bush. Transformaram mesmo o homem no salvador da pátria. É muito cedo ainda para sacar como será a política para a América Latina. Mas também é iluminador descortinar o oba-oba que sempre costuma enfeitar esses momentos importantes na história.

Se seguir o padrão que vinha pregando na campanha, será mais protecionista e portanto desfavorável para a balança comercial brasileira; manterá o apoio a subsídios agrícolas americanos como a tarifa de 54 centávos de dólar por 3,8 litros de álcool brasileiro importado, sobre a justificativa de "dumping". Um agrado aí de uns 15 bilhões de dólares por ano para o setor agrícola do seu país.

A política inflacionária do Federal Reserve é realmente o mais preocupante se analisarmos as oscilações no mercado mundial nos últimos meses. Depois de um período de forte alta as commodities começam a cair, a exemplo do petróleo, que chegou a 145 dólares o barril no início do ano mas agora caiu pra 65. A irresponsabilidade do governo americano, que manteve os juros baixos em 2000 e incentivou uma bolha mundial de crédito, acaba custando caro para o resto do mundo. Acéfala, a ONU deveria estar mais atenta à crise alimentícia que enfrentamos este ano, mas o Conselho de Segurança virou uma farsa depois da invasão do Iraque, como atestam também as inúmeras guerras africanas. No Congo, há um senhor chamado Laurent Nkunda no qual devemos ficar de olho. Nkunda lutou na Frente Patriótica Ruandesa, inimiga do exército genocida do governo de etnia Hutu em Ruanda durante 1994. Sua facção guerrilheira controla a área do Parque Kivu, patrimônio da Unesco onde vivem os poucos gorilas remanescentes no mundo. Recentemente, Laurent enfrentou as tropas da República Democrática do Congo e das Nações Unidas na Batalha de Goma.

Historicamente, nenhum império conseguiu se manter em guerra e com déficit nas contas; o dos EUA é calculado em US$ 5 trilhões. O plano de Obama é investir 150 bilhões de dólares em pesquisa e desenvolvimento de fontes alternativas de energia, o que é bom pra todo mundo no planeta, não só para os americanos, que produzem 22% da energia mundial mas consomem 25%, principalmente petróleo e carvão. Tudo indica que a economia americana vai contrair sensivelmente nos próximos meses por causa da espiral recessionária. Os preços das commodities devem continuar estáveis, até porque dois a demanda chinesa deve desaquecer - o furor dos jogos Olímpicos foi muito mais do que belas cerimônias totalitaristas nos modernos estádios de Pequim. Após os jogos, a economia chinesa sentiu o impacto das ordens de fechar o parque industrial da capital para melhorar a qualidade do ar na região. Em paralelo, depois de o governo americano se manter fiel à ortodoxia neoliberal até o último instante, a casa caiu em Wall Street. Os dois países estão conectados pelo comércio mundial e o investimento chinês em títulos do Tesouro dos EUA, se um sofre o outro também sofre.

É sobre isso que é mais importante discutir quando se trata de pensar um caminho viável para a raça humana, uma alternativa a essa cassino de Wall Street, à essa sociedade do desperdício materialista. A não ser que chova sapos no Times Square depois de amanhã eu duvido que os EUA abandonem sua sua índola messiânica no curto prazo. O Sol sempre brilhava no império britânico, se dizia no início do século XX. Hoje a realidade é bem diferente. Eu pessoalmente prefiro Henry David Thoreau a Thomas Jefferson, e Billie Holiday a Ella Fitzgerald. Se democrata fuma maconha e republicano tem arma em casa é só uma mera curiosidade, uma platitude.

5.11.08

Obama é o novo presidente


31.10.08

Kafka Edições




30.10.08

Obama mais perto da vitória

A análise da Associated Press aponta vitória de Obama, com mais de 270 votos no colégio eleitoral (ou seja, tendo vencido o número de estados suficiente para atingir essa marca). O candidato democrata manteve os estados que John Kerry ganhou em 2004, e conquistou espaço em lugares que votam no Partido Republicano desde os anos 80, como Nevada, graças a uma campanha de base, ou "grassroots". Como o voto é facultativo nos EUA, parte do trabalho da campanha é eletrizar o eleitor para ir à urna.

Nos últimos dias, contudo, as pesquisas de opinião apontam recuperação de McCain entre os eleitores brancos sem nível superior. O preço da gasolina baixou de US$ 4 o galão durante o auge do verão para US$ 2,50, amolecendo a fúria de muitos motoristas de utilitários esportivos. Mas a economia está em frangalhos e o país luta duas guerras - a do Iraque, que evoluiu positivamente no último ano, e a do Afeganistão, que piorou e já ameaça se expandir para o Paquistão. Os militares americanos estão bombardeando o norte do país e a Síria com aviões teleguiados, leves e invisíveis ao radar. Pesquisa sobre o Vale Korengal, teatro das batalhas mais sangretas do conflito afegão.

No New York Times, Mark Leibovich acompanhou 11 comícios dos dois candidatos e de seus vices. Os mais cheios são os de Obama, seguidos dos de Sarah Palin (vice republicana), McCain e Biden (parceiro de Barack no "ticket").

“A lot of people on the other side just want free money,” said Susan Emrich, at a McCain-Palin rally in Hershey on Tuesday. A real-estate agent, she wears a T-shirt that says, “I’m voting for Sarah Palin and that White Haired Dude.” Ms. Emrich would like to attend another rally later that day in nearby Shippensburg, but can’t. “I have to work,” she explains. “I’m a Republican.”

There is an edge at Obama rallies, but it is less of frustration, more of fear. Those supporters worry that the election may be stolen from them, that race could skew against an African-American candidate, or that something unspeakable might befall Mr. Obama — but they will speak it nonetheless, in hushed tones.

Vou traduzir aqui o que dizia a camisa da corretora imobiliária citada acima, a Susan Emrich, de Hershey, Pensilvânia.


"Meu voto é na Sarah Palin
e no Cara da Cabeça Branca"
Aí me lembrei da mulher que vendia cerveja barata em seu apartamento no conjunto habitacional Parque São Brás em 2000 e tinha uma imagem em papelão, tamanho natural, do Antônio Carlos.

ANL

29.10.08

Achados e perdidos

29/10/2008 - 03h26
Mulher encontra maconha em banco de ônibus em SP
da Agência Folha

Uma passageira encontrou no banco de um ônibus um pacote com mais de meio quilo de maconha na noite desta terça-feira (28). Ninguém foi preso.

A droga estava no ônibus 5106, que faz a linha Terminal Princesa Isabel-Jardim Selma, zona sul de São Paulo.

Segundo informações da Polícia Civil, por volta das 21h30, a passageira encontrou a caixa ao sentar e entregou ao cobrador.

Desconfiado, ele e o motorista pararam ao ver uma viatura da polícia próximo à avenida Armando de Arruda Pereira. Além do meio quilo de maconha, havia dois invólucros de cocaína.

Caso registrado no 97º DP (Americanópolis).

