15.12.04

SUMO SENTIMENTO
para J.S.N



amores quentes e amores frios, corações pegajosos e pedras de gelo no meu copo de uísque. como se fosse uma fruta madura demais, o sumo escorre dos meus dedos e suja sua roupa, seu rosto, as costas brancas, deixando a sensação de que algo não está dando certo, sucedida pela fé cega de que tudo é maravilhoso, para depois voltar ao meu eterno pessimismo. uma gangorra maravilhosa, hormonal, sentimental, crua, onde insisto em me balançar com violência, sem medo de quebrar a cabeça no áspero asfalto.

eis um sonho que gostaria de ter: domingo, nós dois numa praia isolada, coqueiros, substantivos, adjetivos, energia solar, ventos marítimos. você pega um caranguejo e mostra para mim, eu o seguro cuidadosamente, ele morde minha mão e arranca um filete de sangue. você se entristece, eu chupo o doce-quente que escorre do meu dedo, esmago o caranguejo e rimos juntos.

corta: (nos meus sonhos os fatos se atropelam como num videoclipe) estamos numa casa de barro com uma cama estreita e dois pratos de feijões bem temperados. comemos e deitamos para descansar, você tira sua roupa e me encara muito séria, deita-se ao meu lado e afaga meu corpo, me ajoelho e começo a chupar o dedão do seu pé.

um cheiro forte invade a casa, começamos a suar, você me pede algo em sussurros, a respiração acelera, dores nas costas, espamos involuntários, gozamos e finalmente eu choro, torrente de lágrima presa há tanto tempo, meu sumo sentimento.

aL nITE lANG

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