14.1.05

O ÚLTIMO CEGO


A Herberto Helder


Dons ateiam-se,
Tateiam-se, afogados
Pelos crimes do medo,
Louvores se espalham
Na periferia das lareiras
Inventadas pelo sono.

Na gesto grave,
Os símbolos e os túneis
Que atravessamos feito lagos,
Sem remo, sem barco,
Apenas com os dons estrangulados
Do nosso engenho
Zunindo verde-tosco,
Eis o sonho em que me perco,
As vozes do silêncio
Zombam de mim, da paisagem,
Pirâmides, serafins
Bailam Vivaldi,
O juiz me pergunta das estrelas
E o último cego, comovido,
Lê as horas em meu corpo.

André Setti

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