"A hibernation is a covert preparation for a more overt action."

Ralph Ellison, "Invisible Man"

27.10.08

Fascist America, in 10 easy steps

From Hitler to Pinochet and beyond, history shows there are certain steps that any would-be dictator must take to destroy constitutional freedoms. And, argues Naomi Wolf, George Bush and his administration seem to be taking them all

25.10.08

Culture Wars

O WSJ publicou um interessante artigo na edição de hoje sobre os planos fiscais dos candidatos à presidência americana. Obama quer baixar os impostos, aumentando o número de cheques ao estilo "bolsa-família" para os mais pobres, enquanto McCain quer cortar os impostos para todos - inclusive para os ricos, que já pagam 35% e continuarão assim - Barack quer aumentar para 45%.

Então conversei ontem com meu avô e ele disse que está preocupado com a vitória de Obama. Ele é um velhinho de 90 anos, filho de imigrantes italianos, ex-empresário, republicano de ouvir a Fox News religiosamente. Mora num subúrbio de Knoxville, Tennessee. Eu lhe disse que o Obama não era isso tudo andavam pintando por aí, que seria muito mais pragmático do que ele pensa. Mas fiquei quieto quanto à socialização porque é isso mesmo. Se a desigualdade está aumentando, por que não redistribuir a parada?

Acho que talvez ele ainda esteja preso às guerras culturais dos anos 60, quando o país foi à loucura com o extremismo e os republicanos se aproveitaram do choque dos americanos moderados com o verão de 68 e inventaram que o sujeito médio de cidade pequena é o "verdadeiro patriota" e nós, esquerdistas de Nova York que tomam vinho importado e não comem na McDonald's, somos "a elite comunista". Parabéns Nixon, Karl Rove e Lee Atwater. Parabéns Reagan. Deu certo até a casa cair.

Mas rimos muitos com a situação do Chávez agora que o petróleo caiu de US$ 145 para US$ 65 o barril. A Venezuela anda com dificuldades para manter a luz acessa, então acho que o sonho neobolivariano da petroditadura socialista vai tremer nas bases - veja só, bastou o óleo cair pra a Argentina ter que confiscar os fundos de aposentadoria para cobrir o buracão que Chavecito não vai mais financiar. Os brazucas pelo menos ainda têm a pré-sal.

ANL

22.10.08

Death by lack of empathy

I've always been unable to cry, but now the tears flood my shirt. Office workers stare in atonishment at my sickly face. The coworkers don't know what to say, they seem baffled and anoyed at the same time. The tears become stronger, blinding streams of fluid that cause panic among the technocrats. The water flows with more and more vigour, it's staining the carpet, causing short circuits in the company machines. There's a salty river taking over the cubicles. People start to run, the fire department is called. In the end, the water dries, the electronic fires are contained, the workers start to return cautiosly. Hours later, the coroner writes in the report with his gloved, blood-stained hands: Cause of death: "unbearable self-contained pain/natural causes".

ANL

21.10.08

Trinity



As Los Alamos director J. Robert Oppenheimer watched the demonstration, he later said that a line from the Hindu scripture the Bhagavad Gita came to mind:

I am become Death, the destroyer of worlds.

Test director Kenneth Bainbridge replied to Oppenheimer, "Now we are all sons of bitches."

16.10.08

Poder y Negócios

Eu poderia escrever aqui sobre o meu entediante cotidiano ou sobre amores passados, mas eu quero mesmo é passar uma dica pra o pessoal que gosta de investir na bolsa e tirar rendimento todo mês: não rola. A Bovespa caiu 40% porque a maior parte dos investidores é de natureza especulativa. Se houvesse pessoas dispostas a investir na empresa mesmo, como deveria ser, o índice não cairia tanto. Os urubus do mercado já estão sentindo o doce aroma da massa putrefata dos bancos.

Estamos no meio de um pânico no mercado. Fala-se muito de Grande Depressão II, mas o mundo é muito mais rico hoje que naquela época. Chávez pode espernear quanto quiser, e os urubus da hora podem decretar o fim da hegemonia americana, mas esta crise revela justamente o contrário, a dependência mundial do sistema financeiro americano. Mas, de fato, as nacionalizações de bancos representam um passo à esquerda, ou ao socialismo, para alguns dos países mais capitalistas do mundo.

Nos EUA, o candidato da esquerda está à frente nas pesquisas. Ontem (16/10) foi o último debate e mais uma vez Barack Obama demonstrou segurança, sangue frio e inteligência. McCain não é nenhum monstro, mas está atrás nas pesquisas porque nada como morder o bolso dos americanos para promover uma mudança de governo. O país estará em boas mãos, diferentemente da eleição para prefeito em Salvador, em que os eleitores acabaram com duas mórbidas escolhas: o pior ou o menos pior, eu presumo, até porque não conheço Walter Pinheiro. Mas com João Henrique, só posso recomendar uma coisa: chora, minha Bahia, chora.

P.S: o título do post é uma homenagem ao amigo mexicano Rafael Carballo.

10.10.08

A natureza do caos



Kal's cartoon, do Economist

9.10.08

Agridoce

A vida no exílio é agridoce, como toda vida deve ser. Quando a saudade amarga demais se começa a cavoucar entre os grãos para produzir banquetes de feijão gorduroso; São dias de trabalho e reviravoltas, de grandes oportunidades efêmeras que se dissolvem em questão de horas. E a atmosfera de pânico, incruada nas torres que admiro entre um cigarro ou outro, do outro lado do rio. Wall Street anda vazia esses dias. Todos parecem satisfeitos demais em criticar a própria queda, quando poderiam enxergar a luz de toda essa loucura. Assisti satisfeito ao circo pegar fogo desde o ano passado mas esse prazer amargou nos últimos dias. O governo americano está se debatendo desesperadamente para conter o colapso do sistema financeiro mundial: descobriram que aquele dinheiro todo não existia. Há uns quinze dias, começava a esfriar e a televisão não parava de chiar com falências astronômicas de baluartes do sistema. Desliguei o aparelho, sentamos à mesa. O Natal será difícil em 2008, disse minha mulher, esfregando os olhos.

A Média Industrial Dow Jones já retrocedeu para onde se encontrava antes de Bush assumir a presidência. Os americanos reclamam que suas contas de aposentadoria, cujo rendimento arriscado foi achatado pela crise, perderam US$ 2 trilhões nos últimos quinze dias. Ninguém sabe onde vai parar esse buraco. A nacionalização mundial dos bancos pode ser um golpe de humildade importante para a megalomania dos materialistas, mas também ameaça causar uns cinco anos de estagnação dolorida. Os brasileiros pelo menos já estão acostumados.

Benjamin Graham, famoso professor de economia, foi um dos principais proponentes do investimento de longo prazo, em que se busca dividendo e o acionistas realmente
acompanham o desempenho da empresa. Warren Buffett, o segundo homem mais rico do mundo, famoso pela modéstia e frugalidade, é um de seus discípulos. Graham dizia que o "Mr. Market" é um cara estranho, volúvel, que todo dia aparece na sua porta oferecendo um preço diferente para compra e venda, e o melhor a fazer é não se atazanar com tanta amolação.

