17.11.04

NOITE

Resta sempre fugir. Animei-me com o duelo de espadas cegas promovido pela corte. Resta sempre um verso, o vinho, uma dança. Ela era jovem e tinha palavras. Eu tinha medo. Ela tinha poço.
Resta sempre um furacão sem sono. Ainda bem que não é nosso.
Ela era bonita sem deixar de ser feia. Talvez fosse um monstro.
Fui visitar o mar. Visitar meu corpo. Entre eles não há espaço.
O mar estava triste e calmo. O mar estava velho, particularmente velho e indisposto aquela tarde.
A Grécia é o lugar das pirâmides. Das pirâmides e dos astrônomos. Dos soldados e dos fósseis. A Grécia o lugar dos persas. E me vigia o sono.
Vou ler grande sertão. Veredas me espreitam do outro lado.
A noite é verde e todas as noites são verdes. O mundo é um prêmio cínico por suportarmos as horas.
Depois as estações, a rota dos astros, o cosmos.
Impossível a fuga.

André Setti
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