"O que acontece verdadeiramente, o que nós vivemos, o resto, onde está? O que acontece todos os dias, o que volta todos os dias, o banal, o cotidiano, o evidente, o comum, o ordinário, o infra-ordinário, o barulho de fundo, o habitual, como dar conta disso, como o interrogar, como o descrever?"
"Como falar das 'coisas comuns', como perseguí-las melhor, como tirá-las de seus esconderijos, arrancá-las da gangue na qual elas estão enganchadas, como lhes dar um sentido, uma língua: que elas falem enfim daquilo que são, daquilo que somos."
"Interrogar aquilo que de tanto parecer andar sozinho nós esquecemos sua origem. Reencontrar alguma coisa da surpresa que podiam experimentar Julio Verne ou seus leitores ao se deparar com um aparelho capaz de reproduzir ou transportar os sons. Pois ela existiu, essa surpresa, e milhares de outras, e foram elas que nos modelaram."
(trechos de L'infra-ordinaire, de Georges Perec, em tradução de Hermano Vianna)
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