16.3.04

O RANCHO




781b em pessoa.

Trabalho todos os dias nesta obra imunda dos homens. Dois galpões gigantescos abrigam uma cidade animalesca. Através de estações elevadoras, entram rios de forragem, milho e antibióticos. Pelos canos abertos, escapam rios de merda e mijo. A ooteca gigante se mexe com a vida de inúmeros bois e vacas, reses sadias, de olhos vermelhos. Aqui, no Centro Operacional de Alimentação Confinada, moram 36 mil animais. Eles vem de outras fazendas, onde crescem junto a suas mães, com bastante grama. Eu amo cada um deles, até mesmo quando misturo a neomicina e o hormônio em sua comida, para evitar que seus rins explodam com a ácida dieta de milho. A maioria das pessoas não imagina os efeitos que o milho tem nestes animais, herbívoros por evolução biológica. Ele afeta o rúmen, líquido digestivo que abunda em seus estômagos. Graças a ele, e às bacterias que nele proliferam, a celulose, o sumo e o caldo do mato viram nutrientes. E os ossos sempre voltam para nós, são triturados, viram farelo nutritivo e canibalizamos o ciclo alimentar.

Hoje senti um remorso muito grande de tudo. Estava sentado, sobre uma das plataformas elevadas que nos permitem vigiar o rebanho de cima. O galpão oprimia as vacas, forçadas por superlotação a cheirar o cu dos outros animais o tempo todo. Cansadas e obesas, elas mastigam e cagam sem parar, lacrimejam irritadas, tudo por causa da fuligem e da merda que seus cascos mantém em suspensão no ar. Amanhã trarei meu rifle e será uma coisa bela, olhar os animais caindo, livres de tudo, os rios vão parar de fluir e eu terei um verdadeiro e libertador objetivo de vida.

Coloco minhas botas especiais e vou até as vacas. Perto do chão, o ar tem cheiro de mijo e morte. Encontro a minha preferida, 781b. Ela me olha absorta, mastigando sem parar. Tento a penetrar, ela escapa de minha mão, meu pau duro busca seu cu. Continuo tentando até gozar, tirando um mugido da 781b. Volto para a plataforma, estou só, é o turno da noite e meus olhos também estão vermelhos, cheiro a mijo e milho.

Patrick Brock

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