5.3.04

O filho pródigo




Então estou de volta. Aspiro o ar puro, com cheiro de mar e morte. Na minha velha casa, pouca coisa mudou, exceto pelos novos apetrechos tecnológicos instalados pela Viúva. Com o auxílio de multicâmeras e multiprocessadores, posso conversar com o mundo todo sem sair da minha cadeira velha e malcheirosa. E de que adianta isso? We suck young blood, milhares de imagens passando pela minha frente num clique do maravilhoso mouse.

Aqui, no litoral, as coisas parecem mais dignas e imutáveis. Aqui, tenho uma vida fixa e não muito alegre, feita de corações sangrando e artérias partidas. O telefone tocou, era uma voz familiar, sinto falta de quem não está mais ao meu lado. Lembro de Bolla vivendo pacíficamente, agarrado com sua médica particular, o olhar doce e tenro que os dois trocam quando estão juntos e se beijam, apaixonados. Ela passa seus dedos medicinais e precisos em seu cabelo, com a força curativa de alguém que ama.

Ou então lembro do valente Homem-Gabiru, labutando eternamente entre paulistas competentes. O Terminal cardíaco é seu local de trabalho, uma conurbação de mísseis velozes e leucócitos apressados. Quando nos vimos pela última vez, um ônibus soltava fumaça oleosa sobre nós, eu quase sufocado, ele atarefado. A palavra de ordem hoje é Azitromicina.

Al Nite Lang


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