Lula está vivendo no país dos sonhos e por isso mesmo mente gostoso. A crise bancária não afetou as grandes instituições brasileiras, recheadas de depósitos, mas dificultou pra muito banco médio e pequeno refinanciar suas operações de crédito. E crédito, porra, foi o que disparou o Brasil esse ano. O Globo chegou a dizer que os grandes bancos estavam tentanto forçar as piabas a vender carteiras de crédito na bacia das almas, a.k.a. fucking cheap. Pra frente, Brasil.

Já faz quinze dias que o formulário de registro para votar nas eleições presidenciais está juntando poeira na mesa. Tenho assistido aos debates avidamente mas evito defender qualquer candidato. Eu gosto mesmo é de atacar Sarah Pailin. Eu respeito McCain e já senti admiração por seu passado heróico, mas não acho que ele tenha a capacidade de compreender os frenéticos desafios da era. Obama é muito mais confortável na manta de reformista. Caso vença as eleições, como prevêem as pesquisas, Obama representaria um notável marco na evolução das relações raciais nos Estados Unidos e no futuro da nação como um todo, há apenas 50 anos do movimento dos direitos civis e Martin Luther King Jr. Mas Obama pode ser uma merda. Faz um ano que acompanho essa eleição e Obama me parece muito mais um cara conciliador, centrista, do que esse bicho perigoso que os republicanos andam pintando por aí. Oremos para que o destino não depósite no julgamento de Sarah Palin, a caçadora de alce do Alasca, a decisão final de vaporizar ou não o Irã.

ANL, o vampiro da lâmpada fluorescente.

7.10.08

The Animals

Mr. Cajas was in a quick-reaction force, the guys who knock down doors. “We did a good job,” he said. “The irony of service is, we did a good job, and came back different. This is what it does to humans. The analogy we used was prison. We were locked in the base, and every time we were released, we had to go kill people. We acted like animals because that’s what we were.”

2.10.08

Sobre os escritores

"Eruditos, pretensiosos e bem providos de mãozinhas de seda... Mas sem rosto e entregues a um rendoso comércio de prestígio, um promíscuo troca-troca explícito, a maior suruba da paróquia."
Raduan Nassar

19.9.08

Ser baiano



O Mito da Preguiça Baiana, Não Passa de Racismo

Escrito por Girimias Dourado
Saturday, 04 December 2004

"Preguiça baiana" é faceta do racismo. A famosa "malemolência" ou preguiça baiana, na verdade, não passa de racismo, segundo concluiu uma tese de doutorado defendida na USP. A pesquisa que resultou nessa tese durou quatro anos.


A tese, defendida pela professora de antropologia Elisete Zanlorenzi, da PUC-Campinas, sustenta que o baiano é muitas vezes mais eficiente que o trabalhador das outras regiões do Brasil e contesta a visão de que o morador da Bahia vive em clima de "festa eterna".

Pelo contrário, é justamente no período de festas que o baiano mais trabalha. Como 51% da mão-de-obra da população atua no mercado informal, as festas são uma oportunidade de trabalho. "Quem se diverte é o turista", diz a antropóloga.

O objetivo da tese foi descobrir como a imagem da preguiça baiana surgiu e se consolidou. Elisete concluiu, após quatro anos de pesquisas históricas,que a imagem da preguiça derivou do discurso discriminatório contra os negros e mestiços, que são cerca de 79% da população da Bahia.

O estudo mostra que a elevada porcentagem de negros e mestiços não é uma coincidência. A atribuição da preguiça aos baianos tem um teor racista.

A imagem de povo preguiçoso se enraizou no próprio Estado, por meio da elite portuguesa, que consideravam os escravos indolentes e preguiçosos, devido às suas expressões faciais de desgosto e a lentidão na execução do serviço (como trabalhar bem-humorado em regime de escravidão????).

Depois, se espalhou de forma acentuada no Sul e Sudeste a partir das migrações da década de 40. Todos os que chegavam do Nordeste viraram baianos. Chamá-los de preguiçosos foi a forma de defesa encontrada para denegrir a imagem dos trabalhadores nordestinos (muito mais paraibanos do que propriamente baianos), taxando- os como desqualificados, estabelecendo fronteiras simbólicas entre dois mundos como forma de "proteção" dos seus empregos.

Elisete afirma que os próprios artistas da Bahia, como Dorival Caymmi, Caetano Veloso e Gilberto Gil, têm responsabilidade na popularização da imagem. "Eles desenvolveram esse discurso para marcar um diferencial nas cidades industrializadas e urbanas.

A preguiça, aí, aparece como uma especiaria que a Bahia oferece para o Brasil", diz Elisete.

Até Caetano se contradiz quando vende uma imagem e diz: "A fama não corresponde à realidade. Eu trabalho muito e vejo pessoas trabalhando na Bahia como em qualquer lugar do mundo".

Segundo a tese, a preguiça foi apropriada por outro segmento: a indústria do turismo, que incorporou a imagem para vender uma idéia de lazer permanente "Só que Salvador é uma das principais capitais industriais do país, com um ritmo tão urbano quanto o das demais cidades."

O maior pólo petroquímico do país está na Bahia, assim como o maior pólo industrial do norte e nordeste, crescendo de forma tão acelerada que, em cerca de 10 anos será o maior pólo industrial na américa latina.

Para tirar as conclusões acerca da origem do termo "preguiça baiana", a antropóloga pesquisou em jornais de 1949 até 1985 e estudou o comportamento dos trabalhadores em empresas. O estudo comprovou que o calendário das festas não interfere no comparecimento ao trabalho. O feriado de carnaval na Bahia coincide com o do resto do país. Os recessos de final de ano também.

A única diferença é no São João (dia 24 /06), que é feriado em todo o norte e nordeste (e não só na Bahia).

Em fevereiro (Carnaval), uma empresa, com sede no Pólo Petroquímico da Bahia, teve mais faltas na filial de São Paulo que na matriz baiana (sendo que o n° de funcionários na matriz é 50% maior do que na filial citada).

Outro exemplo: a Xerox do Nordeste, que fica na Bahia, ganhou os dois prêmios de qualidade no trabalho dados pela Câmara Americana de Comércio (e foi a única do Brasil).

Pesquisas demonstram que é no Rio de Janeiro que existem mais dos chamados "desocupados" (pessoas em faixa etária superior a 21 anos que transitam por shoppings, praias, ambientes de lazer e principalmente bares de bairros durante os dias da semana entre 9 e 18h), considerando levantamento feito em todos os estados brasileiros. A Bahia aparece em 13° lugar.

Acredita-se hoje, e ainda por mais uns 5 a 7 anos, que a Bahia é o melhor lugar para investimento industrial e turístico da América Latina, devido a fatores como incentivos fiscais, recursos naturais e campo para o mercado ainda não saturado.

