(top five pessoal, já conhecido deste blog)
17/8/2005
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Ficcões
Regicídio linha-direta
Dezessete de julho de mil novecentos e dezoito. Quatro rifles automáticos e cinco pistolas. Somos nove bolcheviques e aguardamos ansiosamente a hora certa. A Família Real espera numa sala vazia onde sequer há cadeiras, nesta Casa Ipatiev, perto dos Montes Urais. Justiça poética: também chama-se Ipatiev o monastério onde Mikhail Romanov foi coroado em 1613, nos conta o Líder Supremo do Conselho. Ele suspira e lembra, rindo, quando a família Romanov celebrou trezentos anos de poder, em mil novecentos e treze, e um presságio sombrio apavorou os crentes: o quadro da padroeira da família, a Nossa Senhora de São Feodor, escureceu tanto que a imagem quase desapareceu.
O Líder nos dá as instruções finais e as portas da sala são abertas com violência, a família nos encara atônita. O Líder fala algumas palavras burocráticas, “Seus parentes da realeza aqui e no exterior tentam salvá-los, mas o Comitê do Soviete resolveu que vocês serão executados”, o rei grita “O quê?” e olha para o Príncipe Alexei, atiramos todos ao mesmo tempo, o Rei cai no meio da impáfia, a cabeça da Rainha explode numa nuvem de sangue, as Princesas morrem chorando em meio aos tiros, seus corseletes cheios de jóias desviam as balas e os mais exaltados as atacam com culatras e baionetas. O Príncipe adolescente e hemofílico me encara silencioso. Atiro em seu peito, ele cai com os belos olhos azuis arregalados, o Líder se aproxima e descarrega a pistola em seu corpo frágil. Acendemos cigarros. Alguém terá que enterrar os mortos.
Patrick Brock, 26, publicou Velhas Fezes [Edições K, 2004] e Textorama [2005]. Email: brock@atarde.com.br
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