1.5.04

A INCORPORAÇÃO DO MEDO

Observamos

não apenas o medo,

incorporado aos prédios

que nos abrigam.



Analisamos,

em cada passo,

as reentrâncias

do seu sistema nervoso.



Avistamos, os dois,

O enorme vácuo

(talvez houvesse um fruto

atrás da ponte).



Porém seguimos,

abandonados e medrosos,

sobre a cidade frígida.



Com medo,

compramos caos e presentes,

entregues ao seu destino.



Passeamos em velhos pátios,

trilhos desativados,

casarões e bondes

que não mais circulam.



A cidade cresce de modo vago,

como as dívidas que se arrastam

no ritmo da respiração.



Faísca.

Nem mais nem menos

no relógio da torre.



Meia-noite.



Então, sabendo-me nulo

e não sentindo nada,

torno à casa

no fundo dos olhos.



André Setti
COMENTEM! andre.7@uol.com.br / Assunto: incorporação do medo

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