O investimento industrial e turístico tem atraído muitos recursos para o estado e inflado a economia, sobretudo de Salvador, o que tem feito inflar também o mercado financeiro (bancos, financeiras e empresas prestadoras de serviços como escritórios de advocacia, empresas de auditoria, administradoras e lojas do terceiro setor).

Mídia reproduz preconceito e imagem construída da preguiça baiana.

A preguiça baiana e a imagem generalizada do nordestino malemolente e devagar são perfis construídos historicamente e reforçados pela mídia.

Essa é uma das conclusões da tese, que será transformada em livro e deve chegar às livrarias até o final do ano.

A pesquisadora explica que, depois de morar em Salvador, entre 1980 e 1984, ficou intrigada com a campanha difamatória comandada pela mídia local sobre o movimento do bairro Calabar, que teve origem a partir de uma ocupação na década de 1940 em uma região nobre da capital baiana.

"O que me chamou a atenção foi que eles davam um duro danado: conseguiram água, esgoto e luz para Calabar. Mas a imprensa fazia a imagem de vagabundos, preguiçosos e criminosos", lembra a autora da pesquisa, que focou seu trabalho na representação do trabalho e do tempo.

O papel da imprensa nessa construção é muito importante, diz Zanlorenzi, porque reproduz o discurso e os interesses da elite. Desde o século XVI, a elite baiana depreciava os negros escravos, que eram descritos, primeiramente, como desorganizados e sujos, depois como analfabetos e sem conhecimento, e, finalmente, como preguiçosos.

A famosa Ladeira da Preguiça, em Salvador, ganhou este nome por ter sido a via de acesso de mercadorias vindas do porto para a cidade e que eram levadas em carretões puxados a boi e empurrados por escravos.

Essa era a forma de interiorização da dominação, no período da escravidão, afirma a antropóloga. Depois, a depreciação assumiu a forma da exclusão. Assim aconteceu com os negros, índios e imigrantes nordestinos nas regiões Sul e Sudeste, quando, a partir da década de 1950, intensificou-se a imigração.

A imagem de preguiçoso estendeu-se aos imigrantes dos estados nordestinos, categorizados como "baianos", a grande maioria oriunda de fazendas vitimadas pela seca, normalmente mestiços, afro-descendentes e desqualificados profissionalmente.

O nordestino foi responsabilizado, enfatiza a pesquisadora, por todo caos do crescimento urbano da cidade, enquanto não havia qualquer projeto de inclusão social.

"Depreciar era interessante, porque justificava baixos salários e falta de investimento", esclarece.

O sociólogo Octavio Ianni (1925-2004), um dos examinadores da banca de doutorado de Zanlorenzi, destacou que a tese mostrava a forma sutil de racismo a negros e nordestinos.

No candomblé, outra raiz dessa imagem pôde ser identificada, uma vez que a relação tempo e trabalho ali existente se contrasta com a da visão capitalista.

"A influência da cultura afro na Bahia é muito forte e o candomblé é a matriz religiosa dessa cultura, onde o trabalho não se contrapõe ao tempo livre nem é uma obrigação, como no capitalismo", explica.

No candomblé, o trabalho é só um dos aspectos da vida, além do lazer, da família e dos amigos, sem fazer com que isso represente um trabalho desleixado.

"Só agora, o capitalismo está descobrindo a necessidade de ver o trabalhador como um ser humano", lembra a antropóloga. Não é à toa que na sociedade capitalista é tão comum perguntar a uma criança "o que ela vai ser quando crescer", e chama de preguiça o trabalho que não é realizado para o acúmulo.

Assim, o índio, por exemplo, que produz para a subsistência, também recebeu o mesmo estigma de preguiçoso.

Jornais

Em seu doutorado, Zanlorenzi analisou a cobertura dos jornais Folha de S. Paulo, O Estado de São Paulo, Jornal da Bahia e Jornal do Brasil, entre os anos de 1949 e 1985, e constatou, por exemplo, que o Sudeste foi construindo a imagem da preguiça associada à imigração.

O trabalho concentrou-se nos períodos de festa (junho/julho/agosto e dezembro a março), quando mais se trabalha no Nordeste, mas quando mais se reforça a imagem da preguiça e do não-trabalho.

Entre as conclusões, verificou-se que os jornais eram o espelho do discurso social mais amplo, ou seja, não eram eles os geradores, mas ajudavam a criar um discurso autônomo na sociedade. Outra constatação da pesquisa foi que a mídia passou a ser o espaço de reprodução do discurso turístico, a partir da década de 1960, quando o próprio governo do estado da Bahia passou a explorar a imagem da preguiça.

Nessa época, a indústria do turismo investiu no slogan da Bahia paradisíaca, para onde deve ir aquele que quer descansar, onde a festa nunca acaba e ninguém usa relógio. Também nesse período, Dorival Caymmi e Ary Barroso cantavam a Salvador de 1920, linda e malemolente, enquanto os novos baianos - Gal Costa, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethânia - incorporaram a mesma imagem da preguiça, como forma de se diferenciar no cenário musical da época nas regiões Sudeste e Sul.

Até hoje, a antropóloga ressalta que os baianos trabalham muito pela indústria do entretenimento, embora a preguiça tenha sido adotada como traço de identidade cultural.

Zanlorenzi, diz não acreditar que o discurso da preguiça tenha impregnado os próprios baianos e nordestinos que moram na sua região, "porque eles sabem o quanto trabalham".

No entanto, ela acredita que quando esses migram para o Sudeste acabam assumindo essa inferiorização em função do meio externo. "Quando se folcloriza, o discurso se desloca da realidade e ganha vida própria, criando uma força até maior do que tem", explica.

Elisete Zanlorenzii, é antropóloga, pesquisadora, professora da PUC-Campinas e coordena a área de Política Cultural do Programa de Apoio às Políticas Públicas da Pró-Reitoria de Extensão da mesma universidade.



comciencia

5.9.08

Troopergate


Confesso que as duas convenções políticas americanas me deixaram enojado, reflexivo. A convenção democrata menos, apesar daquelas colunas cafonas. Palavras chave ou nuvem de idéias: restaurar o sonho americano e a posição de liderança do país no mundo. Quando eu e uma amiga ouvimos isso, ficamos assustados.

A convenção republicana foi de um militarismo atroz, críticas ferinas a Obama e à esquerda, principalmente ao arquétipo do liberal. Então John McCain, condecorado herói da guerra do Vietnã, ex-prisioneiro de guerra e etc, e diz: "A mudança está vindo", sem muita cerimônia, se apropria do bordão da oposição para prometer mudança...mesmo com o seu partido no poder há 8 desastrosos anos de George W. Bush. (Já está na web o trailer de W., filme de Oliver Stone sobre o filho pródigo, garantia de alvoroço, pois será lançado pouco antes da eleição.)

Uma ferramenta interessante para tentar se prever o resultado das eleições presidenciais americanos é o electoral vote tracker do jornal USA Today, o maior do país.

