26.1.06

Abrigo fácil na augusta, mesmo com asco do azulejo brilhante na parede. Frio contundente, difícil mover as articulações. Principalmente o pulso. Quebrado há poucos meses, a cicatriz óssea parecia trincar com o gelo atmosférico.
Sentados ao fundo, um nervosismo evidente. Abrigo fácil, pensava, mas não sabia que resposta dar pra pergunta antecipada em minha mente.
O carinha de óculos amarelos da mesa em frente pareceu sorrir,cúmplice.
Sair de lá o mais breve possível, tentar esquivar ao máximo das acusações. Seguir em frente e ir dançar no inferninho mais próximo, era o meu objetivo e a única solução.
Senti náuseas ao tentar explicar que, na verdade, os assassinatos tinham se tornado frequentes demais. Não fazia mais sentido ver o sangue jorrar nas calçadas imundas desta cidade cinza. Nem correr em busca de novas esquinas. Nem as luzes e o silêncio da madrugada na consolação. O cansaço venceu. Não há a vontade do cangaço. Acima de tudo, não há mais ilusões arranha-céu, muito menos intenção de voltar.

Território, núcleo, elétrons, planejar nova ação. Não consigo ouvir direito, tenho vontade de rir alto a cada palavra. Meu pulso dói, lá fora é frio e acho melhor não começar uma briga agora. Engulo seco, ajeito o casaco e sarto fora. Sem entender a pergunta, melhor sair sem responder.

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