5.4.10

Popularidade e consciência coletiva

Gabriel Perissé (1998), pesquisador da FFLCH-USP e fundador da ONG Projeto Literário Mosaico para a formação de escritores, atribui o sucesso de Paulo Coelho ao anseio “pelo retorno ao mundo das tradições, das revelações... [a um] mundo que nos dê uma fé...; ou que nos dê uma vitória sobre o caos.” Ele fala do sucesso do autor em termos de Brasil, mas podemos estender essa conclusão sua ao resto do mundo, uma vez que as razões por ele apontadas para esse sentimento coletivo de volta a um tempo “místico” é o saldo negativo do século XX, em que a humanidade viveu duas guerras mundiais (e aqui eu acrescentaria os conflitos do Oriente Médio), a falência ideológica do comunismo (e da própria democracia, eu diria), a competição selvagem, a radicalização das desigualdades, a violência desenfreada e todo o tipo de desumanidade. Pode-se argumentar que esses problemas não são típicos dos tempos modernos e que a humanidade sempre viveu guerras e crises ideológicas. No entanto, o positivismo do século XIX, que exerceu uma influência notável na filosofia analítica do século XX, nos fez crer no progresso baseado na razão e na ciência. Assim, conviver com as guerras no Oriente Médio, a fome africana, a pandemia da AIDS e o atraso na América Latina e em outras regiões do mundo, por exemplo, parece inadmissível para a humanidade de hoje; não é lógico.

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