Com base em pesquisas de opinião, eles já apontam alguns estados que tendem para os democratas e outros que preferem os republicanos. Eu voltei até a eleição de 1960, JFK contra Nixon, e acompanhei os padrões de mudança de voto dos estados durante os anos. Na reeleição de Reagan, em 1984, os americanos ovacionaram o pai do neoconversadorismo com mais de 80% dos votos.

O padrão da era Bush lembra o fim do governo Nixon, em 1973, quando o democrata Jimmy Carter venceu a eleição. Se parece também com o da vitória de Kennedy. A maioria das pesquisas (e, acredite, são centenas) indica vantagem de Obama no início da corrida, que vai até 4 de novembro. A governadora do Alaska, Sarah Pailin, escolha ousada dos republicanos para atrair o voto feminino das desiludidas eleitoras de Hillary Clinton, fascinou a direita. Mas todo tipo de sujeira já vem à tona sobre a ex-miss estadual: sua filha de 17 anos apareceu grávida, ela está sendo investigada pela assembléia estadual por suspeita de abuso de poder - o marido e um assesor tentaram forçar o secretário de segurança pública a demitir um policial rodoviário, um "Trooper", daí o nome do novo escândalo: Troopergate.


Voltando ao mapa do colégio eleitoral, acho que as chances de Obama são boas. Os americanos estão insatisfeitos com a incompetência do último governo e não enxergam nenhum Reagan a surgir pelo caminho. Só o velho McCain, que fez um bonito e hipócrita discurso ao aceitar a indicação de seu partido para disputar a presidência.

O National Enquirer, tablóide de fofocas dos mais escusos, anunciou que vai divulgar aos poucos fatos chocantes sobre Sarah Pailin e sua família. Antes execrado universalmente, o Enquirer divulgou com exclusividade um caso extra-conjugal do ex-senador John Edwards, um dos pretendentes democratas a disputar a presidência que ficou pelo caminho. Sua mulher (detalhe) está com câncer terminal. A carreira de Edwards, por enquanto, parece ter sido destruída.

John Edwards fez fama mesmo com processo milionários contra várias empresas por negligência ou responsabilidade. Seu maior caso, uma indenização de mais de US$ 20 milhões, foi obtido com uma menina de três anos que sentou num ralo aberto e teve seu intestino grosso sugado pela bomba da piscina. Ela ainda está viva.

A família Lakey, aparentemente feliz, com a menina em questão no meio. A foto é dos anos 90. Hoje ela deve estar com 19 anos.

1.9.08

Os FFs da Bahia

DEFINE A SUA CIDADE

De dous ff se compõe
esta cidade a meu ver,
um furtar, outro foder.
Recopilou-se o direito,
e quem o recopilou
com dous ff o explicou
por estar feito e bem feito:
por bem digesto e colheito,
só com dous ff o expõe,
e assim quem os olhos põe
no trato, que aqui se encerra,
há de dizer que esta terra
De dous ff se compõe.
Se de dous ff composta
está a nossa Bahia,
errada a ortografia
a grande dano está posta:
eu quero fazer aposta,
e quero um tostão perder,
que isso a há de perverter,
se o furtar e o foder bem
não são os ff que tem
Esta cidade a meu ver.
Provo a conjetura já
prontamente com um brinco:
Bahia tem letras cinco
que são BAHIA,
logo ninguém me dirá
que dous ff chega a ter
pois nenhum contém sequer,
salvo se em boa verdade
são os ff da cidade
um furtar, outro foder.

Gregório de Mattos

20.7.08

Strange fruit



By Lewis Allen*

Southern trees bear strange fruit,
Blood on the leaves and blood at the root,
Black bodies swinging in the southern breeze,
Strange fruit hanging from the poplar trees.

Pastoral scene of the gallant south,
The bulging eyes and the twisted mouth,
Scent of magnolias, sweet and fresh,
Then the sudden smell of burning flesh.

Here is fruit for the crows to pluck,
For the rain to gather, for the wind to suck,
For the sun to rot, for the trees to drop,
Here is a strange and bitter crop.

*(Imortalizado na voz de Billie Holiday, com
base num poema de um professor judeu de Nova York. Ninguém queria
gravar a música, até que ela conseguiu um selo alternativo. É
considerada hoje em dia uma das músicas mais importantes da
cultura americana. Ouça aqui)

27.6.08

Kane is back

O jornal New York Post foi fundado em 1801 por Alexander Hamilton, um dos mais importantes líderes da revolução americana, mas propaga hoje em dia a sina sensacionalista do atual dono, o bilionário australiano Rupert Murdoch, controlador do maior império de mídia do mundo, a News Corp. Em artigo na revista Atlantic Monthly, o professor de jornalismo Mark Bowden o decreve como um cidadão Kane às antigas, que torce o nariz para o jornalismo aprofundado defendido por Pulitzer (fundador do curso de jornalismo da Universidade Columbia) e que alcançou o auge com o Wall Street Journal, vendido a Murdoch em 2006 por um valor recorde para um jornal, US$ 6 bilhões. O cara gosta mesmo é de competir com o The New York Times e cavar informações exclusivas. Desde então, ele conseguiu modificar o Journal mais ao seu gosto, mas sempre é empurrado de volta ao noticiário econômico quando os leitores do vetusto diário parecem se rebelar com sua vibe mais imediatista. Um exemplo dela: durante os anos 80, o Post ainda se arrastava um pouco para a esquerda e publicou uma das manchetes mais bizarras de sua história: "Headless body in topless bar", sobre um homícidio numa boate. O Post custa 25 centavos e pode ser adquirido em qualquer biboca e metrô da cidade.

Recentemente, o amarronzado diário publicou fotos sensuais de Ashley Dupre, a garota de programa que foi pivô do escândalo que derrubou o entao governador Eliot Spitzer, que pagou para que viesse a Washington transar com ele num hotel de luxo da cidade. "Ele gostava de umas coisas esquisitas. Mas eu sei lidar com caras assim", disse Ashley no depoimento às autoridades americanas. A investigação sobre estranhas retiradas na conta do governador acabou levando à fonte de seus gastos suspeitos: milhares de dólares para as garotas de programa. Teve gente que noticiou o envolvimento de uma brasileira na história, mas era tudo cascata. Spitzer caiu e hoje o governador de Nova York é o vice David Patherson, que perdeu na infância praticamente toda a visão.

17.6.08

"The Brief Wondrous Life of Oscar Wao"



agora terminei "The Brief Wondrous Life of Oscar Wao", de Junot Díaz, ganhador do prêmio Pulitzer de melhor romance de 2008. Estava voltando do supermercado na minha rua quando me bateu, eu também era um garoto esquisito, lendo o tempo todo, ficção científica e RPG.

No caso de Oscar Wao, um dominicano negro de primeira geração vivendo em Paterson, New Jersey, a vida é um pouco mais estranha. Ler é ridículo para os pares e Oscar é um consumidor voraz, sempre escrevendo trilogias e tetralogias, overweight, sem mulher, ridicularizado por todos, até os melhores amigos. A partir dessa premissa, Díaz conta a sua versão da diáspora nos EUA e dos ossos no armário, da ditadura brutal de Rafael Trujillo.

Não há ponto de partida nesta história da maldição de uma família, o fukú. A República Dominicana e os Estados Unidos compõem os fragmentos dispersos no ponto de vista de amigos e familiares, e de outras histórias, mais antigas e sinistras. A terra prometida da diáspora de Díaz é brutal, mas como na Ilha de Santo Domingo, também tem sonhos e visões do inexplicável. Díaz, como Khaled Hosseini e outros imigrantes e exilados de uma nova literatura americana, adota o inglês para expurgar a sua visão das dores do mundo, mas de sua parte acrescenta uma dose generosa de saboroso espanhol, a exemplo de quando identifica na luxúria do ditador e de seus asseclas os elementos de uma "culocracia".

Díaz também publicou um livro de contos, "Drown" (1996). Nascido em Santo Domingo em 1968, ele é professor de criação literária do MIT e editor da revista Boston Review.

7.6.08

Fui (e já voltei)

16.5.08

Greatest Hits

Aero Willys



Helio Barbosa nasceu numa noite dolorida, pelas mãos de uma parteira caolha, no 12 de dezembro de 1916, em terra seca do Lagarto, onde os habitantes famintos acostumaram-se a caçar os répteis remanescentes. Cresceu forte e sadio, mas perdeu os pais para a tísica aos 18 anos. Ensaiava carreira militar; chegara a cabo; era organizado e prestativo. Mas o irmão mais velho, um padre de certa influência e que deveria sustentar o peso da família, pela tradição daquelas terras do Sergipe, negou a herança onerosa, influenciando a reprovação do irmão nos exames que o tornariam oficial. Resignado, Hélio cuidou da família. Fez bicos.

A próxima oportunidade foi no Banco do Brasil. Virou inspetor, famoso pela argúcia e exatidão. Corrigiu muitas agências bancárias de cidades esquecidas, como Adustina. Próspero, conheceu a filha de um fazendeiro decadente de cana de açúcar. Aproximaram-se, selaram o pacto de modos nada inocentes, formaram numerosa família, instalaram-se na Rua Maruim, ao lado da catedral e da prefeitura. Ele obteve uma posição estável e um Aero-Willys verde. Decidiu estudar na Bahia, formou-se em direito já um senhor distinto e dedicou-se à parapsicologia. Pelo menos uma vez, conseguiu deixar o seu corpo físico, feito interrompido apenas pelo rodar alvoroçado de um ônibus na sua rua, que se tornara central à medida que a cidade crescera nos últimos vinte anos. Aposentado, viajou de navio à Terra Santa e o Vaticano, chegou até a comprar uma pistola Bereta .25, e até, às vezes, a empunhava para mirar o muro.Aos 80 anos, ao menos 40 deles com uma dieta metódica, calórica, tornou-se senil. Dormia a maior parte do tempo. Fui visitá-lo.
- Lembra quando fomos passear no Aero Willis e o carro parou em frente ao Parque Cementeira? Você esperou a chuva passar e depois trocou o fusível. Buzinava duas vezes antes passar nas esquinas - falei, brincando, quando sentei ao seu lado para vê-lo almoçar. Seus olhos lacrimejavam de catarata. Peguei em sua mão. Percebi que tentava me reconhecer. No quarto, ao redor, a audiência íntima respirava em calma expectativa na atmosfera de odor higiênico e pacífico. Um lugar escudado, seu destino final. O frigobar persistente lembrava-o de tempos antigos, sem eletrodomésticos.
- Eu gosto de ler, vô, disse. Só aí é que ele assentiu, com um leve movimento da cabeça grisalha e esfiapada pelos últimos tufos de cabelos.
- E está fazendo muito certo.
Depois, voltou-se para o zumbido do televisor. Dormiu.

24.3.08

Hillary Clinton vira o jogo e Obama tropeça



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Salvador, Bahia
Domingo , 23/03/2008
1º Caderno

PATRICK BROCK | ESPECIAL PARA A TARDE, DE NOVA IORQUE

Texas, 3 de março. Barack Hussein Obama deixa bruscamente a sala onde presidia uma coletiva de imprensa. Ele acabara de ser bombardeado com perguntas incisivas. “Puxa, eu já respondi, tipo, oito perguntas. Estamos atrasados”, disse, apressadamente, enquanto deixava a sala sob os berros dos repórteres, na primeira briga de seu longo namoro com a mídia americana.

Dois dias depois, Hillary Rodham Clinton, sua adversária, obteve importantes vitórias nos Estados do Texas e de Ohio. Renascia das cinzas mais uma vez para alimentar a fogueira da disputa pela indicação do Partido Democrata à presidência dos Estados Unidos, demorado processo que ganhou a complicação adicional de uma disputa intrapartidária entre os candidatos democratas.

A campanha de Hillary Clinton, senadora pelo Estado de Nova Iorque e casada com o ex-presidente Bill Clinton, mostrou seus músculos. Depois de errar a mão ao utilizar o marido para desacreditar Obama, e diante das primeiras pressões para abandonar a corrida – especialmente após a seqüência de derrotas e de John McCain ter assegurado votos suficientes para disputar a presidência pelo Partido Republicano – Hillary trocou alguns assessores de campanha e partiu para o ataque. Ao mesmo tempo, a mídia americana passou a focar mais nos defeitos de Obama do que no fenômeno da sua rápida ascensão ao centro da política nacional.


PARÓDIA – Um sinal desse olhar mais crítico surgiu no programa de televisão “Saturday Night Live”. Numa paródia da cobertura da CNN de um debate presidencial, os jornalistas bajulavam Obama e cortavam Hillary. Esta, por sua vez, captou a mensagem e passou a reclamar da branda cobertura que seu adversário vinha recebendo. Tom Edsall, ex-repórter do Washington Post e professor de jornalismo da Universidade Columbia, disse ao jornal canadense Globe & Mail que “alguns repórteres se envolveram demais com o entusiasmo ao redor” de Obama.

“O que Obama deve fazer – e o que não é capaz de fazer – é articular uma visão concreta que vá além da retórica inspiradora”, disse em entrevista à rede americana NBC Karl Rove, ex-assessor presidencial conhecido em alguns círculos nos EUA como “ o cérebro de Bush”.

Rove, que comandou as duas campanhas do atual presidente americano George W. Bush, acha que o belo discurso de Obama está ficando anêmico. “Tem muito pouco conteúdo. Está passando de inspirador a insípido”. Para ele, Obama tem duas opções: atacar Hillary ou tentar mostrar que realmente tem planos sólidos para comandar o país.


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Salvador, Bahia
Domingo , 23/03/2008
1º Caderno

Delegados do partido vão definir escolha

Embora Hillary tenha ganho estados importantes, Obama conquistou vários estados rurais, o que lhe dá uma vantagem no número de delegados mas não no de "superdelegados" – os cerca de 849 líderes regionais dos democratas com peso maior na escolha do indicado, e que favorecem a Hillary. A próxima etapa são as primárias da Pensilvânia em 22 de abril, com 188 delegados em jogo.

Dois meses depois do início das primárias, e ainda faltando seis meses para a sua conclusão, o Partido Democrata luta para resolver a disputa com os Estados de Michigan e Flórida.

Eles foram expulsos da convenção nacional do partido em agosto porque quiseram realizar as suas primárias antes da "superterça" de 5 de fevereiro, contra determinação do diretório nacional.

Com seus 366 delegados, os dois importantes estados podem ajudar a decidir quem será o candidato democrata à presidência.

A dúvida é como será feita a partilha e se haverá novo voto.

O presidente do partido, Howard Dean, propôs a divisão igualitária dos delegados na Flórida e há um plano de votar novamente em Michigan, mas o processo de negociação para encontrar uma solução tem se arrastado.

Esta semana, os democratas da Flórida recusaram um plano de votar novamente e alguns deles defenderam uma penalização no número de delegados, em troca da participação na convenção (PB).

Salvador, Bahia
Domingo , 23/03/2008
1º Caderno Mídia investiga a vida de Obama

As últimas semanas têm sido difíceis para Barack Hussein Obama, de 46 anos, nascido em Honolulu, Havaí, a 4 de agosto. Apesar das vitórias nas últimas primárias, do Mississippi e Wyoming, e da vantagem no voto popular, ele teve de apagar vários incêndios de campanha e explicar a amizade com um lobbista acusado de corrupção e com um pastor negro radical. Os resultados das pesquisas de bocade-urna no Texas e em Ohio também revelaram um eleitorado claramente dividido em relação a ele, não apenas em termos de raça, mas também em faixa etária e nível educacional.

Foi revelado que um de seus assessores para política internacional disse a diplomatas canadenses que a postura crítica de Obama em relação ao Nafta, acordo de livre comércio com o México e o Canadá, era pura encenação e que ele não pretendia renegociá-lo. A gafe repercutiu muito mal, especialmente em estados como Ohio, que vêm sofrendo com a globalização e a fuga das fábricas para o mundo em desenvolvimento.

“Temos uma cultura política doentia, e é desse ambiente que Barack Obama veio”, disse à rede de TV ABC Jay Stewart, o diretor da Better Goverment Association, ONG de fiscalização do governo criada em Chicago em 1923 para combater a máfia de Al Capone. Outra assessora chamou Hillary de “monstro” em entrevista a um jornal holandês.

PASTOR – As redes americanas de TV exibiram gravações de vídeo de Jeremiah Wright Jr., pastor de Obama, que celebrou seu casamento e batizou suas filhas, acusando o governo americano de corrupção e racismo e sugerindo que o país mereceu os ataques do 11 de Setembro de 2001.

“Deus abençoe a América? Deus amaldiçoe a América!”. As imagens foram amplamente divulgadas e repercutiram negativamente, obrigando o candidato a apagar o incêndio.

Na Filadélfia, num brilhante discurso em que falou pela primeira vez da questão da raça, Obama defendeu a sua posição, distanciando-se das declarações de Wright mas sem criticá-lo. “Eu não posso condená-lo, assim como não posso condenar a comunidade negra”, disse Obama.

“Tanto como não posso condenar a minha avó branca, que muitas vezes demonstrou estereótipos racistas que me deixaram com raiva”, disse.

Mais uma vez, Obama demonstrou retórica brilhante, comparável à do reverendo Martin Luther King, Jr. No entanto, ele também abriu uma nova fase da campanha, ao abandonar o discurso de que a cor da pele não deve ser um fator e reconhecer a face racista dos EUA.

A questão racial ficou mais transparente nesta etapa da campanha, com os resultados das primeiras compilações de dados. O resultado é surpreendente: Obama vence nas zonas rurais e nos estados de maioria negra ou branca, mas perde nas zonas urbanas com maior diversidade racial, onde se concentra a população americana.

De todas as complicações que surgiram nos últimos tempos, a mais cabeluda é o julgamento de Tony Rezko, lobbista de Chicago que angariou fundos para as primeiras campanhas do senador mas agora é acusado de corrupção e fraude.

Em 2005, Obama comprou uma casa de US$ 1,7 milhão em Chicago, no bairro South Side, enquanto a esposa de Rezko, no mesmo dia, comprou por US$ 650 mil um terreno baldio adjacente à casa.

Depois, a família Obama comprou uma parte do terreno baldio por US$ 300 mil. Obama admitiu que visitou a casa junto com Rezko e que o negócio, que pode constituir uma violação das regras de ética do Senado dos EUA, foi “burrice”

Antes o elefante branco na sala, a questão racial ficou mais transparente nesta etapa da campanha, com os resultados das primeiras compilações de dados sobre o voto. O resultado é surpreendente: Obama vence nas zonas rurais e nos estados de maioria negra ou branca, mas perde nas zonas urbanas com maior diversidade racial, onde se concentra a população americana.

Em Ohio, essas diferenças ficaram claras: a maioria dos brancos acima de 40 anos, especialmente as mulheres e as pessoas sem nível superior, votou em Hillary. Obama ganhou o voto maciço dos jovens, dos negros, e dos brancos com nível superior, mas 94% dos eleitores disse que Hillary é a candidata com a experiência certa para o cargo, enquanto só 5% disse isso em relação a Obama. Contudo, 68% acham que ele é o candidato com mais chance de realizar mudanças.

Todos os dados correspondem à pesquisa de 5 de março do Edison/Mitofsky National Election Pool (http://www.exit-poll.net), consórcio criado em 2003 pelas maiores organizações de mídia dos EUA para centralizar a realização de pesquisas de boca de urna(PB).

11.3.08

In Havana, A Page From McCain's Past

Restaurateur Displays Story Of Interview With POW

By Manuel Roig-Franzia
Washington Post Foreign Service
Tuesday, March 11, 2008; C01


HAVANA -- At first glance, the trophy wall in the Cactus on 33rd restaurant seems to follow a standard local formula.

Framed photo of heroically posed rebel. Check.

Rusty rifle. Check.

Signed postcard from Ernesto "Che" Guevara. Check.

But there, among the routine, lies a surprise: a copy of a faded, 38-year-old article from Granma, the Cuban Communist Party newspaper. On the page is a photo of Fernando Barral, a Cuban psychologist turned restaurateur, sitting at a well-appointed coffee table in Hanoi. He is interviewing a square-jawed, sandy-haired U.S. prisoner of war. A prisoner of war named John McCain.

That a nearly four-decade-old photo of a U.S. POW would become a restaurant prop in this seaside capital stands as testament to Havana's time-warp vibe and its enduring anti-U.S. sentiments. More than just a place where vintage American cars rumble and spit smoke, Havana can feel like a city that refuses to let go of the Cold War, where spies and conspiracy theories and intrigue are as much a part of daily life as rum, cigars and the rhythms of son music.

The Granma clipping in Barral's restaurant, dated Jan. 24, 1970, recalls one of the defining periods of McCain's life, his 5 1/2 years as a prisoner of war after his Navy jet was shot down over North Vietnam. The tale of that photo and how an obscure Cuban psychologist came to interview McCain -- now a 71-year-old U.S. senator from Arizona and the presumptive Republican presidential nominee -- rouses the echoes, curiosities and suspicions of another era.

There is no doubt that the two men met in Hanoi in January 1970. Their accounts of the basic outlines of the meeting are almost identical.

McCain briefly mentions his encounter with Barral in his 1999 autobiography, "Faith of My Fathers," calling him "a Cuban propagandist, masquerading as a Spanish psychologist and moonlighting as a journalist." McCain wrote that Barral concluded he was "a psychopath," but Barral said in an interview that he never reached that conclusion. A McCain campaign spokesman did not respond to several interview requests on the subject.

The Spanish-born Barral is now 79 and retains a lispy Madrile¿o accent even though he has lived nearly a half-century in Cuba. Barral said McCain was "boastful" during their interview and "without remorse" for any civilian deaths that occurred "when he bombed Hanoi." McCain has a similar recollection, writing in his book that he responded, "No, I do not" when Barral asked if he felt remorse.

Barral kept his original notes from the interview in a bound Vietnamese notebook with yellow flowers on the cover.

He said he kept the article about the interview tucked away for decades, most recently stashing it in the small living quarters behind the six-table restaurant he runs inside a creaking mansion in the Playa neighborhood, 15 minutes from downtown Havana.

After hearing of McCain's campaign about six months ago, Barral said, he hung the clipping in his restaurant, an archetypal Cuban paladar -- a small, privately owned restaurant sanctioned by the state -- with dining tables in the living room, arched wooden doors, wrought-iron grates and tile floors. Hardly anyone noticed the clipping until a few days ago, he said, when a reporter spotted it among the Che memorabilia.

Barral, who shuffles slightly when he walks and entertains visitors with a gruff sense of humor, said his route to the 1970 encounter with McCain winds through pre-Civil War Spain, Argentina, Hungary and Cuba.

His grandfather was a Spanish anarchist and his father was a socialist killed in the Spanish Civil War. He immigrated to Argentina with his mother when he was 11. There, he said, he befriended the young Guevara, who was the same age.

Barral was later expelled from Argentina because of his communist activism, he said. He fled to Hungary, where he studied medicine. Shortly after Fidel Castro took power in Cuba in 1959, he served as interpreter for a Cuban delegation visiting Hungary.

Barral sent greetings to Guevara and soon accepted the revolutionary icon's offer of a home and job in Cuba -- a copy of the invitation is on Barral's restaurant wall. Barral -- who said he speaks Spanish, French, Hungarian and Italian, and understands English -- said that in those days "Cuba represented this fresh vision, where everything was possible."

In 1967, he won an essay contest with a piece about "The Revolutionary Attitude." He keeps the yellowed telegram announcing his victory in his archives. First prize was a 40-day trip to North Vietnam for what he called "scientific research" about the North Vietnamese and their ability to resist U.S. forces.

"In that time, North Vietnam was the tops in our eyes in Cuba," Barral said. "It was the best example of a country confronting imperialism."

The trip was delayed until 1969, he said. Once in Hanoi, he conducted field research, eventually concluding that U.S. forces were underestimating the North Vietnamese. That's when he had the idea of interviewing a U.S. POW -- to "find out," he said, "how the enemy thinks."

Cuban diplomats in North Vietnam told him to say he was a Spanish psychologist, even though he hadn't lived in Spain since he was 11. At that time he was not a Cuban citizen, though he is now, he said.

The interview lasted between 45 minutes and an hour, Barral recalled. He said the men met at the offices of Hanoi's Committee for Foreign Cultural Relations, while McCain said in his book that the interview took place in a hotel.

McCain was escorted to the interview from the infamous "Hanoi Hilton," a prison where American servicemen were tortured and lived in miserable conditions. Barral said he does not know why his North Vietnamese handlers chose the cultural center as the site for the interview. But the location did not bother Barral because he wasn't interested in the conditions of the prison, merely in finding out what "the enemy" was thinking.

Barral said he conducted a cursory medical examination and found that McCain had difficulty rotating his arms. McCain told him that he had not been subjected to "physical or moral violence," Barral noted at the time.

In his small, precise handwriting, Barral noted that cookies, candies, teacups, oranges and cigarettes were on the table. McCain, who had suffered multiple fractures after ejecting from his plane, walked in leaning on a cane, Barral said.

Quickly dispensing with the pro forma name, rank and serial number, the men talked about McCain's family, his aspirations and the shootdown of his plane, according to Barral's notes. In his book, McCain writes that Barral asked "rather innocuous questions about my life, the schools I had attended and my family."

"He was only interested in talking about himself," Barral recalled. "He had a big ego."

The son and grandson of U.S. Navy admirals, McCain lamented in the interview that "if I hadn't been shot down, I would have become an admiral at a younger age than my father," Barral's notes state. Barral said McCain boasted that he was the best pilot in the Navy and that he wanted to be an astronaut.

"He felt superior to the Vietnamese up there in his plane, with all his training," Barral recalled.

McCain did not ask questions about news from abroad, Barral said, but did ask the psychologist to get a message to his then-wife, Carol McCain, and provided her address in Orange Park, Fla.

"Tell her I'm well," Barral noted McCain saying. "Tell her I wish her all the best and that she shouldn't worry about me."

Though McCain says he did not discuss military matters with Barral, a U.S. commander in the prison later issued an order forbidding U.S. POWs to be interviewed by visitors, McCain wrote in his book. The decision was "a sound one, even though it deprived me of further opportunities to demonstrate 'my psychic equilibrium' to disapproving fraternal socialists, not to mention the extra cigarettes and coffee," McCain wrote.


Barral's interview with the son and grandson of U.S. admirals was considered a huge coup and "newsworthy," according to the 1970 Granma article. The communist party newspaper ran a close-up of McCain's face on its front page.

"I'm not sure if it was for propaganda purposes," Barral said recently of the 1970 interview. "But I accept it if I was an instrument for propaganda."

Barral's life since that flash of celebrity has unspooled like that of many Cubans. He retired with a tiny pension in the mid-1980s and said he barely had enough money to get by until opening his paladar in the mid-1990s.

His family, like those of almost all Cubans, is fractured. One of his sons, Ernesto Barral, became a successful doctor after fleeing the island, making the unsubstantiated claim that he windsurfed to Florida.

Barral said he follows U.S. politics in clippings sent to him from friends and relatives abroad, and has taken a shine to Sen. Barack Obama (D-Ill.) because he "represents change."

"I don't know if McCain would be a good president," Barral said. "And I don't care."

© 2008 The Washington Post Company